FILME BLOODMONEY: UMA DISTORÇÃO DA REALIDADE RACISTA DA CRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO

texto de panfleto produzido para protestar contra a exibição do filme “Blood Money, aborto Legalizado” que afirma que a legalização do aborto faz parte de uma conspiração para dizimar a população negra. O filme foi produzido por setores conservadores nos Estados Unidos e exibido no Brasil recentemente. O panfleto desmistifica a idéia do filme de que a legalização do aborto é racista. Pelo contrário, maiores vítimas de abortos clandestinos terminados em complicações reprodutivas e sexuais ou morte é a população negra e pobre.

noticia_394345_img1_cartaz-blood-30.09“As características mais comuns das mulheres que fazem o primeiro aborto é a idade até 19 anos, a cor negra e com filhos”

 

“Dez mulheres informaram ter abortado sozinhas e sem auxílio, quase todas eram negras, com baixa escolaridade e quatro delas mais jovens que 21 anos”.

“O aborto é comum entre mulheres de todas as classes sociais, cuja prevalência aumenta com a idade, com o fato de ser da zona urbana, ter mais de um filho e não ser da raça branca”.

 

“A esmagadora maioria de mortes por aborto registradas no SUS são de mulheres negras, pobres, muitas vezes já mães de família, e chefes de família.

A OMS afirma: uma mulher morre a cada dois dias no Brasil. Entre as causas está o aborto clandestino

 

“Um milhão de abortos são realizados no Brasil a cada ano, com 250 mil internações por complicações do procedimento.”


“22% das mulheres brasileiras de 35 a 39 anos, residentes em áreas urbanas, já fizeram aborto.”

Aborto legal, seguro e gratuíto é uma questão de saúde pública!

Proibir e criminalizar não impede que siga acontecendo. Apenas expõe mulheres a vulnerabilidade, e a prática clandestina e insegura, decorrendo daí muitas mortes por procedimentos mal sucedidos. A desigualdade social afeta o acesso à prevenção da gravidez e também a qualidade do aborto. No Brasil 70% da população pobre é afrodescendente, por conta da história de escravização. Logo quem mais paga o preço da criminalização do aborto é a juventude negra feminina, contribuindo para o que se chama “genocídio da juventude negra”.

São as mulheres negras que sofrem maior desassistência à saúde e menor acesso a direitos reprodutivos. Soma-se a isso, o racismo institucional de boa parte dos hospitais públicos, as mulheres negras que chegarem a um hospital em decorrência de um aborto mal sucedido, que é mais provável que ocorra para essa população que possui menor acesso a recursos financeiros e médicos ou a informação sobre saúde e educação sexual, mulheres negras sofrem muito maltrato por médicos e violências reprodutivas, sendo a população que também apresenta maior risco de mortalidade materna.

O conservadorismo sob o qual é constituído o Sistema de Saúde no Brasil impede que as unidades ofereçam um tratamento humanizado para mulheres que praticam aborto clandestino. Não é incomum ouvir casos de equipamentos deixados propositalmente nos úteros de mulheres que abortaram, para castigá-las pelo ato, além de outros constrangimentos físicos e morais aos quais estas mulheres estão suscetíveis.

Quem tem poder econômico paga, e muito bem, pelo aborto em clínicas clandestinas. São as mulheres pobres que morrem devido ao aborto mal feito.

Não podemos culpabilizar as mulheres que realizam abortos porque não existe verdadeiro acesso a informação e educação sexual e tampouco a assistẽncia em saúde. Nas relações entre homens e mulheres numa sociedade machista as mulheres possuem menor poder de negociação e decisão, nem sempre podendo se cuidar adequadamente em suas práticas sexuais.

Portanto a ilegalidade do aborto é que leva ao extermínio e criminalização da juventude negra, e não sua realização, constituindo mais uma das manifestações de racismo da sociedade brasileira.

EDUCAÇÃO SEXUAL PARA DECIDIR
MEIOS CONTRACEPTIVOS PARA NÃO ABORTAR
ABORTO LEGAL PARA NÃO MORRER

fontes:

  • Mulheres pobres e negras são as mais prejudicadas pela ilegalidade do aborto, 22/08/2011
  • Mulheres negras e pobres são mais vulneráveis ao aborto com risco, mostra dossiê. 24/06/20
  • Legalizar o aborto no Brasil pelo combate ao genocídio da população negra, por Marcha Mundial das Mulheres, 25 de Setembro de 2013.

mais infos:

o aborto é um negócio nos estados unidos
porque todo o sistema de saúde lá é privado. o modelo que defendemos é de
aborto legal realizado pelo SUS. esse modelo é muito mais próximo do de
portugal, onde comprovadamente o número de abortos diminuiu depois da
legalização. isso porque as mulheres tiveram mais acesso à informação, e em
vez de uma atitude desesperada, a interrupção da gravidez se tornou uma
opção consciente.