Como Ser uma Aliada Eficaz para Grupas Oprimidas*:

  • Eduque-se sobre as questões desta grupa oprimida. Você é perfeitamente capaz de se educar, e fazer isso é responsabilidade SUA. Nenhuma pessoa de um grupo oprimido tem a OBRIGAÇÃO de responder seus questionamentos; para isso existe a internet e o google, e o que não falta é gente tentando teorizar as opressões que sofrem por ai. Pare, pesquise, se informe. Tirar as dúvidas com essas pessoas é perfeitamente normal, desde que você peça com educação e sem exigir dessas pessoas suas resposta. Também não assuma porque você leu vários livros ou artigos que você sabeTUDO QUEPARA SE SABER sobre uma opressão; adivinha? Você não sabe. Se você não faz parte de um grupo oprimido mas quer ser uma aliada, esteja ciente que sua caminhada será de educação constante e que você será chamado atenção por suas posições ou ações frequentemente. Tente se manter informado sobre os eventos atuais que envolvem as questões destes grupos e não tenha medo de tirar dúvidas, desde que o faça de forma respeitosa.
  • Mostre seus apoio por meio da ação. Frequente os eventos e manifestações, ou seja voluntária para ajudar com estes. Simplesmente esteja envolvida. Não se foque somente em falar sobre o assunto. [1]
  • Tente ativamente desafiar e destruir os estereótipos que as pessoas talvez tenham sobre grupos de pessoas diferentes delas, e isso inclui discurso preconceituoso do dia, como comentários depreciativos e piadas ofensivas. Lembre-se que o seu silêncio tolera e reforça a injustiça.
  • Confronte declarações e estruturas opressivas, bem como os pressupostos por trás delas.
    Examine o efeito que diferentes identidades e experiências têm nas vidas e no desenvolvimentos de pessoas e povos. Identifique como raça, religião, classe, gênero, orientação sexual e tantas outras formas de identidade moldam nossas vidas. Não confunda diferentes experiências de opressão. Lembre-se de que ser oprimido por um fator não significa que você saiba como é ser oprimido por outros fatores.
  • NÃO TOKENIZE OU PADRONIZE indivíduos de diferentes grupos. Não queira nem presuma que um indivíduo parte de um certo grupo fale por todas as pessoas daquele grupo. Nem o grupo mais homogêneo pode prover uma homogeneidade de histórias de vida nem de opiniões. Cada pessoa tem sua forma pessoal de enxergar o mundo e a opressão que sofre e isso não pode ser ignorado.
  • Não tente falar por um grupo inteiro, mesmo quando você faz parte dele, e especialmente se você não faz. Fale por você e transmita suas próprias esperiências. Não há problema em dizer quando você não sabe a resposta ou como responder algo.Ter um amigo parte de determinado grupo não faz de você uma aliada, mudança de pensamento de de ação fazem. Não tokenize seus amigos e nem tente usá-los como “prova” de seu apoio a uma causa. Não tente ser um expert em uma situação só porque você conhece alguém que vive aquilo. “Mas meu melhor amigo é gay/negro/etc/etc.etc.” Não. Pare com isso.
  • NÃO FALE POR UM GRUPO – ajude a abrir espaço para que eles falem por si mesmos. Ofereça seu apoio, ouça o que eles querem, precisam, o que estão tentando fazer, e os ajude a fazê-lo. Nunca presuma que você sabe o que é melhor para um grupo do qual você não faz parte.
  • Esteja preparada para cometer erros. Nós todas cometemos. Transforme seus erros em aprendizado e continue tentando até acertar.
  • Aceite-se como parte de um grupo privilegiado, mesmo sendo um aliada. Não é porque você se levanta em favor de grupos oprimidos que você deixa de ter os privilégios do grupo privilegiado/opressor do qual faz parte. Você ainda tem poder de opressão sobre aquele grupo, e tem de estar ciente disso para poder não se utilizar de tal poder de opressão. Tentar  minimizar seus privilégios ou se sentir culpado por eles não vai ajudar ninguém. Em vez disso, aceite seus privilégios e os utilize para prover voz e poder social para as pessoas que talvez não conseguiriam ter acesso a eles de outra forma.
  • Prepare-se para uma jornada de mudança de crescimento que virá ao aprender a ser um aliada. Este pode ser um processo doloroso e esclarecedor que irá ajudá-lo a conhecer-se melhor. No entanto, pode ser difícil de reconhecer tanto as áreas onde você é oprimido quanto as áreas onde detêm privilégio. Esteja aberto a críticas.
  • Confronte seus próprios medos, memórias e sentimentos ruins sobre membros de um certo grupo. Lembre-se e libere esses sentimentos, assim diminuindo a influência deles sobre você. Desafie os preconceitos e estereótipos que você aprendeu com a sociedade.
  • Não presuma que você sabe sobre o que é um certo grupo. Não pessuma que todos os membros de um grupo são o mesmo, que se portam ou que pensam da mesma forma, bem como que só existe uma única maneira de fazer parte daquele grupo. Esteja ciente e celebre a diversidade dentro das comunidades. Cada pessoa é expert em suas próprias experiências. Trate todos com respeito e como indivíduos.
  • Encorage e permita a discordância e o debate. Questões sobre qualquer grupa oprimida são frequentemente confusas ou carregadas de significado. Se não ouver nenhuma discordância, isso provavelmente significa que as pessoas estão se sentindo acanhadas ou amedontradas ao ponto de esconder seus sentimentos e pontos de vista. Mantenha as discordâncias e as dicussões focadas em princípios e nas questão ao invés de em indivíduos, e mantenha o debate sempre respeitoso.
  • E acima de tudo, escute. Aprenda. Entenda. Respeite. E ajude outras pessoas a fazerem o mesmo, para que todas possamos entender e apreciar umas às outras por todas as suas qualidades únicas que fazem parte de quem elas são.

(***)

* Mudei deliberadamente o genero neutro para feminino em muitas partes do texto para forçar a reflexão intra-gênero, e não inter-gênero, para mulheres pensarem as diferenças entre mulheres nos espaços feministas e lidar com isso.

 

[1] também, se as pessoas desta grupa oprimida não quiserem sua participação, como é o caso de espaços exclusivos de mulheres negras ou lésbicas, é sua obrigação respeitar a não necessidade de você nem a limitação de seu acesso a esses espaços de auto-organização e autoconsciência de grupas específicas.
Por meio da ação: você pode traduzir, editar e disponibilizar materiais sobre questões de negras, lésbicas, discapacitadas, imigrantes, indígenas, idosas, etc….

FILME BLOODMONEY: UMA DISTORÇÃO DA REALIDADE RACISTA DA CRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO

texto de panfleto produzido para protestar contra a exibição do filme “Blood Money, aborto Legalizado” que afirma que a legalização do aborto faz parte de uma conspiração para dizimar a população negra. O filme foi produzido por setores conservadores nos Estados Unidos e exibido no Brasil recentemente. O panfleto desmistifica a idéia do filme de que a legalização do aborto é racista. Pelo contrário, maiores vítimas de abortos clandestinos terminados em complicações reprodutivas e sexuais ou morte é a população negra e pobre.

noticia_394345_img1_cartaz-blood-30.09“As características mais comuns das mulheres que fazem o primeiro aborto é a idade até 19 anos, a cor negra e com filhos”

 

“Dez mulheres informaram ter abortado sozinhas e sem auxílio, quase todas eram negras, com baixa escolaridade e quatro delas mais jovens que 21 anos”.

“O aborto é comum entre mulheres de todas as classes sociais, cuja prevalência aumenta com a idade, com o fato de ser da zona urbana, ter mais de um filho e não ser da raça branca”.

 

“A esmagadora maioria de mortes por aborto registradas no SUS são de mulheres negras, pobres, muitas vezes já mães de família, e chefes de família.

A OMS afirma: uma mulher morre a cada dois dias no Brasil. Entre as causas está o aborto clandestino

 

“Um milhão de abortos são realizados no Brasil a cada ano, com 250 mil internações por complicações do procedimento.”


“22% das mulheres brasileiras de 35 a 39 anos, residentes em áreas urbanas, já fizeram aborto.”

Aborto legal, seguro e gratuíto é uma questão de saúde pública!

Proibir e criminalizar não impede que siga acontecendo. Apenas expõe mulheres a vulnerabilidade, e a prática clandestina e insegura, decorrendo daí muitas mortes por procedimentos mal sucedidos. A desigualdade social afeta o acesso à prevenção da gravidez e também a qualidade do aborto. No Brasil 70% da população pobre é afrodescendente, por conta da história de escravização. Logo quem mais paga o preço da criminalização do aborto é a juventude negra feminina, contribuindo para o que se chama “genocídio da juventude negra”.

São as mulheres negras que sofrem maior desassistência à saúde e menor acesso a direitos reprodutivos. Soma-se a isso, o racismo institucional de boa parte dos hospitais públicos, as mulheres negras que chegarem a um hospital em decorrência de um aborto mal sucedido, que é mais provável que ocorra para essa população que possui menor acesso a recursos financeiros e médicos ou a informação sobre saúde e educação sexual, mulheres negras sofrem muito maltrato por médicos e violências reprodutivas, sendo a população que também apresenta maior risco de mortalidade materna.

O conservadorismo sob o qual é constituído o Sistema de Saúde no Brasil impede que as unidades ofereçam um tratamento humanizado para mulheres que praticam aborto clandestino. Não é incomum ouvir casos de equipamentos deixados propositalmente nos úteros de mulheres que abortaram, para castigá-las pelo ato, além de outros constrangimentos físicos e morais aos quais estas mulheres estão suscetíveis.

Quem tem poder econômico paga, e muito bem, pelo aborto em clínicas clandestinas. São as mulheres pobres que morrem devido ao aborto mal feito.

Não podemos culpabilizar as mulheres que realizam abortos porque não existe verdadeiro acesso a informação e educação sexual e tampouco a assistẽncia em saúde. Nas relações entre homens e mulheres numa sociedade machista as mulheres possuem menor poder de negociação e decisão, nem sempre podendo se cuidar adequadamente em suas práticas sexuais.

Portanto a ilegalidade do aborto é que leva ao extermínio e criminalização da juventude negra, e não sua realização, constituindo mais uma das manifestações de racismo da sociedade brasileira.

EDUCAÇÃO SEXUAL PARA DECIDIR
MEIOS CONTRACEPTIVOS PARA NÃO ABORTAR
ABORTO LEGAL PARA NÃO MORRER

fontes:

  • Mulheres pobres e negras são as mais prejudicadas pela ilegalidade do aborto, 22/08/2011
  • Mulheres negras e pobres são mais vulneráveis ao aborto com risco, mostra dossiê. 24/06/20
  • Legalizar o aborto no Brasil pelo combate ao genocídio da população negra, por Marcha Mundial das Mulheres, 25 de Setembro de 2013.

mais infos:

o aborto é um negócio nos estados unidos
porque todo o sistema de saúde lá é privado. o modelo que defendemos é de
aborto legal realizado pelo SUS. esse modelo é muito mais próximo do de
portugal, onde comprovadamente o número de abortos diminuiu depois da
legalização. isso porque as mulheres tiveram mais acesso à informação, e em
vez de uma atitude desesperada, a interrupção da gravidez se tornou uma
opção consciente.