Ato de Sororidade a Yakiri em São Paulo, presa por se defender de agressor sexual

Segunda, 24 de março às 11:00
Rua Holanda, 274. Jardim Europa – CEP 01446-030 – São Paulo/SP

mexico(3)No dia 9 de dezembro de 2013 Yakiri Rubí Rubio Aupart, uma jovem lésbica de 20 anos e de origem indígena da Cidade do México, DF, reagiu a uma brutal violência: sequestro seguido de estupro e tentativa de assassinato, perpetrada pelos agressores Luis Omar y Miguel Ángel Ramírez Anaya. Yakiri conseguiu desarmar um dos agressores que empunhava a faca que era utilizada para ameaçá-la, subjulgá-la e torturá-la e com a mesma arma conseguiu desferir um golpe em um deles, que, em consequência, acabou morrendo.

Yakiri conseguiu fugir e procurou a delegacia de polícia. Quando chegou lá foi surpreendida com a presença de um dos estupradores que lhe acusava de matar seu comparsa. E qual foi a reação da polícia? Proceder a exames de corpo de delito para tentar iniciar um processo que pudesse levar a Yakiri uma sensação de justiça? Não. A polícia, um dos braços repressivos mais eficazes em incutir nos nossos corpos de mulheres, lésbicas e pessoas trans as normas do heteropatriarcado, achou por bem indiciar a Yakiri por homicídio qualificado.

Deu-se início a toda uma série de trâmites dos sistemas de burocracia jurídica misóginos e lesbófobicos que só fizeram repetir uma e outra vez a violência da qual Yakiri logrou sobreviver. No final, Yaki foi enviada à prisão por “uso excessivo de autodefesa” e de onde só saiu depois de 86 dias e sob uma fiança exorbitante de 430 mil pesos mexicanos (o equivalente a 5 mil salários mínimos), preço que lhe obrigaram a pagar para aguardar o julgamento em “liberdade”.

O sistema jurídico e repressivo nesse caso mais uma vez atuou como parte de uma grande engrenagem de castigo que se debruçou sobre Yakiri assim como se debruça sobre cada uma de nós que ousa sair do espaço de submissão a nós reservado. Yakiri se defendeu, conseguiu não ser morta e lutou contra o destino que lhe traçaram: do estupro como castigo por sapatão e insubmissa e do feminicídio como assassinato político. Para essa gigantesca forma de opressão e repressão nos defender do abuso, da invasão dos nossos corpos e da aniquilação política é abusivo. É abuso de legitima defesa. E nesse sentido perguntamos: pode a autodefesa ser abusiva?

Yakiri foi sequestrada e violada por agressores machistas. Depois foi sequestrada e violada pelo estado porque as prisões não são nada mais do que a institucionalização do sequestro e da violação, a materialização brutal de violências heteropatriarcais, racistas e classistas. Por isso dizemos que esse sistema de justiça não é o nosso. Nunca poderemos obter justiça de instituições cujo objetivo é nos manter dóceis e sob controle para que privilégios heteropatriarcais possam seguir existindo. Contra a agressão machista, autodefesa feminista!
Por todas as mulheres, lésbicas e pessoas trans que sucumbiram nas ensanguentadas mãos do heteropatriarcado e que pagaram com suas vidas, com seus sonhos, ou que foram encerradas detrás das grades das prisões. Por todas as que resistiram e por todas as que resistimos.

Dizemos mais uma vez:
Nenhuma agressão sem resposta!
Nem uma morta a mais!
Abaixo os muros de todas as prisões, tanto as físicas e como as simbólicas!

#YakiLibre
#YakiriLibre

Coletiva amazonas em fúria

Mais info:
http://yakilivre.noblogs.org/post/2014/03/19/yakiri-livre/

https://rizoma.milharal.org/2014/02/10/eu-teria-feito-o-mesmo-campanha-pede-libertacao-de-mexicana-presa-por-matar-seu-estuprador/

ante-la-violencia-1024x837

feministas autonomas mexicanas se manifestam nas ruas pela liberdade de yakiri. Fonte http://lahoguera.confabulando.org

Neste 8 de março, queremos o fim da exploração sexual das mulheres!

IMG_20140308_100035_874_zps1dca2498

panfleto distribuído por Comitê de Abolição da Prostituição, na marcha de 8 de março em São Paulo

Mulher não é mercadoria! Pela abolição da prostituição!
(Para ter acesso ao formato panfleto, clique aqui)

O projeto de lei Gabriela Leite do deputado Jean Wyllys (PSOL), se aprovado, legalizará a prostituição. Embora haja um mito de que a legalização beneficia as mulheres em situação de prostituição, na realidade a legalização só beneficia os cafetões e os consumidores.
Esse projeto considera que a prostituição é um trabalho que algumas mulheres escolhem livremente. No entanto, a voluntariedade dessa escolha não é real, uma vez que essas mulheres entram na prostituição por necessidades financeiras, por terem aprendido a ver seus próprios corpos como mercadoria ou por terem sido forçadas por um terceiro. É inaceitável que a prostituição seja equiparada a qualquer “prestação de serviços”. Ela é intrinsecamente uma apropriação do corpo das mulheres pelos homens, uma violência condizente com toda a exploração da sociedade patriarcal e capitalista em que vivemos.
Com a proximidade dos Megaeventos (Copa do Mundo e Olimpíadas), é grande a pressão para que esse projeto seja aprovado. Insistindo numa falsa diferenciação entre prostituição e exploração sexual, o PL de Jean Wyllys visa facilitar o lucro dos cafetões durante esses períodos de grande procura por turismo sexual. Além de não dispor sobre formas de garantir a segurança das mulheres em situação de prostituição, a justificativa do projeto dá a entender que o tráfico sexual seria uma demonstração de ‘solidariedade’ (!) e propõe alterações no atual Código Penal, que considera crime manter casas de prostituição.
Devemos pressionar para que o governo pense nos interesses das mulheres e não no lucro dos cafetões ou na comodidade dos consumidores!
Defendemos um modelo abolicionista da prostituição:

1. Nenhuma criminalização às mulheres em situação de prostituição. Por políticas que promovam a saída das mulheres da prostituição e da marginalização social.

2. Por uma lei que criminalize a compra de qualquer ato sexual. Pela responsabilização e criminalização do consumo de sexo.

3. Por mais fiscalização e pela criminalização de qualquer forma de agenciamento, controle ou aliciamento na prostituição. Pela criminalização da cafetinagem, das casas de prostituição e das redes de tráfico sexual.

4. Por mais políticas sociais voltadas para as mulheres, por equiparidade salarial entre homens e mulheres e por políticas e campanhas de prevenção à prostituição.

http://comiteabolicaoprostituicao.wordpress.com/

por que as meninas que foram molestadas se silenciam?

Por Coletivo Artemisia

“Por gue as meninas que foram molestadas, abusadas sexualmente ou mesmo estupradas raramente, ou nunca, falam sobre isso? Não falam pela mesma razão que silenciam as pessoas que foram irremediavelmente humilhadas e envergonhadas e que não tem nenhuma proteção ou validaçāo sobre suas integridades pessoais. Como a mulher estuprada, a menina violentada pode não ser acreditada (ela fantasiou ou inventou a historia), seu dano pode ser minimizado (não houve nenhum prejuízo, vamos, então, esquecer o assunto) e pode até mesmo ser responsabilizada pelo crime (a garota estava pedindo isso). A criança adquire auto—estima e confiança a partir do valor dado a ela pelos adultos em quem confia e de quem depende. Contudo, a menina explorada sexualmente faz surgir uma reação necessária para promover uma identidade positiva. Sem receber apoio para seu direito de ser protegida, ficar zangada ou expressar uma indignação justificada, sente que só merece ser usada sexualmente. Revelar um incidente é expor sua insignificância. Contar para alguém é desmoralizar-se diante de si mesma e dos outros. A vitima infantil não tem outro recurso além de sepultar, esconder e tentar esquecer a experiência. Mas a humilhação não desaparecerá. Ela infecciona, envenena e corroí seu ser. Quando o ultraje permanece encoberto, sem resposta e incontestado, a sexualidade, a própria biologia da criança ofendida, passa a ser uma vergonha para ela. Esta síndrome destrutiva não surge do nada. Suas origens estão em antigas tradições e costumes que, por sua vez, estão escritos na Historia, na religião, na lei e nos poderosos e influentes meios de comunicação atuais. No inicio da Civilização ocidental, a mulher, assim como a casa, o boi e o asno, eram propriedades do homem. Específicamente, ela era uma propriedade sexual cuja única funçāo era fornecer filhos e prazer, e seu valor era determinado pela compensação que pudesse trazer como reprodutora ou prostituta. Esta é a degradante herança que legamos a nossas meninas. O abuso sexual de garotinhas baseia-se na suposta inferioridade delas. Elas podem ser usadas sexualmente porque pertencem a alguém, são imperfeitas biologicamente, ou agem de forma sedutora. Simultaneamente degradadas e definidas por sua sexualidade, são coagidas em um sistema infalível de chantagem emocional. Se forem violentadas, a conceituação culturalmente imposta de sua sexualidade transformam―nas em culpadas. Qualquer tentativa, por parte da menina, para revelar seu estuprador também expõe sua alegada inferioridade e motivações sexuais, e traz

vergonha para ela e não para o culpado. O segredo é a única alternativa. Mas, nos como mulheres, começamos a refutar a educação que recebemos e que nos define como inferiores, e não permitiremos mais ser chantageadas e coagidas. Agora acusamos nossos criminosos. Eles são os culpados. A lição que devemos tirar de seus relatos é a de proteger e acreditar na integridade de nossas crianças e a de aprender a quebrar o silêncio que as ameaça.”

FILME BLOODMONEY: UMA DISTORÇÃO DA REALIDADE RACISTA DA CRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO

texto de panfleto produzido para protestar contra a exibição do filme “Blood Money, aborto Legalizado” que afirma que a legalização do aborto faz parte de uma conspiração para dizimar a população negra. O filme foi produzido por setores conservadores nos Estados Unidos e exibido no Brasil recentemente. O panfleto desmistifica a idéia do filme de que a legalização do aborto é racista. Pelo contrário, maiores vítimas de abortos clandestinos terminados em complicações reprodutivas e sexuais ou morte é a população negra e pobre.

noticia_394345_img1_cartaz-blood-30.09“As características mais comuns das mulheres que fazem o primeiro aborto é a idade até 19 anos, a cor negra e com filhos”

 

“Dez mulheres informaram ter abortado sozinhas e sem auxílio, quase todas eram negras, com baixa escolaridade e quatro delas mais jovens que 21 anos”.

“O aborto é comum entre mulheres de todas as classes sociais, cuja prevalência aumenta com a idade, com o fato de ser da zona urbana, ter mais de um filho e não ser da raça branca”.

 

“A esmagadora maioria de mortes por aborto registradas no SUS são de mulheres negras, pobres, muitas vezes já mães de família, e chefes de família.

A OMS afirma: uma mulher morre a cada dois dias no Brasil. Entre as causas está o aborto clandestino

 

“Um milhão de abortos são realizados no Brasil a cada ano, com 250 mil internações por complicações do procedimento.”


“22% das mulheres brasileiras de 35 a 39 anos, residentes em áreas urbanas, já fizeram aborto.”

Aborto legal, seguro e gratuíto é uma questão de saúde pública!

Proibir e criminalizar não impede que siga acontecendo. Apenas expõe mulheres a vulnerabilidade, e a prática clandestina e insegura, decorrendo daí muitas mortes por procedimentos mal sucedidos. A desigualdade social afeta o acesso à prevenção da gravidez e também a qualidade do aborto. No Brasil 70% da população pobre é afrodescendente, por conta da história de escravização. Logo quem mais paga o preço da criminalização do aborto é a juventude negra feminina, contribuindo para o que se chama “genocídio da juventude negra”.

São as mulheres negras que sofrem maior desassistência à saúde e menor acesso a direitos reprodutivos. Soma-se a isso, o racismo institucional de boa parte dos hospitais públicos, as mulheres negras que chegarem a um hospital em decorrência de um aborto mal sucedido, que é mais provável que ocorra para essa população que possui menor acesso a recursos financeiros e médicos ou a informação sobre saúde e educação sexual, mulheres negras sofrem muito maltrato por médicos e violências reprodutivas, sendo a população que também apresenta maior risco de mortalidade materna.

O conservadorismo sob o qual é constituído o Sistema de Saúde no Brasil impede que as unidades ofereçam um tratamento humanizado para mulheres que praticam aborto clandestino. Não é incomum ouvir casos de equipamentos deixados propositalmente nos úteros de mulheres que abortaram, para castigá-las pelo ato, além de outros constrangimentos físicos e morais aos quais estas mulheres estão suscetíveis.

Quem tem poder econômico paga, e muito bem, pelo aborto em clínicas clandestinas. São as mulheres pobres que morrem devido ao aborto mal feito.

Não podemos culpabilizar as mulheres que realizam abortos porque não existe verdadeiro acesso a informação e educação sexual e tampouco a assistẽncia em saúde. Nas relações entre homens e mulheres numa sociedade machista as mulheres possuem menor poder de negociação e decisão, nem sempre podendo se cuidar adequadamente em suas práticas sexuais.

Portanto a ilegalidade do aborto é que leva ao extermínio e criminalização da juventude negra, e não sua realização, constituindo mais uma das manifestações de racismo da sociedade brasileira.

EDUCAÇÃO SEXUAL PARA DECIDIR
MEIOS CONTRACEPTIVOS PARA NÃO ABORTAR
ABORTO LEGAL PARA NÃO MORRER

fontes:

  • Mulheres pobres e negras são as mais prejudicadas pela ilegalidade do aborto, 22/08/2011
  • Mulheres negras e pobres são mais vulneráveis ao aborto com risco, mostra dossiê. 24/06/20
  • Legalizar o aborto no Brasil pelo combate ao genocídio da população negra, por Marcha Mundial das Mulheres, 25 de Setembro de 2013.

mais infos:

o aborto é um negócio nos estados unidos
porque todo o sistema de saúde lá é privado. o modelo que defendemos é de
aborto legal realizado pelo SUS. esse modelo é muito mais próximo do de
portugal, onde comprovadamente o número de abortos diminuiu depois da
legalização. isso porque as mulheres tiveram mais acesso à informação, e em
vez de uma atitude desesperada, a interrupção da gravidez se tornou uma
opção consciente.