FILME BLOODMONEY: UMA DISTORÇÃO DA REALIDADE RACISTA DA CRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO

texto de panfleto produzido para protestar contra a exibição do filme “Blood Money, aborto Legalizado” que afirma que a legalização do aborto faz parte de uma conspiração para dizimar a população negra. O filme foi produzido por setores conservadores nos Estados Unidos e exibido no Brasil recentemente. O panfleto desmistifica a idéia do filme de que a legalização do aborto é racista. Pelo contrário, maiores vítimas de abortos clandestinos terminados em complicações reprodutivas e sexuais ou morte é a população negra e pobre.

noticia_394345_img1_cartaz-blood-30.09“As características mais comuns das mulheres que fazem o primeiro aborto é a idade até 19 anos, a cor negra e com filhos”

 

“Dez mulheres informaram ter abortado sozinhas e sem auxílio, quase todas eram negras, com baixa escolaridade e quatro delas mais jovens que 21 anos”.

“O aborto é comum entre mulheres de todas as classes sociais, cuja prevalência aumenta com a idade, com o fato de ser da zona urbana, ter mais de um filho e não ser da raça branca”.

 

“A esmagadora maioria de mortes por aborto registradas no SUS são de mulheres negras, pobres, muitas vezes já mães de família, e chefes de família.

A OMS afirma: uma mulher morre a cada dois dias no Brasil. Entre as causas está o aborto clandestino

 

“Um milhão de abortos são realizados no Brasil a cada ano, com 250 mil internações por complicações do procedimento.”


“22% das mulheres brasileiras de 35 a 39 anos, residentes em áreas urbanas, já fizeram aborto.”

Aborto legal, seguro e gratuíto é uma questão de saúde pública!

Proibir e criminalizar não impede que siga acontecendo. Apenas expõe mulheres a vulnerabilidade, e a prática clandestina e insegura, decorrendo daí muitas mortes por procedimentos mal sucedidos. A desigualdade social afeta o acesso à prevenção da gravidez e também a qualidade do aborto. No Brasil 70% da população pobre é afrodescendente, por conta da história de escravização. Logo quem mais paga o preço da criminalização do aborto é a juventude negra feminina, contribuindo para o que se chama “genocídio da juventude negra”.

São as mulheres negras que sofrem maior desassistência à saúde e menor acesso a direitos reprodutivos. Soma-se a isso, o racismo institucional de boa parte dos hospitais públicos, as mulheres negras que chegarem a um hospital em decorrência de um aborto mal sucedido, que é mais provável que ocorra para essa população que possui menor acesso a recursos financeiros e médicos ou a informação sobre saúde e educação sexual, mulheres negras sofrem muito maltrato por médicos e violências reprodutivas, sendo a população que também apresenta maior risco de mortalidade materna.

O conservadorismo sob o qual é constituído o Sistema de Saúde no Brasil impede que as unidades ofereçam um tratamento humanizado para mulheres que praticam aborto clandestino. Não é incomum ouvir casos de equipamentos deixados propositalmente nos úteros de mulheres que abortaram, para castigá-las pelo ato, além de outros constrangimentos físicos e morais aos quais estas mulheres estão suscetíveis.

Quem tem poder econômico paga, e muito bem, pelo aborto em clínicas clandestinas. São as mulheres pobres que morrem devido ao aborto mal feito.

Não podemos culpabilizar as mulheres que realizam abortos porque não existe verdadeiro acesso a informação e educação sexual e tampouco a assistẽncia em saúde. Nas relações entre homens e mulheres numa sociedade machista as mulheres possuem menor poder de negociação e decisão, nem sempre podendo se cuidar adequadamente em suas práticas sexuais.

Portanto a ilegalidade do aborto é que leva ao extermínio e criminalização da juventude negra, e não sua realização, constituindo mais uma das manifestações de racismo da sociedade brasileira.

EDUCAÇÃO SEXUAL PARA DECIDIR
MEIOS CONTRACEPTIVOS PARA NÃO ABORTAR
ABORTO LEGAL PARA NÃO MORRER

fontes:

  • Mulheres pobres e negras são as mais prejudicadas pela ilegalidade do aborto, 22/08/2011
  • Mulheres negras e pobres são mais vulneráveis ao aborto com risco, mostra dossiê. 24/06/20
  • Legalizar o aborto no Brasil pelo combate ao genocídio da população negra, por Marcha Mundial das Mulheres, 25 de Setembro de 2013.

mais infos:

o aborto é um negócio nos estados unidos
porque todo o sistema de saúde lá é privado. o modelo que defendemos é de
aborto legal realizado pelo SUS. esse modelo é muito mais próximo do de
portugal, onde comprovadamente o número de abortos diminuiu depois da
legalização. isso porque as mulheres tiveram mais acesso à informação, e em
vez de uma atitude desesperada, a interrupção da gravidez se tornou uma
opção consciente.

Uma discussão sobre o problema da Hostilidade Horizontal

Texto que fala sobre a violência, agressividade e destrutividade que ocorre entre feministas. Faz um análise do fenomeno e propôe que tenhamos condutas e auto-crítica que dêem conta desse problema para cuidar as nossas comunidades e lutar os verdadeiros inimigos.
baixe aqui o pdf

***

Denise Thompson
– Novembro 2003

Este artigo não foi oferecido para publicação ou apresentado verbalmente. Foi escrito em resposta ao pedido de uma amiga sobre minhas próprias idéias sobre a hostilidade horizontal, em um momento em que ela sentia a si mesma lutando com o tipo de coisas discutidas aqui. Eu sei cuando terminei de escrever – março de 1993 – porque eu pûs data.

O termo, ‘hostilidade horizontal’, foi cunhada por Florynce Kennedy, em seu artigo de 1970, ‘Opressão Institucionalizada vs. a Fêmea’, impresso na antologia editada por Robin Morgan, “Sisterhood is Powerful” (“A Sororidade é Poderosa” 1, Penelope, 1992: 60). É um termo que data bem desde o começo da Liberação das Mulheres (seja em US ou onde quer que seu artigo haja sido lido). E se o nome é tão velho quanto a Liberação das Mulheres, o problema é ao menos tão velho, senão mais velho que este.

A Hostilidade Horizontal é uma forma de poder-como-dominação entre e em meio às mulheres. Por isso o melhor contexto a discutir isso é em termos de relações de poder entre mulheres.

O projeto feminista de identificar e desafiar a dominação masculina não significa que somente homens oprimen mulheres, e que mulheres são automaticamente isentas de valores, atitudes e comportamentos supremacistas masculinos, e nunca se comportem mal com outras mulheres. É importante manter em mente o principal inimigo, isto é, a dominação masculina. Mas porque a opressão é institucionalizada, e porque ela constitui o status quo e supostamente o mundo, é sempre muito fácil cair em maneiras impensadas de comportar-se que reforçam padrões de dominação.

De qualquer maneira, porque as mulheres são subordinadas e os homens são dominantes sob condições de supremacia masculina, os padrões de dominação típicos das mulheres são sistematicamente diferentes daqueles de homens, ou seja: são menos diretos, dissimulados, menos visíveis e ativos. O comportamento feminino que reproduz sentidos e valores supremacistas masculinos vai tender também a dar evidência da posição subordinada desde a qual as mulheres estão atuando, muito embora as as ações mesmas envolvam auto-agrandecimento as expensas de outra. Por isso hostilidade horizontal entre e em meio a mulheres tipicamente involve formas de poder-sobre que vêm desde uma posição de debilidade, não de força.

Hostilidade Horizontal pode envolver bullying para submeter alguém que é mais privilegiado em uma hierarquia das relações sociais supremacistas masculinas antes que aquela que acossa. Pode envolver tentativas de destruir a boa reputação de alguém que tem mais acesso aos níveis mais elevados de poder que aquelx que está espalhando o escândalo. Pode envolver tornar alguém responsável da opressão de outra pessoa, mesmo que ela também seja oprimida. Pode envolver demandas invejosas de que outra mulher pare de usar suas próprias habilidades, porque o sucesso de alguém melhor colocado que você mesma ‘faz’ você se sentir inadequada e sem valor. Ou pode envolver tentativas de silenciar criticismo por atacar aquela percebida como fazendo o criticismo. Em termos gerais, envolve percepções confundidas da fonte da dominação, localizando esta em mulheres que não estão comportando-se opressivamente (na medida de que não estão, claro). E isso é inspirado por ódio, aquela primeira força motivadora que mantém o motor da supremacia masculina rodando.

Florynce Kennedy foi direto ao coração da questão quando ela colocou sua discussão da hostilidade horizontal no contexto de consentir na opressão de uma mesma. Ela não estava argumentando que esse ‘consentimento’ era a causa da opressão. Muito embora ela disesse que “não pode haver um sistema realmente tão pervasivo de opressão, como aquele dos Estados Unidos, sem o consentimento d* oprimid*’ (p.492), ela não queria dizer que se parassemos de consentir o mesmo simplesmente desapareceria. Mulheres não consentem estupro, por exemplo, mas isso não há marcadamente diminuido sua ocorrência. Ela estava consciente de que mulheres não eram responsáveis por sua própria subordinação. Ela porém quis apontar que aquela opressão não era somente coagida ou violentamente forçada, mas que uma ordem social opressiva requeria um certo degrau de cumplicidade para sua continuada existência.

A cumplicidade requerida de nós sob condições de supremacia masculina é cumplicidade na ideologia da debilidade feminina. Mulheres devem ser ‘fracas’ para que então homens possam ser ‘fortes’. A força de homens é adquirida às expensas das mulheres. Esse requermento ideológico da fraqueza feminina não vá incontetada mesmo sob as condições do dia-a-dia da realidade falocrática.

Mulheres constantemente resistem a subordinação à homens de maneira a sacar alguma liberdade de ação e influencia própria. Maneiras convencionais de resistir, porém, reinforçam antes de desafiar o status quo. Derrotar o opressor em seu próprio jogo, por exemplo, deixa as regras do mesmo intactas, mesmo quando uma mulher ocupa a posição mais alta na hierarquia. As perspicácias e seduções femininas inflam o ego masculino ao mesmo tempo em que elas conferem as mulheres benefícios a curto-prazo. Lágrimas e tantras, ou frieza e afastamento, podem fazer ele ser mantido sob controle temporariamente, mas ele usualmente possui algum lugar mais para ir uma vez que o mundo é construído em sua própria imagem e semelhança. Mesmo quando uma muher individual maneja derrotar um homem individual ou homens, o que surge não é um relacionamento de igualdade. O papel da mulher ‘dominadora’ é permitido por dentro da forma falocrática de vida, seja como uma maneira de intimidar mulheres a subordinação – a ‘vadia’, a ‘histérica’, a ‘enchedora de saco’, a ‘fêmea castradora’ – ou como uma form de erotizar culpa masculina, por exemplo a ‘dominatrix’ no encontro sexual sadomasoquista. Paradoxicalmente a ideologia da fraqueza feminina requere uma grande quantidade de violência para ser mantida. Hostilidade Horizontal é o uso em meio às mulheres dessas técnicas desenvolvidas no contexto de resistencia ao poder masculino. A intenção é induzir a submissão a outra que é percebida como enormemente poderosa, enquanto que, ao mesmo tempo, reforçar a idéia de que mulheres não podem ter poder.

Kennedy mencionava como ‘mulheres sendo utilizadas como agentes para opressores’ (p.493), mas sua discussão sobre hostilidade horizontal, que ela também chamava como ‘descarte’2, era tentadoramente breve. Ela não dava exemploss da ocorrência disso entre feministas. Ela tinha mais a dizer sobre o controle do self, que sobre as maneiras nas quais tentamos controlar umas às outras. ‘Mulher’, ela diz, ‘em sua condição consentual cabeço-lavada frequentemente atuam fora de seu papel de mãe rondante sem nenhuma pressão notada de ninguém. Observe ’notada’ (p. 494). Ela, de qualquer forma, se referia à parte jogada pela ‘hostilidade horizontal’ na ‘demolição … de alguns grupos políticos radicais, e é triste dizer, alguns grupos de liberação de mulheres’ (p.495). Ela sigue adiante para dizer que isso é parte das ‘Técnicas de dividir-e-conquistar do Establishment’:

“Pessoas oprimidas são frequentemente bem opressivas quando primeiramente liberadas. E porque não deveriam ser? Elas sabem bem ambas posições. A bota de alguém no seu pescoço ou a bota del*s no pescoço de alguém… mesmo se est*s se agrupam juntos na atmosfera fria, úmida da sua recém descoberta libertação… mulheres… muitas vezes se chocam umas com as outras antes de aprender a compartir e disfrutar sua recém descoberta liberdade (pp. 495-6).”

Suas sugestões sugeridas são também breve e não-elaboradas. Ela diz:

“Para evitar esses efeitos destrutivos da hostilidade horizontal, as mulheres necessitam um despertar político e/ou social da patologia do oprimido quando confrontadas pelos expertos do ‘dividir-e-conquistar’” (p.495).

Ela também sugere abster-nos de enfuriar-nos com individualidades, e ao invés disso, dirigir nossa raiva a alvos mais apropriados, isto é, sistemas e instituições ao invés de pessoas.

“Chutar o balde” – ela diz, “deveria ser apenas para onde há um balde protegendo o Sistema” (p.499). Esse comentário mostra que ela estava consciente que suas soluções sugeridas eram menos que perfeitas, uma vez que as instituições funcionam por meio de ações, atitudes e compromisso de individualidades. Contudo, suas recomendações servem como um alerta para nós para manter em mente o inimigo principal. E a despeito da brevidade de sua explicação, está claro que ela considerava a hostilidade horizontal como uma forma de ‘poder sobre’ recriado por mulheres contra mulheres, e que essa invariabilidade servia aos interesses do opressor e trabalhava contra os interesses das mulheres. Neste sentido, era uma re-elaboração dos padrões de comportamento dominantes adquiridos como um resultado da participação na realidade falocrática.

Julia Penelope está de acordo substancial com Florynce Kennedy. Ela também vê isso como uma forma de consentimento para opressão. Ela se refere a isso como ‘opressão internalizada’, e descreve como:

“Hostilidade Horizontal é o melhor método do heteropatriarcado para nos manter em ‘nossos devidos lugares’; nós fazemos o trabalho dos homens e suas instituições por eles… (…) ela nos faz direcionar nossa raiva – que surge de nosso estatuto marginal e subordinado no heteropatriarcado e que deveria ser dirigida à nossos opressores – à outras Lésbicas e mulheres, porque sabemos que é mais seguro… Elafunciona para garatir nossa continuada vitimização dentro dos nossos próprios grupos, e nos mantêm silenciadas quando a maioria queremos falar; nos mantêm passivas quando a maiora queria desafiar, porque não queremos ser o alvo da raiva de outra Lésbica.” (Penelope, 1992: 60).

Insultos

Uma das formas de hostilidade horizontal discutidas por Penelope é o ‘chamar de’. Ela diz que o insulto é ‘um substituto medíocre à análise reflexiva’ (p65). Ela pontua que o chamar alguém de algo é fácil. Fácil de fazer, fácil de acreditar e fácil de lembrar, porque, como ela diz, ‘requere absolutamente nenhuma reflexão, nenhuma análise, e nenhuma justificação’ (p.69). Rotular outros com nomes como ‘Nazi’, ‘facista’, ‘racista’, ‘etarista’, ‘classista’, ‘polícia sexual’ 3, ‘puritanas’, ‘moralistas’, etc. é também perigoso se é bem sucedido em conseguir o que isso pretende, isto é, intimidar aquelas etiquetadas em silêncio e parar qualquer desafio ou debate. Aquelas que acreditam que estes nomes dizem algo certo sobre aquelas que foram rotuladas, sem pensar sobre o que essas palavras significam, ou sem perguntar por substância ou evidência, também participam em hostilidade horizontal, mesmo se estas pessoas não são as originais rotuladoras. O xingamento busca destruir a boa reputação daquelas pessoas rotuladas, controlar seus pensamentos e ações, e aterrorizar elas ao silêncio. Trivializa os verdadeiros horrores do facismo, racismo, opressão classista e supremacia masculina, e diminui as agonias daquelas e aqueles que hajam sofrido mais sob esses regimes. Embaça distinções importantes entre, por um lado, aquel*s que, como supremacistas brancos, neo-Nazis, ideológos supremacistas masculinos, violadores, etc., que advogam, glorificam e praticam violência e comportamento desumanizante sobre aqueles que estes definem como ‘inferiores’, e aquelas de nós que, por outro lado, podem reter atitudes racistas, etc., atitudes a despeito as nossas melhores intenções. E estabelece distinções preconceituosas entre nós mesmas por meio de enfatizar aquelas opressões que nos dividem, às expensas de e para a exclusão da opressão que temos em comum como mulheres e lésbicas

Sentimentos não são o suficiente

Outro tipo de hostilidade horizontal que Penelope discute é o uso de ‘declarações psicológicas’ (psych-predicates). Essas são formas de uso de linguagem que descrevem como nos sentimos sobre e reacionamos às demais, de uma maneira que atribui uma fonte desses sentimentos a alguém. Dizer de alguém que ela é ‘intimidante’ por exemplo, Penelope diz, ‘requere a experiência do sentimento específico nomeado pelo verbo para descrever a ela mesma como um objeto a ser atuado sobre pelo comportamento ou atitude de alguém’ (p. 73). O uso de predicados psicológicos permite àquela que o diz a evitar responsabilidade pelos seus sentimentos, e pôr essa responsabilidade em alguém. Também permite atribuir intenções à suposta ‘intimidadora’ que esta pode não ter, e acusar ela do desejo de dominar que ela pode não querer, e assertar que a visão daquela que denuncia como a única interpretação possível. Falar sobre este processo em termos de uso de linguagem, Penelope diz, não é negar a realidade de nossos sentimentos. É, ao invés disso, alertar-nos de que é sempre fácil culpar a outras e acusar falsamente – a linguagem é construída para isso. Penelope comenta de que o uso de tal linguagem ‘mantém a ficção heteropatriarcal de que somos emocionalmente dependentes’ (ibid.). Eu acrescentaria que isso também reforça a crença de que somos fracas e desprotegidas e completamente à merce de outros todo-poderosos. Porque tal desproteção tende a ser defendida, tendemos a atacar de maneira a aniquilar aquelas que percebemos como a fonte dessa sensação. É esse senso de desproteção que é a verdadeira fonte da hostilidade horizontal. Isso é sugerido por algo que Vera Ray diz em seu artigo ‘Uma investigação da Violência em relações diadicas Lésbicas’. (Ray, 1991). Ela diz que, muito embora haja similitudes entre o abuso de mulheres por homens em relações heterossexuais e a violência em relações lésbicas, há uma diferença crucial. Onde o homem usa violência para manter e reforçar sua dominação na relação, a agressora lésbica usa violência para ‘equalizar’ o que ela percebe como um desbalance de poder. Ela percebe a ela mesma como ‘fraca’ e sua parceira como ‘forte’, e ela a ataca de maneira a demolir aquela ‘força’ que ela (erroneamente) sente que é a fonte de sua própria ‘fraqueza’. Isso não excusa a violência, como aponta Vera. Ninguém ‘merece’ ser agredida. Mas isso indica que a violência entre mulheres origina-se na debilidade e não na força. Como Vera coloca, nesta instância mulheres ‘são corrompidas por um senso de falta de poder’ (p.46). A mesma observação foi feita por Joanna Russ em seu artigo ‘Poder e Vulnerabilidade no Movimento de Mulheres’ (Russ, 1985). Neste artigo, Russ critica o que ela chama ‘o grande Imperativo Feminino’, a expectativa de que ‘mulheres são supostas fazer as outras pessoas sentirem-se bem, a suprir a necessidades de outres sem ter nenhuma necessidade própria’ (p.43). Ela descreve com este imperativo é enforçado nas mulheres por outras mulheres por meios de sindrome de “Mamãe Mágica/Irmã temblante”. Uma ‘Irmã temblante’ (IT), ela diz, é uma mulher que abraçou sua própria indenfensidade e inefectividade de maneira a evitar a culpa servicial de satisfazer suas próprias necessidades, exercitando suas próprias habilidades, e alcançando seu próprio sucesso. Uma IT elevada ao status de ‘Mamãe Mágica’ (MM) qualquer mulher que alcançou algo que ela mesma foi incapaz de alcançar. Ela culpa a MM pelos maus sentimentos que ela tem sobre sua própria falta de conquistas, e procede para demandar que a MM tome conta dos sentimentos feridos (da TS), e tome conta dela. Uma vez que isso é impossível, a IT se torna enfurecida e ‘lincha’ a MM. A MM, que a esse ponto pode haver estado inconsciente de seu status ‘mágico’, cai na cilada ela aceita a visão da IT. Ela se torna uma MM por meio de reaconar com culpa, por tentar abrandar os sentimentos feridos, por desculpar-se por desprezar seus próprios ganhos, empreendendo-se em ajustar tudo e fazer todo mundo se sentir bem. Dada a impossibilidade disso, sua resposta atual é medo e paralisia face aos permanentes gritos de raiva da IT.

Russ sugere que o caminho para fora do círculo vicioso de culpa, auto-recriminação e paralisia para as mulheres é reclamar nossas próprias conquistas e valor próprio. A IT precisa dar-se conta que, embora seus sentimentos de desolação podem ser resultado de relações de poder fora do seu controle, eles também podem não ser. Ela precisa aprender que ela retém sua própria agência moral mesmo sobre condições de opressão (usar o conceito desenvolvido por Sarah Hoagland-Hoagland, 1988), e que há ainda algumas coisas que ela pode fazer, que ela ainda tem alguma responsabilidade, mesmo que sua liberdade de ação é constrangida por condições objetivas.
Ela precisa aprender que atribuir enormes quantidades de poder a outra muher é uma ilusão, assim também é seu sentido de que ela mesma é completamente desamparada. E ela precisa aprender que o oprimido também pode ser opressivo. Não apenas pode o oprimido partilhar, ainda que minimamente, dos estatus e privilégios dos dominantes às expensas de outr*s oprimid*s, mas também oprimid*s também possuem maneiras de manipular os dominantes. A IT precisa proteger-se usando essas técnicas contra outras mulheres, técnicas de dissimulação vitimista, de birras, de demandas de que alguém resolva seus problemas para ela, e considere seus sentimentos feridos à exclusão de seus próprios projetos.

A MM, por outro lado, precisa aprender que ela não é infinitamente disponível, incomensuravelmente suportiva, eternamente paciente, ou seja, que ela não é a ‘mamãe’ de ninguém (no sentido supremacista masculino de absoluto auto-sacrifício). Ela também precisa aprender que, como Russ coloca, ’sentimentos de culpa não automaticamente significam que ela está para ser culpada de tudo, ou mesmo de qualquer coisa que seja, e deve portanto fazer reparação por meio de colocar tudo em ordem. A culpa é tão endêmica na população feminina, e funciona tão sistemicamente para manter mulheres a serviço dos homens, que ela pode simplesmente ter mudado para o seu partilhamento do padrão generalizado. Neste caso, desde que não há nada para corrigir, ela deve simplesmente lidar com os sentimentos de culpa até eles irem embora.

Como reconhecer Hostilidade Horizontal

É importante distinguir entre hostilidade horizontal e criticismo genuíno, porque o criticismo é geralmente confundido com hostilidade. Enquanto que o criticismo infundado é destrutivo e paralisante, o criticismo é ainda assim necessário se o feminismo está para continuar crescendo e se desenvolvendo e mantendo-se relevante, e não degenerar-se em um dogma papagaiante. Enquanto o feminismo necessita criticismo, ele não precisa o terrorismo irracional da hostilidade horizontal. Enquanto ambos podem se sentir daninhos e humilhantes, a hostilidade horizontal é duramente cruel, não tem outra motivação que não seja a de machucar. É uma cega castigação e criação de bode expiatórias daquelas que estão acessíveis porque elas não são tão diferentes em poder e privilégio. Criticismo, por outro lado, não possui a intencionalidade de ferir, mas de remover as névoas e desmascarar a verdade da questão. É considerado e considerante. Envolve um intento genuíno de trabahar o que está indo, e mostra consideração pela outra por meio de não ser deliberandamente e cruelmente ingentil. Assim que possível, é caracterizado por uma discussão considerada, bem pensanda e substancial.

Mesmo que isso não seja sempre possível, especialmente no calor do momento, o criticismo é até o último momento sincero nas questões que coloca. Não é uma competição sobre quem esta certa e quem está errada, sobre quem vence e quem perde. Ao invés disso, o criticismo está preocupado em desvendar a verdade, e está oposto à mentiras, segredos e silêncios, trapaças e rumores sem substância. Não é necessário ter tudo ordenadamente trabalhado antes de expressar dúvidas. Mas é vital perguntar para saber e avaliar as reações de uma própria. É importante perguntar a si mesma questões como: Estou sentindo-me ameaçada pelo que ela está dizendo? E se for, por quê? Estou justificada em sentir-me incômoda? Qual é a fonte de meu desconforto? Há suficientes evidências? etc.
Algumas vezes as questões vão ter respostas imediatas. Mas reservar julgamentos é também uma forma de criticismo, e uma maneria de recusar-se a engajar em hostilidade horizontal.
Enquanto criticismo é caracterizado por uma busca cuidadosa do sentido do que está sendo dito, a hostilidade horizontal é sem sentido, porque a informação contida em um nome indecente é tão esparsa. Quê significa, por exemplo, chamar a outra feminista de ‘racista’ ou ‘classista’ ou ‘fascista’, sem ir além em justificar isso e dar razões? A palavra ‘facista’ tem algum significado aplicado a outra mulher, dada a história do Facismo e os males perpretados sob sua influência? A acusadora deve estar clara de sua própria mente sobre o significado dos termos que ela aplica a outra mulher, e a forma particular ou as formas nas quais a acusada foi ofendida. É melhor permanecer em silêncio, que ganhar uma vitória fácil sobre outra mulher que provavelmente já tem um vasto estoque de culpa generalizada pela acusação para acionar.

Deve ser assumido que essas recomendações são relevantes não somente para aquelas com treinamento em pensar, argumentar e raciocinar, isto é, aquelas com educação terciária. Mas podemos todas pensar. Não é uma técnica confinada às instituições do ‘alto saber’. Todas podemos também saber nossas próprias mentes. Podemos todas separar verdade de falsidade, o inimigável do amigável, o que é meramente confuso ou ignorante daquilo que é deliberadamente errado. Um bom argumento não é necessariamente um sofisticado e largo. Todas podemos dar razões pelo que fazemos, mesmo se não estamos inicialmente conscientes das razões e que tome algum tempo para encontrá-las. E todas somos capazes de entender que cometemos erros, reconhecendo eles e aprendendo deles. Todas somos capazes de decidir se há ou não suficiente evidência, e de reservar julgamento até que possamos fazer uma que seja informada. Todas somos capazes de substanciar o que falamos, e de confirmar nossas asserções com as evidências. Também somos capazes de respeitar a boa reputação de cada uma. E somos todas capazes de examinar nossos próprios motivos. Longe ed ser o caso de que essas habilidades estejam confinadas a uma elite pequena, é vitalmente importante que todas feministas as desenvolva. Fracasso em fazê-lo nos mantera na cilada dos jogos de poder da ideologia supremacista masculina

Como evitar Hostilidade Horizontal

Por ‘evitar hostilidade horizontal’, eu não quero dizer encontrar maneiras de evitar ser submetida a isso, ou proteger alguém de ser submetida a isso. À medida de que ela não se origina comigo, não há nada que possa fazer para pará-la de acontecer. Se não é meu comportamento, a decisão de se engajar-se ou não nisto não é minha para fazer. Há, é claro, numerosas maneiras nas quais eu poso reagir uma vez que ela aconteceu, e essas maneiras podem ser mais ou menos apropriadas, mas ou menos deliberadas, mais ou menos empoderantes. Eu posso reagir com vergonha ou culpa, e permtir que isso me silencie; ou posso aceitar as coisas negativas ditas sobre alguém, sem pensar e sem perguntar por verificação e evidência. Ou podemos engajar em batalhas verbais que podem terminar ou não em uma inimizade de longo termo e recusa em nunca mais falar-se uma com a outra novamente.
Alternativamente, a batalha deve limpar o ar e acabar com uma convencendo a outra, ou com um acordo em discordar. Ou pode ser legal, desapegado, respeituoso e razoável, requere que a outra dê suas razões pelo que ela está dizendo, e avalie as razões para o melhor da minha habilidade. Na ausência do que eu sentiria como razões adequadas, eu posso suspender julgamento a menos que haja suficiente evidência. Mas se a razão falha em convencer, nada mais vai funcionar sequer. Mas se eu não posso parar outras de serem hostis, eu posso recusar a engajar-me em hostilidade horizontal eu mesma. Eu posso tomar conta para não cair em padrões automáticos e impensados de dominação. Eu posso perguntar a mim mesma, como Julia Penelope diz, se eu realmente quis dizer o que eu disse. Eu posso perguntar eu mesma se o que eu digo é verdade. Eu posso peruntar quais são minhas motivações – Estou buscando apenas machucar, humilhar, e demolir, ou estou defendendo o que eu acredito, tentando esclarescer coisas, tentando ajustar o filme? Eu respeito a ourta mesmo se eu discordo dela, mesmo se eu sei (ou eu penso que sei) que ela está errada?
Precisamos estar aptas para decidir o que é hostilidade horizontal e o que não é. Precisamos exercitar uma grande quantidade de cuidado em discernir comportamentos que podem ser justificadamente identificados como opressivos, abusivos ou dominantes, dos quais não são. O processo de discernição requeere auto-conhecimento, uma habilidade de pensar problemas, e um certo degrau de desapego dos sentimentos como raiva, humilhação e vingança. Também requere auto-respeito e respeito pelos demais. E isso requere a rejeição da violência, física ou verbal, e uma maneira de endereçar percebidos desbalances de poder. A tarefa crucial neste contexto é desenvolver maneiras de decidir quando estamos justificadas em perceber outras mulheres como comportando-se opressivamente e quando elas não estão, e de discernir os métodos apropriados e inapropriados de lidar com aquele comportamento. Acima de tudo, envolve identificar supremacia masculina como o inimigo principal, e reconehcer que os valores e significados desta ordem social são o status quo a menos que estejamos conscientemente comprometidas na sua recusa.

  • * *

1 Usei o termo ‘sororidade’ embora a tradução direta pudesse ser ‘irmandade’ porque o termo sororidade está mais difundido e reconhecido pelas pessoas, equanto ‘irmandade’ pode ter outras conotações que não são tão agradáveis para a intenção do termo em inglês que é o reconhecimento das outras mulheres como companheiras ou a identificação entre mulheres.

3 Fazendo um paralelo pra pensar hoje em dia, outras formas atuais de censurar o debate e a reflexão feminista é acusar feministas (radicais por exemplo, ou mais críticas ou que pensam criticamente sexualidade e as políticas de identidade atuais) de ‘transfóbicas’, ‘cissexista’, ‘moralistas’ (termo que todo homem acusou feministas, baseado na sua cultura de estupro) ou o termo atual ‘polícia feminista’. Gostei que em um encontro quando houve uma assembléia sobre consentimento e acordos coletivos, alguém usou isso de acusar de polícia a delimitação de limites de alguém, essa pessoa foi imediatamente cortada por essa amiga que disse ‘Não gente, a polícia não está aqui, ela não veio, ela não está nesse encontro’. Temos que lembrar que é muito forte e difamante quando alguém é acusada de coisas graves ou associadas com figuras fortes de maltrato como policiais. Pensemos se não é forma de hostilidade horizontal, e de que certas opressões como a transfobia são exercidas não por individualidades como outras feministas senão por instituições. Dá a parecer que a transfobia é uma prática de certas feministase os esforços se concentram mais sobre essas que sobre o Estado e suas instituições que mantém e perpetuam a transfobia que mata travestis e trans, enquanto que algumas feministas somente querem se reunir entre mulheres biológicas e lésbicas por motivos até bastante plausíveis.
Outro exemplo é aquele cartaz que diz ‘Microfacismo em cada coração anti-trabalho sexual’, ataques deste tipo recebem feministas com uma perspectiva abolicionista do que entendem como sistema prostitutinte e, a despeito do debate que se queira instalar, é outra forma de desqualificação, bastante parecida com a acusação de ‘feminazi’ que vem sendo por sorte ridicularizada. Entendo todos esses ataques e desqualificações fáceis e discursos vazios e desonestos como misoginia e anti-feminismo (Nota da tradução).

References
Hoagland, Sarah (1988) Lesbian Ethics: Toward New Value Palo Alto, CA: Institute of
Lesbian Studies
Kennedy, Florynce (1970) ‘Institutionalized Oppression vs. the Female’, in Morgan, R., ed.
Sisterhood Is Powerful New York: Vintage Books/Random House
Penelope, Julia (1992) ‘Do We Mean What We Say? Horizontal Hostility and the World
We Would Create’, in Penelope, J., Call Me Lesbian: Lesbian Lives, Lesbian Theory
Freedom, CA: The Crossing Press
Ray, Vera (1991) ‘An Investigation of Violence in Lesbian Dyadic Relationships’ Journal of
Australian Lesbian Feminist Studies 1(1), pp.40-48
Russ, Joanna (1985) ‘Power and Helplessness in the Women’s Movement’, in Magic Mommas,
Trembling Sisters, Puritans and Perverts Trumansburg, NY: The Crossing Press

Como a polícia reforça a cultura de estupro

por stavvers

texto que fala papel que a polícia joga na legitimação da cultura de estupro

+Aviso de acionadores: esta postagem discute estupro, cultura de estupro e abuso de poder.+
A polícia, como sabemos, tem uma terrível e larga história com relação ao estupro. Alegações são muitas vezes não tomadas a sério e, em algumas situações, a polícia ativamente fabrica papéis para fazer os casos sumirem. É dificilmente uma surpresa o fato de que a vasta maioria dos casos de estupro não sejam reportados.

A mulher que foi desapontada pela polícia depois de ter encontrado a coragem para reportar seu estupro sabe isso muito bem, e três delas estão processando o funcionário pelo tratamento que receberam. Duas requerentes foram atacadas pelo estuprador serial John Worboys que poderia ter sido capturado anteriormente se a polícia tivesse escutado às mulheres.

A polícia não escuta. Porém, o oposto também é verdade

“Isso soa nos meus ouvidos ainda, o oficial dizendo ‘um taxista não poderia fazer isso'” ela (uma sobrevivente) diz.

“Isso parecia como se eles não quisessem saber. Em meus sonhos, eu gritava ‘por que você não acredita em mim?'”.
Meu coração dói por essa mulher. A esmagadora descrença em seu relato, depois de que uma violação horrificante ocorreu.

O comportamento do policial aqui é uma das manifestações mais declaradas da cultura de estupro: não acreditar na sobrevivente. Talvez o oficial tenha atuado de boa fé, não querendo maliciosamente jogar fora um caso de estupro (como muitos tiveram). Talvez o oficial apenas absorveu algumas frases de estoque e atitudes da cultura de estupro.

Isso não faz diferença. O policial possui uma posição única de poder: de última, eles decidem se eles vão se incomodar em ajudar uma sobrevivente. Cada momento da lógica da cultura de estupro está fracassando para a sobrevivente que pediu socorro. Cada investigação capenga e mal feita está falhando com a sobrevivente. Cada documento fraudulento jogado no caso está falhando com a sobrevivente. Estas sobreviventes escolheram perseguir um certo curso de ação, ativamente engajando-se com o estado para pedir o auxílio deste.

E eles estão falhando com esta.
Quem se beneficia destes arranjamentos? Estupradores. Cada vez que isso ocorre, as coisas se tornam um pouco mais fáceis pros estupradores. Elessabem que podem se sair bem dessa. Eles sabem que as chances estão a seu favor porque o estado os vai ajudar nessa.

A cultura de estupro apenas sempre beneficia estupradores, e a polícia está usando seu poder para reforçar isso.

Entre 2008 e 2012, houveram 56 casos documentados de estupro, agressão sexual e assédio. Em muitos destes casos, as reclamações foram encobertas e a sobrevivente desacreditada. Em um número assustadoramente largo dos casos, nenhuma acusação criminal foi sequer trazida. É duramente surpreendente, então, que a polícia possua um interesse implícito em manter a cultura de estupro em uma gritante boa saúde: eles estão se beneficiando disso.
Eu sou totalmente crítica da noção de que o poder que a polícia possui possa ser usado para o bem, para ajudar a superar a cultura de estupro desde cima. No melhor dos casos, a polícia pode apenas ser tão progressista quanto a sociedade que a gerou, então eles estarão ainda pisando na cultura de estupro. Isso sem calcular os efeitos psicológicos que tornam todos policiais em bastardos.

Há um vasto caminho para a melhora depois da revolução, no entanto. Eles podem, muito facilmente, parar de tão ativamente reforçar a cultura de estupro começando por uma posição de sempre acreditar na sobrevivente, mesmo que seja seu parceiro o acusado. Eles podem, muito facilmente, na verdade se importar em investigar os casos de estupro apropriadamente, respeitando a coragem da sobrevivente de ter seguido adiante com a denúncia. Melhoras são possíveis. Eu desejaria ser menos pessimista sobre o desejo das forças policiais em tentá-lo.

https://stavvers.wordpress.com/2012/07/21/how-the-police-enforce-rape-culture/