“Daqui não sai”: Reflexões sobre o Rumor

Texto de Andrea Franulic, feminista chilena radical da diferença, sobre o papel do rumor (a fofoca) como instrumento patriarcal que parte da lógica da misoginia, no movimento de mulheres. Analisa o rumor como terrorismo político dentro do feminismo contra mulheres ativas, como reprodução da feminilidade e como um recurso aprendido dos sistemas opressivos sob os quais vivemos.


Daqui não sai: reflexões sobre a fofoca

Por Andrea Franulic e Jessica Gamboa
tradução por hembrista@riseup.net

“Eu te suplico
faça algo
aprenda um passo
uma dança
algo que a justifique
que lhe dê o direito de estar vestida de sua pele, seu cabelo.
Aprenda a caminhar e rir (…)
afinal
que tantas estejam mortas
e que você esteja viva
sem fazer nada de sua vida”
(Charlotte Delbo, 1970).

 

Viemos querendo escrever sobre o Rumor. Claro que não somos as primeiras a fazê-lo. As disciplinas patriarcais vieram realizando teorizações sobre o tema (a psicologia experimental, a psicologia social, a psicanálise, a teoria da comunicação e a sociologia). Não vamos nos basear nelas. Nosso interesse se encontra nos textos que pudemos encontrar na teoria feminista, devido a que as mulheres somos e viemos sendo o principal objeto do rumor no contexto de uma cultura misógina. Isso explica que, inclusive em espaços feministas, o rumor aparece como uma prática recorrente para desacreditar as mulheres pensantes e que se destacam por um trabalho consistente.

Dentro da teoria feminista, encontramos escritos de Audre Lorde (2003) sobre o que chama de ‘Tergiversação’[1], que no nosso entendimento, seria uma ‘versão torta’ e tendenciosa que o patriarcado faz circular por aí sobre a vida das mulheres. E que é o rumor senão uma versão torta, distorcida, de alguma realidade? Também Margarita Pisano escreve sobre os “Segretos, chantagens e rumores… os preconceitos” (2004). E menciona o conceito em seu livro ‘Julia, quero que seja feliz’ (2012) e em sua Biografia política (2009) que escreve junto com Andrea Franulic, onde se descreve sua própria experiência como objeto de rumor no processo de desmontagem do projeto “Casa da Mulher A Morada”.

Recentemente tivemos a sorte de obter, por meio de umas mulheres anarco-feministas, um fanzine entitulado “Coletânea sobre Sororidade Autocrítica ou sobre Violência entre Feministas” (2013) que começa com uma epígrafe muito inspiradora da feminista radical Phyllis Chesler, e que compartilhamos a seguir:

“Não comece rumores sobre outra mulher. Se você ouve um rumor, não o faça circular. Deixe que fique com você. Não é ético punir e sabotar outra mulher que você inveja ou teme, caluniando sobre ela ou colocando outras mulheres contra ela.”

O fanzine contêm artigos de diversas feministas. Lendo-os, encontramos trechos chamados de “comentários de amigas” sobre o texto “Segredos, chantagens e rumores… os preconceitos” de Margarita Pisano, que também aparece publicado no fanzine. Destes comentários, há uma consideração que diz que uma das características do rumor, ou melhor dizendo, de quem o exerce, seria a ausência, o vazio ou carência de uma identidade própria. Preferimos deixar o conceito de identidade de lado (por não estar de acordo com este enquanto categoria de análise) e falaremos de uma ausência de projetos de vida próprios ou vazio de conteúdo da própria existência e, por fim, da necessidade de preencher esse vazio assumindo a vida de outras pessoas. Desde esta carência e mediante o rumor, se estabelecem alianças na sombra com quem também gravita em torno deste vazio de um sentido de vida e confluem no desejo de subir em uma situação de privilégio e poder, tirando do caminho quem entorpece tal propósito, geralmente pessoas que contribuem com um trabalho concreto e de qualidade.

O rumor vem sendo uma prática patriarcal como tática de guerra, com fim de colonizar territórios, obter poder, ganhar eleições, conseguir lucros na bolsa, herdar bens, destruir lideranças, negociar tratados políticos, obter informação privilegiada, trocar mulheres, traficar armas, etc. É e vem sendo utilizado desde as direitas mais fascistas até as esquerdas mais revolucionárias. As táticas de guerra se herdam, se aprendem, se sofisticam e se naturalizam. O feminismo não escapou de nada disso. Principalmente se viu intervido pelo patriarcado de esquerda. Patético resulta – por nossa falta de história e genealogia, pelos custos que há em articular um trabalho autônomo e pela árdua tarefa de legitimar-nos entre mulheres – que o rumor perpetue a misoginia e desarme de tal forma a produção de mulheres. Este custo para nós mulheres é profundo, nos deixa vagando no Nada.

Celia Amorós (1987), embora seja uma feminista da igualdade, desenvolve acertadamente o conceito das Idênticas para referir-se à relação entre as mulheres na cultura patriarcal. Coloca que todas as mulheres cumprimos a mesma função social no patriarcado, ou seja, a funções próprias da feminilidade, e neste sentido, as mulheres somos substituíveis umas por outras e, o que é pior, somos descartáveis. Quando uma mulher sai do papel de ser uma idêntica, de uma igual a todas outras, e rompe com os desígnios da feminilidade, sobressaindo, isso gera misoginia, invejas e medos nas demais. Ela se transforma em uma ameaça para o grupo. Às mulheres não se perdoa tão facilmente exercer a capacidade de pensar, tampouco se lhes perdoa falar e escrever com inteligência. É mais aceito e aplaudido que se destaquem pelos trabalhos domésticos, ou por práticas do fazer, onde silenciosamente repetem uma e outra vez um destino não-criativo.

O rumor vem invadindo historicamente a vida das mulheres. Temos exemplos de perseguições promovidas pelo rumor. Somente para nomear um acontecimento muito emblemático, recordamos a matança das denominadas bruxas, levada a cabo entre os séculos XIV-XVII na Europa ocidental e central. Bastava que qualquer pessoa fizesse correr o rumor de que esta ou aquela mulher possuía pactos com o diabo, para que estas fossem acusadas de bruxas, e assim, torturadas, enforcadas ou queimadas vivas na fogueira da praça pública. As bruxas foram utilizadas como bodes expiatórios pelos homens.

Fazendo a analogia, podemos dizer que a vítima do rumor funciona como um ‘bode expiatório’, o dizemos em um sentido literal e metafórico. A situação de debilidade, vulnerabilidade e super-exposição que afeta a vítima é utilizada com o objetivo de expiar nela as próprias misérias não-assumidas, os próprios pecados, de maneira catártica. Assim como para justificar a falta de auto-crítica, os próprios equívocos, a carências e as inseguranças de todo tipo. Isto se relaciona com o que foi dito em parágrafos anteriores: o rumor serve de veículo para tapar o próprios vazios. As mulheres, doutrinadas na moral e bons costumes, castigam o bode expiatório para projetar nele suas próprias dependências: ao amor, ao álcool, à droga, aos homens ou a suas instituições. E assim, se sentem puras e sábias.

Identificamos dois papéis na prática de circulação dos rumores. O primeiro se sustenta e opera desde o lugar do Poder. Neste caso, a pessoa possui uma insegurança encoberta que a perturba, e seu movimento é defender-se do medo que lhe gera a perda desse poder, do prestigio e dos privilégios. O segundo, o mais descrito até então, é aquele que funciona desde a Mediocridade. Este papel pode resultar mais perigoso, pois aqui “o fim justifica os meios” com a pretensão de concretizar interesses aspiracionais que podem ser de diversa índole: desde interesses econômicos até de tipo psicológico como o querer “ser alguém”. Este papel nos recorda, nos evoca, tem semelhanças ao que a filósofa Hannah Arendt (2003) chamou por A Banalidade do Mal. Porque, segundo ela, os crimes cometidos contra a humanidade, as torturas e genocídios, são executados por seres medíocres, não pensantes, que somente seguem ordens e regras mecanicamente, obedecendo… milicos de direita e de esquerda.

Albert Camus em seu livro O Homem Rebelde (2005) estabelece a diferença entre o ressentido e o rebelde. O primeiro tem uma ânsia voraz por ‘pertencer a’ e ‘ser’ aquilo que critica. Já o rebelde, se arrisca com sua solidão. Quem exerce o rumor, sobretudo desde o papel da mediocridade, deseja compulsivamente pertencer e busca as cumplicidades necessárias para cumprir esta meta. Em outras palavras, o rumor é uma prática oportunista. No fim, se atua desde o ressentimento, a condescendência e a adulação… jamais desde a rebeldia. Como contraponto, quem é vítima do rumor é deixada no vazio: deixa-se de falar com, deixando esta capturada em uma névoa espessa, rodeada de um arco invisível de desconfianças, marcada pelo estigma que a tacha e a reduz, absorvendo-lhe as forças pensantes e criativas, como se estas existissem de sobra neste mundo deshumanizado. Enquanto isso, o restante realiza um pacto sectário de silencio.

Quem padece o rumor sofre um tipo específico de maltrato: o isolamento, a incomunicação, o sentimento de culpabilidade, a ameaça da chantagem e a paranóica e confusa vivência de não saber como, quando, por quê, quê e quem(s). Sofre uma alteração em seu uso da linguagem, pois teme usar as palavras, que são a principal ponte de comunicação entre as pessoas. Como escrevemos por aí, a palavra ‘rumor’ vem de ‘ruído’ que, por sua vez, vem do latim ‘rugitus’ (rugido). Isso, segundo o dicionário etimológico de Corominas (2000). Se interpretamos um pouco e sem complexos com a obviedade, diríamos que ‘fazer ruído’ ou ‘rugir’ são contrários a falar, a usar as palavras. Se interpretamos um pouco mais, usar as palavras para nos entendermos nos faz justamente humanas, nos faz sentir bem quando encontramos pontes de profunda conexão. O rumor desumaniza.

Agora vejamos, quando se recebe um rumor, há escolhas: nos fazermos cúmplices na circulação deste e colaborarmos em deixar no vazio à pessoa em questão, ou então colocamos um limite a isso. Portanto, o ato de receber um rumor não é um ato passivo. Quem escolhe não participar nem prestar ouvidos ao rumor o detêm e pode, inteligentemente, perguntar-se sobre as outras versões da mesma realidade entre a dita. Pois a neutralidade na linguagem não existe. Por isso, é justa a possibilidade de pôr em dúvida as versões e as fontes: um exercício básico que realizamos com a mídia hegemônica por exemplo, quando somos críticos. Se esta versão provêm de quem detêm um poder ou é considerada uma pessoa ‘legítima’, ‘confiável’, é mais difícil ainda desmentir. E neste caso, a versão do rumor toma as características de uma ‘História Oficial’. Não é demais lembrar que, no patriarcado, a historiografia elaborou uma versão oficial do mundo enviesada e cheia de invisibilizações, e é exatamente assim que as mulheres viemos perdendo nossa história.

Podemos identificar alguns tópicos do rumor que condizem com os tópicos da História Oficial. Em primeiro lugar, a Mitigação e a Exageração. A mitigação (aliviamento), usada a favor de quem promove o rumor, consiste em ocultar, diminuir, abrandar, fazer pouco caso ou, inclusive, ironizar sobre as próprias equivocações e erros, no seu caso. Pode ir acompanhada de um certo grau de auto-compaixão. A exageração, por sua vez, se utiliza contra a outra pessoa; se exageram e dá dramaticidade aos erros da outra pessoa. Algumas vezes a exageração vai acompanhada de mitomania e megalomania. O “exageracionismo” é um recurso do rumor.

Um segundo tópico fundamental é a Descontextualização, onde a informação que circula é uma informação ‘descarnada’, ou seja, extirpada de seu contexto original, vital, que continha pessoas com corpos e olhares, entre quem existia intimidade e confiança e um percurso próprio e autêntico da relação particular. Assim como existiam momentos, lugares e circunstâncias específicos; sentidos e propósitos, angústias e alegrias. A informação é retirada do contexto e da experiência que lhe deu vida e se utiliza com fins utilitários (oportunistas). Porém, não há informação no ar, as mensagens mudam seu sentido e seu destino radicalmente, segundo o contexto onde se usem. Nunca voltam a ser a mesma mensagem nem voltam a ter o mesmo significado. A descontextualização como recurso ou tópico do rumor, se baseia na chantagem e usa falsas testemunhas, isso é, personagens que, revestidos de um empoderamento emprestado, se atribuem ou se auto-concedem a autoridade de juízo sancionador, fundado na mais profunda ignorância da história questionada. Esta ação muitas vezes se marca na triste história de traição entre mulheres.

Como toda História oficial, a falta de honestidade desde onde circula a versão, a ‘tergi-versão’ (tegiversação: versão torpe, torta) da realidade, se disfarça de discursos salvadores, bons e messiânicos, inclusive baseados no amor. Os quais na realidade escondem as inseguranças, os despejos, os posicionamentos e as acomodações mais obscuras. Esta tática perturba e confunde as verdadeiras e reais fontes da dominação (Denise Thompson, 2003).

Outros tópicos reconhecíveis são ‘Frases Feitas’ que servem para finalizar o relato do rumor, talvez como parte da estrutura do Rumor se o identificamos como um gênero discursivo em si mesmo. Estas frases são: “não comente isso por aí…”, “daqui não sai…”, “não fala pra ninguém…”, “eu te digo isso porque eu o vi na minha própria experiência…”, “estou te contando isso porque confio em você…”, e etc. Nesta mesma linha, contamos com refrãos ou ditos populares, sempre impregnados do imaginário patriarcal, regados de lugares comuns (preconceitos), que se utilizam para semear o medo. Para nosso específico tema do rumor, nos vêm à mente as inquisidoras e penalizadoras frases que dizem “quando o rio soa é porque pedras traz”[2], “algo ela fez para que falem isso”, “não faça o que não quer que façam pra você”, “tudo se paga nesta vida”, “tudo cai por seu próprio peso”.

Redundante dizer que as famosas e neoliberais “redes sociais” são terreno fértil para difundir o rumor: a vitrinização e o imediatismo do facebook, do chat, dos correios electrônicos, etc. Estes sistemas são facilitadores para a vertiginosa circulação dos rumores e para a ameaçadora chantagem, porque em geral servem às pessoas que, des-corporizadas, se escondem e se protegem atrás do meio tecnológico, por meio de seu uso anônimo e impessoal.

A misoginia é uma pesada realidade para todas. A reflexão sobre a falta de sororidade ou de affidamento[3] deve ser mais profunda e comprometida. É fundamental que a imagem de espelho que nos produz a outra, nossa igual, não se utilize como o faz a madrasta de Branca de Neves, senão como uma porta para as sólidas pontes feitas de palavras, estas que dão cabimento à confiança e ao entendimento, mas somente quando real e verdadeiramente existe a horizontalidade.
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Traduzido de https://andreafranulic.cl/misoginia/de-aqui-no-sale-reflexiones-sobre-el-rumor/

[1] Tergiversar segundo a própria autora é “mudar o sentido das coisas para sua própria conveniência e benefício. Etimológicamente, a palavra significa “dar as costas à”. Curioso. O patriarcado esteve “tergiversando”, históricamente, nossas experiências de mulheres(…) Impôe seu próprio sentido de realidade e inventa o relato que lhe convêm para manter seu domínio. A tergiversação é totalitária e auto-referente, porque o patriarcado é “um”, somente vê a si mesmo e a feminilidade existe para lhe devolver seu próprio reflexo. Desta maneira, se transforma em uma montanha gigantesca de parcializações, apagamentos e vazios a respeito de nós mulheres. Quê esgotador é defender-se de cada acusação patriarcal!”. (https://andreafranulic.cl/lenguaje/la-tergiversacion-de-la-experiencia/) A autora retirou esse conceito do texto de Audre Lorde, “A transformação do silêncio em linguagem e ação”, onde esta diz que o silêncio não nos protege, embora distorçam nossas palavras. Mais que falar, diz Lorde assim como Anzaldúa, devemos escrever, pois escrevendo nos tornamos existentes e confrontamos as ‘versões distorcidas’ de nossa história, pois as mulheres não possuem história e isso se conseguiu a base do rumor, pois a história oficial se constitui no conjunto de rumores dos homens sobre a realidade e o ocorrido, e as mulheres, tal importante mecanismo de poder o rumor representa. E escrever e falar, além de ser confronto das versões distorcidas/rumores, é constituir-se em sujeita histórica e assumir a tarefa de produzir história de mulheres.

[2] Um ditado específico da cultura chilena, quer dizer algo como “se falam isso deve ser porque algo fez de errado”, no caso dos rumores.

[3] Termo em italiano para sororidade, proposto pelas feministas italianas ‘da diferença’.

* Recomendamos também a leitura do texto “O rumor, a feminilidade, o patriarcado” por hembrista https://we.riseup.net/feminist_troll/o-rumor-a-feminilidade-o-patriarcado

Zine Consenso Sexual Lésbico

consensolesbozine consensa lesbica corrigida (pedir para ‘imprimir como livreto/folheto/booklet se tiver pdf. Se for linux tem que ser de outra forma, mais tarde explico)

+ capa

(ainda não juntei as duas, faço isso mais tarde)

“Zine sobre consenso sexual lésbico, misturando partes autorais com outras adaptações e inspirações em outras zines. Produzi para distribuir numa oficina de prevenção e visibilização de violência entre lésbicas, pra seguir bem de guia rápido de identificação de comportamentos.
A idéia é que sirva tanto para que nos pensemos como agressoras e evitemos os comportamentos mostrados, como para tomarmos consciência e assertar nossos limites. A idéia do zine e de promover essas ferramentas não é como individualismo liberal, como se empoderando a pessoa para colocar os limites seja suficiente, pois não depende só de um momento de zine para desconstruir toda uma trajetória de feminização e desempoderamento de vida, além de questões estruturais mais amplas (violência masculina sistemática) ou de ordem traumática, porém pode ser um começo. Não cabe as vítimas ‘se empoderarem’ e sim as agressões serem paradas e nos responsabilizarmos de mudar condutas. Empoderamento é um processo coletivo e muitas vezes longo. Também penso que podemos nos localizar seja nos lugares de perpetradoras seja no de agredidas, sendo a questão da violência e como a reproduzimos complexa.

Trago a reflexão sobre prevenção e responsabilização porque penso que as dinâmicas de flerte não-positivas ou de relações possessivas e chantagistas estão demasiado naturalizadas, cabendo a nós indagá-las e repensá-las para construir novos referenciais, saudáveis, de nos relacionar e cuidar. Penso que o tema das agressões/relações complicadas entre lésbicas é invisível ainda, assim como há invisibilidade lésbica. Acho que deve ser trabalhada pela comunidade lésbica, por isso não acredito em abordagem penal [1] nem em estigmatização destrutiva das pessoas. Acho que existe dois tipos de agressora: as que reconhecem e que desconheciam até então que comportamentos podiam ser violentos (pois podemos reproduzí-los seja porque vivemos em lares violentos, aprendemos essas linguagens, seja porque nos identificamos com o agressor ao sermos abusadas ou agredidas, seja porque se naturalizava até então, por conta de romantismo que se pauta na idéia de conquista e insistência…) e as que não reconhecem e negam qualquer autocrítica. A gestão das situações de violência deve ser oportunidade para se pensar e refletir sobre. Dizer que algumas pessoas realmente “erraram” não é minimizar a situação nem o dano que promove. Somente penso que se exortamos nossos demônios pra fora como se fossemos todas perfeitas, e as lésbicas que reproduzem agressões e comportamentos complicados fossem um monstro dos mitos e meios jornalísticos, não o pensamos como parte do funcionamento de uma comunidade e entorno comum e logo não é por meio do escrache de uma lésbica que a gente vai garantir uma comunidade livre de abusos. Demonizamos e vilanizamos sujeitas e achamos que resolvemos o problema expulsando ele pra fora, mas todas podemos cometer agressões uma vez que nascemos num heteropatriarcado e estamos em um trabalho contínuo de nos desfazer dele.

Havia feito primeiramente com linguagem inclusiva porque achei que consentimento tinha que incluir o “respeito às identidades” e para dialogar com a pluralidade de pensamentos dentro do feminismo, mas como eu venho sendo crítica das categorias de análise propostas pelas políticas de identidade, e de forma a expressar meu  compromisso com mulheres e lesbiandade como projeto político e não identidade, eu retirei. 🙂 É só pra sapatão e mulher mesmo, logo é um zine específico.

Mais importante: a zine tá aberta a questionamentos e críticas e contribuições, principalmente se pensam que mais coisas poderiam ser agregadas a ela que tenham faltado, ou se querem questionar  e refletir a questão. Contatem hembrista @ riseup.net

***

[1] A não ser que o caso seja muito grave e precise dos meios legais e institucionais para ser parado. Tudo depende do que decida sobrevivente e com apoio de seu entorno. Mas acredito que são casos realmente graves que se deva apelar a qualquer meio judicial, ainda assim não creio na abordagem punitivista e sou completamente contrária ao escrache de lésbicas, acreditando que precisamos desenvolver uma forma não-heterocentrada de abordar os nossos problemas entre lésbicas.

Tradução “Tesouras para Todas: textos sobre Violência Machista nos movimentos sociais”

tijera para todasColetânea traduzida para português coletivamente e editada pela Subta, reúne textos sobre violência machista nos movimentos sociais e sua gestão, em experiências em espaços ocupados na Espanha.

Para baixar a coletânea tesouras para todas clique na imagem ou aqui.

abuso de confiança

Retirado do fanzine confabulando. Ele pode ser baixado aqui. (reservas quanto ao conteúdo pró-pornografia)

Dorme na cama acorda na lama . O feminismo acabou?

Tenho lido/ouvido/falado bastante com amigues sobre violência sexual, física e simbólica, praticada contra mulheres em cenas libertárias. Violência sexual, assédio e estupro são temas que marcaram minha vida, e a de muitas amigas. A quase totalidade de mulheres que conheço não só passou por experiências sexuais indesejadas como teve a descoberta de sua sexualidade inaugurada por algum tipo de violação física (que quase sempre deixou resquícios traumáticos ao longo de nossas vidas).
Essas ocorrências são tão usuais e freqüentes que fico espantada quando conheço alguém que não passou, por exemplo, por abuso na infância. E acho muito legal que possamos contar umas com as outras pra criar espaços seguros em que podemos, pelo menos, conversar sobre isso – nos fortalece, ajuda a dizer “não”, nos ajuda a localizar ou expressar nossa raiva, uma certa vergonha e o medo que temos quando não conseguimos dizer esse não, quando nosso não é ignorado.
( recentemente tenho pensado mais sobre isso, sobre o cara que, do outro lado – quando esse lado não é “em cima de você -, não é um cara genérico, um desconhecido que passa por você na rua e se sente no direito de fazer isso ou aquilo com seu corpo, ou com o corpo dele, de maneira a te intimidar, agredir, abusar. não é o estuprador sem nome, o que passa rápido por você na rua e passa a mão na sua bunda, o que, de dentro do carro, te chama disso ou daquilo. estou pensando no cara que tem um nome, que sai com a gente, que é amigo de outras amigas, que é militante ou toca numa banda. um ‘brother’, não um agressor. e mesmo assim é ele que se aproveita de quando você tá bêbada, ou cansada, ou de saia – entendendo isso como um sinal de que você quer trepar com ele, não importando o que você diga -. como é que esse cara consegue fazer isso com a gente e simplesmente continuar sua rotina no dia seguinte? como ele vai pra um ato, pra uma gig, pra uma reunião de coletivo, ou vai tomar uma cerveja e, no buteco, comenta com outros amigos (ou algumas amigas) sobre a noitada de ontem, depois de ter estuprado alguém?
Como ele consegue tirar a roupa de uma pessoa que ficou pra dormir na casa dele porque tava muito cansada ou bêbada (e agora pode estar acordada e chorando) e porque confia nele, de alguma forma, e penetrá-la contra sua vontade, passar a mão nela, imobilizá-la, ignorar seus gritos ou apelos ou pedidos?
Fico lembrando de quando as meninas íamos de saia pra ver umas bandas e não só estávamos sujeitas a dedadas (no mínimo), como também poderíamos ser ‘xingadas’ de promíscuas (“vadia”, “galinha”, “puta”, “piranha”, “já comi”) porque estávamos lá com aquelas roupas. o problema sempre somos nós e nossas roupas. nós e nossos corpos. Eles é que são óbvios e ficam marcados.
Não é óbvio que tal cara seja um estuprador. ninguém se refere a ele como “o fulano que embebeda as minas e estupra elas depois”. muito em parte porque

1) Além da mina e do cara, poucas pessoas vão saber disso e
2) Isso nem é considerado estupro por muitos caras. é como se fosse a punição por estarmos de saia dormindo/bêbadas/cansadas/ali.
no caso das meninas que gostam de beber essa punição é ainda mais exemplar, ela tem ares de castigo mesmo, já ouvi dois relatos de ocasiões diferentes sobre festas em que meninas bebiam, desmaiavam de bêbadas e eram sistematicamente estupradas por vários caras. Como se beber até cair, no caso das mulheres, fosse um convite explícito aos caras pra que façam fila e metam na gente enquanto estamos desacordadas, e depois ainda fiquem nos chamando de piranha pelas costas, com um ar de “ela mereceu”. Fico muito tempo pensando em como eles conversam sobre isso. Se não sentem constrangimento nenhum. Como nós temos nossas redes formais/informais/implícitas/explícitas de solidariedade feminina, eles terão espaços pra conversarem sobre esse tipo de coisa? Eles conseguem conversar com alguém sem acoplar um ar de conquista sexual à coisa? Eles dizem “fiz uma merda ontem”? Porque não é de um cara tosco que estou falando, é de um que não toma refrigerante porque boicota multinacional, é um militante de uma luta por mundos em que caibam outros mundos, um cara que faz escolhas políticas bacanas. como ele lida com essa separação entre o que é privado e o que é público? Por que caras que são legais em diversas instâncias continuam capazes de reproduzir os papéis mais cruéis do patriarcado? … e esse tanto de reflexão me traz de volta ao segundo título do texto.
E tenho visto (e sentido também) o cansaço de muitas feministas (ou mulheres que militam contra o patriarcado mas acham o rótulo “feminista” inadequado). às vezes não temos mais disposição pra sermos chamadas de “radical” o tempo todo. “chatas”, “loucas”, “exageradas”. e nos cansamos de ignorar certas piadas, comentários e olhares em nome de uma convivência ok com algumas pessoas. Isso significa que o feminismo acabou? Está ultrapassado?
É admissível que uma cena que se diga libertária tenha espaços pra violência e abuso baseadas em uma idéia de que alguns corpos estão a serviço de outros? Por que os discursos de liberação sexual não são acompanhados por práticas de libertação de papéis e comportamentos limitantes, exploradores, hierarquizantes, colonizadores?
Ainda estou tentando lidar com meu próprio cansaço. e esse texto é isso mesmo, um amontoado de perguntas que não consigo responder.

Consenso

1.
primeiro vai pedir. depois vai tentar. depois vai forçar. finalmente, vai tomar.
saia preta blusa roxa ou calça preta blusa preta? tênis, tênis confortável pra dançar (mas também correr se eu precisar) perfume brinco brilho gel no cabelo? gel no cabelo, ‘definidor de cachos’.

ele diz que é seu amigo. você pensa que é seu amigo. você age como amiga, não quer ser chata mesmo dizendo não.

barulho suor uma luz branca irritante tontura cerveja! cerveja! cerveja, eu adoro cerveja! ele dança, chega perto, sorridente, displicência, finje desinteresse mas passando a língua na boca daquele jeito nojento você tenta parar de mexer o quadril de um jeito determinado pra ele não entender errado.

ele entende errado. só entende o que quer. não respeita o que você não quer. não te respeita.

mais cerveja! eu adoro cerveja, cerveja me deixa alegre, a música me deixa alegre, dançar me deixa alegre, meu corpo cheio & tão leve cada vez mais alegre cada vez mais perto mais preocupada meio tonta sem noção mas sem vontade, nenhuma vontade de ficar com ele, mas se eu der um beijo nele ele vai embora? elemedeixa quieta? ele vai atrásdeoutra?

não vai. não deixa. ele fica, continua, contra a parede agora você não pode dançar nem respirar direito a língua dele corre como uma mão sufocando um pescoço mas suaboca suorelha, a mão dele é como uma língua pegajosa dentro do seu decote, dentro do decote, decote? por que eu vim de decote?

você bebeu demais, ele também. ele quer vomitar. ele te pede pra ir lá fora com ele, pede ajuda porque tá passando mal. você pode aproveitar pra ir embora, mas se ele tiver mentindo, mas se for só uma desculpa pra ficar longe de olhos além dos seus, o que você vai fazer? ele também usando tênis bom pra correr.

Fazer Limpeza

texto sobre gestão de violência em movimento social, extraído del períodico de Barcelona “Antisistema” número 15, junho de 2008.

No marco do movimiento libertário existe uma tendência unificadora que fortalece a coesão interna de um grupo já suficientemente isolado e rejeitado pelo exterior para que possa por em dúvida sua própria coerência desde dentro. Desta maneira, apesar das múltiplas diferenças ideológicas, as richas entre organizações e as disputas pessoais, sempre será arriscado pôr em dúvida a Correção política de um companheiro sobretudo no que se refere a tratamento desigual ou vexatório às mulheres. No caso das mulheres é diferente já que ao não vir acompanhada sua militância com uma auréola de entrega e heroísmo comparável a dos caras, tampouco sua falta de coerência é um feito grave ao considerarse que é de esperar sua falta de madurez política e sua debilidade ante as adversidades.

Acusar um “militante destacado” de agressão física, sexual ou psicológica a uma mulher (seja ou não sua companheira) supôe, em geral submeter-se a um interrogatório por parte de um entorno que atuará judicialmente, contrapesando a validez e a gravidade dos feitos, assim como os possíveis atenuantes do agressor para sua conduta (atitude e modo de vestir da menina, uso de alcool ou drogas…). A dúvida e a desconfiança será o primeiro com que se encontrará uma companheira ao denunciar públicamente uma situação de abuso, em parte por causa da busca de coesão interna para prevení-la des-membração de um grupo suficientemente ameaçado pelos perigos externos (isolamento social, repressão policial ,… ) mas sobretudo pela desvalorização da palavra da mulher em um movimento altamente masculino e masculinizante e pela percepção de “assuntos privados” que ainda pervive respeito às problemáticas de violência contra as mulheres.

Mas a dúvida sobre se os acontecimentos ocorreram realmente não será a única coisa com que terá que se enfrentar uma mulher que denuncia públicamente, no marco do políticamente correto, uma agressão por parte de um militante ou de um homem do entorno político. As mulheres que militam em organizações, grupos ou centros sociais de cariz libertário ou alternativo se auto-impôem, em muitas ocasiões, uma férrea dureza emocional para poder igualar-se com os homens que dificultará a própria percepção como mulher abusada ou agredida. Uma mulher feminista ou não sexista deve ser uma mulher autônoma e forte, imagem que se contrapôe no imaginário coletivo com a vítima de abusos ou de violência que se percebe como uma mercadoria defeituosa; uma mulher com baixa auto-estima, vulnerável e inclusive com desequilíbrios emocionais ou psicológicos derivados da agressão. Quê mulher feminista gostaria de identificar-se com esses parâmetros? E mais: da onde nasce essa percepção moralizante e vitimista das agressões físicas, psicológicas ou sexuais às mulheres?

Se partimos da base de que as mulheres que devem resolver e combater as agressões de nosso entorno, mediante a solidariedade e o apoio por uma parte e mediante a dureza e a violência por outra, então também devemos nós mesmas refletir sobre a violência e de nossa cumplicidade quanto a algumas condutas ou crenças que podem conduzir a ela.

A confissão por parte de uma mulher feminista OU “não sexista” de ser vítima de abusos, ou ter sido vítima de agressão sexual ou qualquer outra forma de violência genérica, corre o risco de converter-se em um talk-show mórbido e lacrimógeno e, no melhor dos casos, quer dizer, naqueles casos em que a mulher disponha de um grupo de mulheres de apoio, é muito provável que apesar de partir das melhores intenções, se acabe vitimizando à mulher fazendo ela se sentir ainda mais vulnerável. A reflexão, o apoio e a afetuosidade devem ser primordiais ao abordar uma problemática de violência contra uma companheira mas isso não nos livra de ter em conta que nenhuma característica define especialmente as mulheres agredidas, todas e cada uma de nós estamos em perigo, uma de nós está em perigo, partir de essa premissa nos afasta do vitimismo.

Vamos lá amigal! Quê você esperava? Isso podia acontecer com você, vamos combater juntAs!

O mito do “isso aqui não acontece” que se faz evidente na dúvida ante a denúncia pública de uma mulher vítima de abusos ou agressão por parte de um homem do entorno
político, nega a realidade e prejudica as mulheres. A ninguém lhes ocorreria duvidar de um companheiro que afirma ter sido vítima de violência policial ou de ter sofrido uma agressão por parte de um grupo fascista e muito menos se exigiria a este explicar detalhadamente como ocorreram os acontecimentos de tortura para verificar sua autenticidade. Porém ante uma agressão sexista a uma mulher muitos homens e mulheres se dotam da legitimidade para duvidar o interrogar a agredida e inclusive minimizar os fatos ou relegá-los à categoría de “assunto privado”. Posto que o pertencer a um movimento político não é garantia nem de pureza nem de retitude moral ou política ao não existir mais condição de pertinência que a própria iniciativa e posto que os assuntos relacionados com a luta das mulheres são minimizados, ridicuralizados ou diretamente rejeitados, podemos supôr que em nosso entorno hajam muitos homens com escasso compromisso com os valores anti-patriarcais e que alguns deles podem exercer como agressores ante um entorno que justificaria ou minimizaria sua ação. A crença de que as agressões às mulheres sucedem mais além de nosso entorno político, entorno que se mostra desde esta perspectiva, limpo e distante dos valores morais patriarcais, nos deixa indefesas ao negar uma realidade que se impôe de maneira brutal uma vez atrás da outra.

Por outro lado, alguns feminismos estiveram alimentando a idéia de que as mulheres devem permanecer distantes e protegidas do risco que supôe viver em um corpo sexuado de mulher e que deve ser a proteção estatal, a compreensão institucional e as medidas positivas as responsáveis de salvaguardar nossa integridade. Esta crença que se corresponde com um feminismo institucional e anti-revolucionário impregnando as crenças de muitos outros movimentos de mulheres anti-sexistas que se escandalizam ante os sucessos de violência de gênero ao comprovar que a via dialogada, mixta e apaziguadora não provocou mudança alguma nos homens de nosso entorno político ou no melhor dos casos há gerado um espaço de tolerância restrita aos preceitos feministas. O feminismo deve esvaziar-se da correção casposa que vem arrastando há décadas, as mulheres feministas devemos afastar-nos de uma vez por todas da comodidade da correção política e as pretensões de “intocabilidade” e aceitar que enquanto isto não mude (e não parece que isso vá ocorrer tão breve) em qualquer espaço público ou privado, político ou corrente corremos um risco. Agora, esse risco não deve perceber-se desde o medo e a aceitação passiva senão que desde o combate; assumir que o risco forma parte intrínseca de nossa existência como mulheres é aprender a combatê-lo e sobretudo é não derrubar-se quando o risco se converte em agressão: assim é a guerra!

A percepção da luta anti-patriarcal desde uma perspectiva mixta elude o componente do risco. Os ambientes mixtos geram um falso ambiente conciliador o qual faz parecer que os homens compartem nossas mesmas estratégias e finalidades, des-legitimando o uso da violência por parte das mulheres ao considerar que esta é uma medida extremista quando a mediação parece dar bons resultados. Bons resultados que desvanecem quando as exigências por parte das mulheres aumentam e quando estas já não estão dispostas a viver ou militar sob o jugo masculino.

Desta maneira, quando surgem iniciativas separatistas e excludentes que defendem o uso da violência contra os homens que se proclamem em guerra aberta contra as mulheres, o resto não será capaz de unir-se por cumplicidade ideológica senão que o farão por solidariedade de gênero. Ou seja, a tendência marjoritariamente masculina
será a de outros homens fazendo filas em torno a outros homens (incluindo em torno aos agressores) antes de mostrarem-se solidários com as mulheres, como exigiria uma lógica coerência, já que isso colocaria em entredito sua masculinidade e seria uma falta grave de incumprimento da normativa hegemônica de gênero segundo a qual, a irmandade masculina deve permanecer unida.

Assumindo os riscos intrínsecos de nossa própria condição o logro de nossa autonomia virá condicionado a nossa capacidade de combatê-los. O uso da violência e a prática agressiva será primordial para nos defender ante uma agressão mas a des-vitimização e des-categorização das mulheres agredidas também vai supôr uma prática libertadora, ao minimizar o poder e o domínio masculino e nos situar em igualdade de forças combativas. Supôr por exemplo que uma mulher que tenha sido agredida não poderá superar este fato traumático, ou ainda que este ocorrido condicionará suas atividades, será mais frágil ou vulnerável, dota ao homem agressor de um poder extra-limitado e ao mesmo tempo, infantiliza a mulher agredida. Razão pela qual muitas mulheres omitem o fato de terem sido vítimas de agressões ao não querer apresentar-se perante as demais deste modo – ocorrência que invisibiliza muitos casos de violência.

Quantas de nós conhecemos a homens com altas doses de sexismo, homens de tratamento pejorativo com relação às mulheres, homens que consideram as mulheres como objetos e que em troca gozam de uma consideração e de uma valorização excelente por parte do restante? Um homem prototípicamente revolucionário, um cretino e caricaturesco macho enérgico e ousado com capuz negro e pedra na mão que adora os ambientes mixtos que lhe permitem pavonear-se e mostrar seus dotes mas que detesta os grupos de mulheres que o excluem ao mesmo tempo que prescindem de seus encantos de sedutor. Este ou qualquer outro prototipo que nos venha à mente, capaz de criticar a uma mulher ou considerá-la menos inteligente por vestir-se demasiadamente feminina, e inclusive mulheres que reproduzem estes mesmos padrões, são comuns em nossos entornos políticos.

A surpresa e desconcerto que geram os episódios de violência contra as mulheres em nossos entornos politizados se nutrem do desconhecimento e da hipocrisia. A negação, a aceitação e inclusive a falta de contundência nas respostas ante os mais mínimos indícios são covardes cúmplices da violência contra as mulheres, e neste caso, em todas nós há algo que em maior ou menor medida cheira a podridão.

Façamos limpeza!

Laura