A história de Rote Zora e as Células Revolucionárias. Grupo de Guerrilha Urbana feminista dos 70′

12362697_1724057691147748_6718018665156552408_oTradução e edição em livreto de texto com a história do grupo de guerrilha urbana feminista alemão que atuou nos anos 70 e 80 com ações diretas, colocação de artefatos explosivos em companhias médicas, bancos, empresas, sabotagens, ataques a responsáveis, etc. O livreto editado por Herética edições lésbicas e feministas independentes vem com a história do grupo + uma entrevista com integrantes, onde elas falam sobre radicalidade, autonomia, feminismo, movimento de mulheres, táticas, uso de viiolência revolucionária por parte das mulheres, dentre outras coisas. Uma reflexão importantíssima que vai além da inspiração insurgente, nos convoca a pensar o movimento feminista em uma perspectiva radical, revolucionária, anti-Estado, aliado à luta anticapitalista, anti-racismo, anti-imperialismo, anti-ecocídio internacionalista e indaga o feminismo sobre o alcance real das estratégias institucionais e demandistas no qual este se vê enredado, com marchas pacifistas rotineiras que não obtêm muito resultado.

 

“Sabemos que este ‘estado normal’ vai acompanhado de uma falta de resistência militante. A opressão se faz visível pela resistência. Por isso sabotamos, nos vingamos pela violência sofrida e pela situação humilhante, por meio dos ataques contra os responsáveis”. “Por quê não tem um efeito intimidatório o tráfico de mulheres, mas sim colocar fogo no carro do traficante? No fundo, pensar assim é ter aceitado que a violência exercida pela sociedade é legítima, enquanto que uma resistência adequada seria intimidadora! É possível que intimide, que assuste a muito/as que questionamos o que parece natural, que estejam assustadas também muitas mulheres que desde pequenas a quem lhes foi ensinadas um comportamento passivo, de vítima, ao se verem confrontadas com o fato de que AS MULHERES NÃO SÃO VÍTIMAS NEM PACIFISTAS. Isso é um fato, convida a pensar algo. As mulheres que com raiva sofrem com sua incapacidade individual se identificam com nossas ações. Da mesma maneira que um ato violento contra uma única mulher cria um clima de ameaça contra todas, nossas ações – embora estejam dirigidas contra alguns responsáveis específicos – contribuem para criar o clima de uma consciência: A RESISTÊNCIA É POSSÍVEL!” (…) “Nosso sonho é que em todos lados se formem pequenos bandos; que em cada cidade o estuprador, o negociante de pornografia, o ginecólogo repugnante, etc, tenham medo ante seu desmascaramento, ante um ataque, ante a denúncia pública, etc”.

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lésbicas radicais autônomas sofrem violência lesbofóbica dentro do ato do 8 de março em SP

Difundimos e declaramos nossa sororidade às companheiras.

Lésbicas Radicais Autônomas mascaradas sofrem violência e perseguição dentro do ato do 8 de março em SP por parte dos militantes da FLM (Frente de Luta por Moradia). Leia a nota completa delas:

Relato de violência lesbofóbica e criminalização dos movimentos sociais dentro do ato do 8 de março em SP, e reflexão sobre o ódio anti-lésbicas dentro do movimento feminista atual

Ato de Sororidade a Yakiri em São Paulo, presa por se defender de agressor sexual

Segunda, 24 de março às 11:00
Rua Holanda, 274. Jardim Europa – CEP 01446-030 – São Paulo/SP

mexico(3)No dia 9 de dezembro de 2013 Yakiri Rubí Rubio Aupart, uma jovem lésbica de 20 anos e de origem indígena da Cidade do México, DF, reagiu a uma brutal violência: sequestro seguido de estupro e tentativa de assassinato, perpetrada pelos agressores Luis Omar y Miguel Ángel Ramírez Anaya. Yakiri conseguiu desarmar um dos agressores que empunhava a faca que era utilizada para ameaçá-la, subjulgá-la e torturá-la e com a mesma arma conseguiu desferir um golpe em um deles, que, em consequência, acabou morrendo.

Yakiri conseguiu fugir e procurou a delegacia de polícia. Quando chegou lá foi surpreendida com a presença de um dos estupradores que lhe acusava de matar seu comparsa. E qual foi a reação da polícia? Proceder a exames de corpo de delito para tentar iniciar um processo que pudesse levar a Yakiri uma sensação de justiça? Não. A polícia, um dos braços repressivos mais eficazes em incutir nos nossos corpos de mulheres, lésbicas e pessoas trans as normas do heteropatriarcado, achou por bem indiciar a Yakiri por homicídio qualificado.

Deu-se início a toda uma série de trâmites dos sistemas de burocracia jurídica misóginos e lesbófobicos que só fizeram repetir uma e outra vez a violência da qual Yakiri logrou sobreviver. No final, Yaki foi enviada à prisão por “uso excessivo de autodefesa” e de onde só saiu depois de 86 dias e sob uma fiança exorbitante de 430 mil pesos mexicanos (o equivalente a 5 mil salários mínimos), preço que lhe obrigaram a pagar para aguardar o julgamento em “liberdade”.

O sistema jurídico e repressivo nesse caso mais uma vez atuou como parte de uma grande engrenagem de castigo que se debruçou sobre Yakiri assim como se debruça sobre cada uma de nós que ousa sair do espaço de submissão a nós reservado. Yakiri se defendeu, conseguiu não ser morta e lutou contra o destino que lhe traçaram: do estupro como castigo por sapatão e insubmissa e do feminicídio como assassinato político. Para essa gigantesca forma de opressão e repressão nos defender do abuso, da invasão dos nossos corpos e da aniquilação política é abusivo. É abuso de legitima defesa. E nesse sentido perguntamos: pode a autodefesa ser abusiva?

Yakiri foi sequestrada e violada por agressores machistas. Depois foi sequestrada e violada pelo estado porque as prisões não são nada mais do que a institucionalização do sequestro e da violação, a materialização brutal de violências heteropatriarcais, racistas e classistas. Por isso dizemos que esse sistema de justiça não é o nosso. Nunca poderemos obter justiça de instituições cujo objetivo é nos manter dóceis e sob controle para que privilégios heteropatriarcais possam seguir existindo. Contra a agressão machista, autodefesa feminista!
Por todas as mulheres, lésbicas e pessoas trans que sucumbiram nas ensanguentadas mãos do heteropatriarcado e que pagaram com suas vidas, com seus sonhos, ou que foram encerradas detrás das grades das prisões. Por todas as que resistiram e por todas as que resistimos.

Dizemos mais uma vez:
Nenhuma agressão sem resposta!
Nem uma morta a mais!
Abaixo os muros de todas as prisões, tanto as físicas e como as simbólicas!

#YakiLibre
#YakiriLibre

Coletiva amazonas em fúria

Mais info:
http://yakilivre.noblogs.org/post/2014/03/19/yakiri-livre/

https://rizoma.milharal.org/2014/02/10/eu-teria-feito-o-mesmo-campanha-pede-libertacao-de-mexicana-presa-por-matar-seu-estuprador/

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feministas autonomas mexicanas se manifestam nas ruas pela liberdade de yakiri. Fonte http://lahoguera.confabulando.org

Tradução “Tesouras para Todas: textos sobre Violência Machista nos movimentos sociais”

tijera para todasColetânea traduzida para português coletivamente e editada pela Subta, reúne textos sobre violência machista nos movimentos sociais e sua gestão, em experiências em espaços ocupados na Espanha.

Para baixar a coletânea tesouras para todas clique na imagem ou aqui.

Fazer Limpeza

texto sobre gestão de violência em movimento social, extraído del períodico de Barcelona “Antisistema” número 15, junho de 2008.

No marco do movimiento libertário existe uma tendência unificadora que fortalece a coesão interna de um grupo já suficientemente isolado e rejeitado pelo exterior para que possa por em dúvida sua própria coerência desde dentro. Desta maneira, apesar das múltiplas diferenças ideológicas, as richas entre organizações e as disputas pessoais, sempre será arriscado pôr em dúvida a Correção política de um companheiro sobretudo no que se refere a tratamento desigual ou vexatório às mulheres. No caso das mulheres é diferente já que ao não vir acompanhada sua militância com uma auréola de entrega e heroísmo comparável a dos caras, tampouco sua falta de coerência é um feito grave ao considerarse que é de esperar sua falta de madurez política e sua debilidade ante as adversidades.

Acusar um “militante destacado” de agressão física, sexual ou psicológica a uma mulher (seja ou não sua companheira) supôe, em geral submeter-se a um interrogatório por parte de um entorno que atuará judicialmente, contrapesando a validez e a gravidade dos feitos, assim como os possíveis atenuantes do agressor para sua conduta (atitude e modo de vestir da menina, uso de alcool ou drogas…). A dúvida e a desconfiança será o primeiro com que se encontrará uma companheira ao denunciar públicamente uma situação de abuso, em parte por causa da busca de coesão interna para prevení-la des-membração de um grupo suficientemente ameaçado pelos perigos externos (isolamento social, repressão policial ,… ) mas sobretudo pela desvalorização da palavra da mulher em um movimento altamente masculino e masculinizante e pela percepção de “assuntos privados” que ainda pervive respeito às problemáticas de violência contra as mulheres.

Mas a dúvida sobre se os acontecimentos ocorreram realmente não será a única coisa com que terá que se enfrentar uma mulher que denuncia públicamente, no marco do políticamente correto, uma agressão por parte de um militante ou de um homem do entorno político. As mulheres que militam em organizações, grupos ou centros sociais de cariz libertário ou alternativo se auto-impôem, em muitas ocasiões, uma férrea dureza emocional para poder igualar-se com os homens que dificultará a própria percepção como mulher abusada ou agredida. Uma mulher feminista ou não sexista deve ser uma mulher autônoma e forte, imagem que se contrapôe no imaginário coletivo com a vítima de abusos ou de violência que se percebe como uma mercadoria defeituosa; uma mulher com baixa auto-estima, vulnerável e inclusive com desequilíbrios emocionais ou psicológicos derivados da agressão. Quê mulher feminista gostaria de identificar-se com esses parâmetros? E mais: da onde nasce essa percepção moralizante e vitimista das agressões físicas, psicológicas ou sexuais às mulheres?

Se partimos da base de que as mulheres que devem resolver e combater as agressões de nosso entorno, mediante a solidariedade e o apoio por uma parte e mediante a dureza e a violência por outra, então também devemos nós mesmas refletir sobre a violência e de nossa cumplicidade quanto a algumas condutas ou crenças que podem conduzir a ela.

A confissão por parte de uma mulher feminista OU “não sexista” de ser vítima de abusos, ou ter sido vítima de agressão sexual ou qualquer outra forma de violência genérica, corre o risco de converter-se em um talk-show mórbido e lacrimógeno e, no melhor dos casos, quer dizer, naqueles casos em que a mulher disponha de um grupo de mulheres de apoio, é muito provável que apesar de partir das melhores intenções, se acabe vitimizando à mulher fazendo ela se sentir ainda mais vulnerável. A reflexão, o apoio e a afetuosidade devem ser primordiais ao abordar uma problemática de violência contra uma companheira mas isso não nos livra de ter em conta que nenhuma característica define especialmente as mulheres agredidas, todas e cada uma de nós estamos em perigo, uma de nós está em perigo, partir de essa premissa nos afasta do vitimismo.

Vamos lá amigal! Quê você esperava? Isso podia acontecer com você, vamos combater juntAs!

O mito do “isso aqui não acontece” que se faz evidente na dúvida ante a denúncia pública de uma mulher vítima de abusos ou agressão por parte de um homem do entorno
político, nega a realidade e prejudica as mulheres. A ninguém lhes ocorreria duvidar de um companheiro que afirma ter sido vítima de violência policial ou de ter sofrido uma agressão por parte de um grupo fascista e muito menos se exigiria a este explicar detalhadamente como ocorreram os acontecimentos de tortura para verificar sua autenticidade. Porém ante uma agressão sexista a uma mulher muitos homens e mulheres se dotam da legitimidade para duvidar o interrogar a agredida e inclusive minimizar os fatos ou relegá-los à categoría de “assunto privado”. Posto que o pertencer a um movimento político não é garantia nem de pureza nem de retitude moral ou política ao não existir mais condição de pertinência que a própria iniciativa e posto que os assuntos relacionados com a luta das mulheres são minimizados, ridicuralizados ou diretamente rejeitados, podemos supôr que em nosso entorno hajam muitos homens com escasso compromisso com os valores anti-patriarcais e que alguns deles podem exercer como agressores ante um entorno que justificaria ou minimizaria sua ação. A crença de que as agressões às mulheres sucedem mais além de nosso entorno político, entorno que se mostra desde esta perspectiva, limpo e distante dos valores morais patriarcais, nos deixa indefesas ao negar uma realidade que se impôe de maneira brutal uma vez atrás da outra.

Por outro lado, alguns feminismos estiveram alimentando a idéia de que as mulheres devem permanecer distantes e protegidas do risco que supôe viver em um corpo sexuado de mulher e que deve ser a proteção estatal, a compreensão institucional e as medidas positivas as responsáveis de salvaguardar nossa integridade. Esta crença que se corresponde com um feminismo institucional e anti-revolucionário impregnando as crenças de muitos outros movimentos de mulheres anti-sexistas que se escandalizam ante os sucessos de violência de gênero ao comprovar que a via dialogada, mixta e apaziguadora não provocou mudança alguma nos homens de nosso entorno político ou no melhor dos casos há gerado um espaço de tolerância restrita aos preceitos feministas. O feminismo deve esvaziar-se da correção casposa que vem arrastando há décadas, as mulheres feministas devemos afastar-nos de uma vez por todas da comodidade da correção política e as pretensões de “intocabilidade” e aceitar que enquanto isto não mude (e não parece que isso vá ocorrer tão breve) em qualquer espaço público ou privado, político ou corrente corremos um risco. Agora, esse risco não deve perceber-se desde o medo e a aceitação passiva senão que desde o combate; assumir que o risco forma parte intrínseca de nossa existência como mulheres é aprender a combatê-lo e sobretudo é não derrubar-se quando o risco se converte em agressão: assim é a guerra!

A percepção da luta anti-patriarcal desde uma perspectiva mixta elude o componente do risco. Os ambientes mixtos geram um falso ambiente conciliador o qual faz parecer que os homens compartem nossas mesmas estratégias e finalidades, des-legitimando o uso da violência por parte das mulheres ao considerar que esta é uma medida extremista quando a mediação parece dar bons resultados. Bons resultados que desvanecem quando as exigências por parte das mulheres aumentam e quando estas já não estão dispostas a viver ou militar sob o jugo masculino.

Desta maneira, quando surgem iniciativas separatistas e excludentes que defendem o uso da violência contra os homens que se proclamem em guerra aberta contra as mulheres, o resto não será capaz de unir-se por cumplicidade ideológica senão que o farão por solidariedade de gênero. Ou seja, a tendência marjoritariamente masculina
será a de outros homens fazendo filas em torno a outros homens (incluindo em torno aos agressores) antes de mostrarem-se solidários com as mulheres, como exigiria uma lógica coerência, já que isso colocaria em entredito sua masculinidade e seria uma falta grave de incumprimento da normativa hegemônica de gênero segundo a qual, a irmandade masculina deve permanecer unida.

Assumindo os riscos intrínsecos de nossa própria condição o logro de nossa autonomia virá condicionado a nossa capacidade de combatê-los. O uso da violência e a prática agressiva será primordial para nos defender ante uma agressão mas a des-vitimização e des-categorização das mulheres agredidas também vai supôr uma prática libertadora, ao minimizar o poder e o domínio masculino e nos situar em igualdade de forças combativas. Supôr por exemplo que uma mulher que tenha sido agredida não poderá superar este fato traumático, ou ainda que este ocorrido condicionará suas atividades, será mais frágil ou vulnerável, dota ao homem agressor de um poder extra-limitado e ao mesmo tempo, infantiliza a mulher agredida. Razão pela qual muitas mulheres omitem o fato de terem sido vítimas de agressões ao não querer apresentar-se perante as demais deste modo – ocorrência que invisibiliza muitos casos de violência.

Quantas de nós conhecemos a homens com altas doses de sexismo, homens de tratamento pejorativo com relação às mulheres, homens que consideram as mulheres como objetos e que em troca gozam de uma consideração e de uma valorização excelente por parte do restante? Um homem prototípicamente revolucionário, um cretino e caricaturesco macho enérgico e ousado com capuz negro e pedra na mão que adora os ambientes mixtos que lhe permitem pavonear-se e mostrar seus dotes mas que detesta os grupos de mulheres que o excluem ao mesmo tempo que prescindem de seus encantos de sedutor. Este ou qualquer outro prototipo que nos venha à mente, capaz de criticar a uma mulher ou considerá-la menos inteligente por vestir-se demasiadamente feminina, e inclusive mulheres que reproduzem estes mesmos padrões, são comuns em nossos entornos políticos.

A surpresa e desconcerto que geram os episódios de violência contra as mulheres em nossos entornos politizados se nutrem do desconhecimento e da hipocrisia. A negação, a aceitação e inclusive a falta de contundência nas respostas ante os mais mínimos indícios são covardes cúmplices da violência contra as mulheres, e neste caso, em todas nós há algo que em maior ou menor medida cheira a podridão.

Façamos limpeza!

Laura

 

Por que ela não está nem aí para sua Insurreição

nemaiinsurreição

“Por Que Ela Não Tá Nem Aí Pra Sua Insurreição é um texto que fala sobre machismo num contexto específico de Nova Iorque, na cena anarquista insurrecionária da qual a autora faz parte. Ela faz uma crítica sobre como o machismo está presente mesmo neste contexto, pois as mulheres enfrentam a opressão do patriarcado fora, mas também dentro de espaços anarquistas/libertários. Poderíamos dizer espaços supostamente anarquistas e libertários e não estaríamos sendo radicais, apenas sendo coerentes, pois não é possível que nestes espaços o machismo seja aceito, que seja uma opressão praticada como normalidade ou mesmo “apenas” ignorado. Não é possível ignorar o machismo. Isso só acontece porque existe interesse em manter as mulheres sob domínio dos homens. Lendo o texto percebemos que é uma situação análoga as cenas das quais nós também nos encontramos. Boa leitura.”

traduzido e editado por Ação Anti Sexista

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Como a polícia reforça a cultura de estupro

por stavvers

texto que fala papel que a polícia joga na legitimação da cultura de estupro

+Aviso de acionadores: esta postagem discute estupro, cultura de estupro e abuso de poder.+
A polícia, como sabemos, tem uma terrível e larga história com relação ao estupro. Alegações são muitas vezes não tomadas a sério e, em algumas situações, a polícia ativamente fabrica papéis para fazer os casos sumirem. É dificilmente uma surpresa o fato de que a vasta maioria dos casos de estupro não sejam reportados.

A mulher que foi desapontada pela polícia depois de ter encontrado a coragem para reportar seu estupro sabe isso muito bem, e três delas estão processando o funcionário pelo tratamento que receberam. Duas requerentes foram atacadas pelo estuprador serial John Worboys que poderia ter sido capturado anteriormente se a polícia tivesse escutado às mulheres.

A polícia não escuta. Porém, o oposto também é verdade

“Isso soa nos meus ouvidos ainda, o oficial dizendo ‘um taxista não poderia fazer isso'” ela (uma sobrevivente) diz.

“Isso parecia como se eles não quisessem saber. Em meus sonhos, eu gritava ‘por que você não acredita em mim?'”.
Meu coração dói por essa mulher. A esmagadora descrença em seu relato, depois de que uma violação horrificante ocorreu.

O comportamento do policial aqui é uma das manifestações mais declaradas da cultura de estupro: não acreditar na sobrevivente. Talvez o oficial tenha atuado de boa fé, não querendo maliciosamente jogar fora um caso de estupro (como muitos tiveram). Talvez o oficial apenas absorveu algumas frases de estoque e atitudes da cultura de estupro.

Isso não faz diferença. O policial possui uma posição única de poder: de última, eles decidem se eles vão se incomodar em ajudar uma sobrevivente. Cada momento da lógica da cultura de estupro está fracassando para a sobrevivente que pediu socorro. Cada investigação capenga e mal feita está falhando com a sobrevivente. Cada documento fraudulento jogado no caso está falhando com a sobrevivente. Estas sobreviventes escolheram perseguir um certo curso de ação, ativamente engajando-se com o estado para pedir o auxílio deste.

E eles estão falhando com esta.
Quem se beneficia destes arranjamentos? Estupradores. Cada vez que isso ocorre, as coisas se tornam um pouco mais fáceis pros estupradores. Elessabem que podem se sair bem dessa. Eles sabem que as chances estão a seu favor porque o estado os vai ajudar nessa.

A cultura de estupro apenas sempre beneficia estupradores, e a polícia está usando seu poder para reforçar isso.

Entre 2008 e 2012, houveram 56 casos documentados de estupro, agressão sexual e assédio. Em muitos destes casos, as reclamações foram encobertas e a sobrevivente desacreditada. Em um número assustadoramente largo dos casos, nenhuma acusação criminal foi sequer trazida. É duramente surpreendente, então, que a polícia possua um interesse implícito em manter a cultura de estupro em uma gritante boa saúde: eles estão se beneficiando disso.
Eu sou totalmente crítica da noção de que o poder que a polícia possui possa ser usado para o bem, para ajudar a superar a cultura de estupro desde cima. No melhor dos casos, a polícia pode apenas ser tão progressista quanto a sociedade que a gerou, então eles estarão ainda pisando na cultura de estupro. Isso sem calcular os efeitos psicológicos que tornam todos policiais em bastardos.

Há um vasto caminho para a melhora depois da revolução, no entanto. Eles podem, muito facilmente, parar de tão ativamente reforçar a cultura de estupro começando por uma posição de sempre acreditar na sobrevivente, mesmo que seja seu parceiro o acusado. Eles podem, muito facilmente, na verdade se importar em investigar os casos de estupro apropriadamente, respeitando a coragem da sobrevivente de ter seguido adiante com a denúncia. Melhoras são possíveis. Eu desejaria ser menos pessimista sobre o desejo das forças policiais em tentá-lo.

https://stavvers.wordpress.com/2012/07/21/how-the-police-enforce-rape-culture/

pequena nota sobre a glorificação e hierarquização machista da violência no anarquismo

tradução de comentário retirado da revista Homnicidium Ediciones Nihilistas y Antipatriarcales, mais comentários próprios.

Uma explosão material pode não implicar nenhuma explosão de Si mesme

Este número foi aberto com a seguinte frase da CCF1“A aposta é não deixar que esta versão alienada e patriarcal da violência anarquista se estabeleça em nosso interior e, a cada dia dar nossas próprias batalhas pessoais para não nos tornar-nos catives das imitações pálidas do Poder”.

“O materialismo manifesto que se aprecia no texto primeiro, é muito similar em tal aspecto a muitas das reivindicações da FAI/FRI2 e a outros textos como o recente “As malignas gargalhadas de uns espíritos muito livres ou Não nos defendas compadre que a Anarquia sabe defender-se sozinha!”, que não contém mais que “críticas” repetidas até sua vacuidade voltados à impossibilidade de avançar aprofundando que concluem sempre na (exclusiva) exortação à ação netamente material de incendiar, explodir, matar, etc.

Com isso, e me remetendo à frase que escolhi para abrir este número, quero – embora de maneira nada exaustiva desta vez – evidenciar em tal materialismo uma sobrevaloração da violência, que identifico como valor patriarcal.

Dita sobrevaloração ocorre dentro do paradigma masculino bélico no qual a violência (e a guerra) é uma gesta heróica, glorificada e sacralizada que desvalorizando, anula os campos de experimentação criativos, emocionais, intelectuais, energéticos, e outros.

É tão universal a aceitação desta violência, que inclusive es mais “revolucionaries” e “nihilistas” assumem o uso da violência em uma lógica que não se posiciona FORA das realidades a se atacar, senão dentro destas mesmas e seus sistemas dicotômicos de referência e identificação:

Unes têm razões altruístas ou a propriedade da “verdade” para fazer uso da violência e, a violência do “inimigo” satanizado e vilanizado porta a pior ameaça para a “liberdade”. 3

Unes são os boms e outres os maus.

“Quem não está comigo está contra mim”. (…)

Esboçando brevemente algumas características desta sobrevaloração materialista, observo também a consequente supressão de expressões que não sejam as de vingança, ódio, desprezo ou outras emoções “duras” ou “masculinas” que ademais, funcionam como uma corda que ata ae Individue a um mundo que, se supôe, lhe resulta alheio.

Adverto aqui também a jaula de expressividade que em outro momento falei.

O modelo bélico enraizou tão profundamente na mente das pessoas que inclusive as relações de Afinidade sucumbiram a estas lógicas. Basta com pensar no uso do termo “guerrilha urbana” para identificar-se como grupo ou individualmente, em prol do puro interesse pessoal ou da experimentação da Afinidade como caudal de paixões, potenciamento, calor, intro-destruição, e mais.. – devenindo ocasionalmente explosiva. 4

Não há possível Afirmação como Individue quando se permanece dentro dos sistemas de referência valorizados neste mundo.” 5


1 Conspiração Células de Fogo, grupe de guerrilha urbana informal que atua no território grego.

2 Federação Anarquista Informal, criada na Itália, um grupo informal insurrecional.

3 Me incomoda MUITO essa linguagem maniqueísta no anarquismo, me parece inclusive infantil. É tanta construção com base numa antítese em relação a um outro demonizado, tanta excisão de aspectos do próprio eu que se desprezam, que os anarquistas acabam se tornando a mais pura expressão do autoritarismo e todas coisas detestáveis do sistema que tanto afirmam opôr-se e definir-se em negatividade. (Nota da Tradutora)

4 Esse masculinismo que parece com a medição e exibição de falos entre a camaradagem masculina, inclusive é um dos grandes entraves no estabelecimento de uma cultura de segurança, não sendo muitos os que colocam em risco pessoas por gabar-se de atos criminais e ilegais. Acabam também lamentávelmente não pondo em risco somente a eles mesmos, mas também às idéias (N.T.).

5 Numa sociedade patriarcal, onde o valor é o homem, não é a toa que aquilo que se identifica com a masculinidade seja mais valorado, como é o caso da ação violenta em contraposição a outras ações anti-sistêmicas, com tanto ou mais potencial de destruição que uma ação direta física. Afinal pra acabar com esse mundo se levará mais que bombas, e o ato de construir (novas relações, novos valores, etc), que é talvez mais trabalhoso, lento e exigente, é também um ato de destruição mais radical.

Também acho que a identificação com masculino, na velha análise feminista, é identificar-se com o Poder, no caso o poder masculino, é recuperar um ‘falo’ que a mulher não possuiria segundo o discurso patriarcal. Quando temos internalizado o colonizador e seus valores, querer se parecer com ele também passa por querer se tornar mais ‘masculina’, e portanto, virulenta, diferenciar-se das demais mulheres e não querer ser uma, querer identificar-se com a potência, com a agressão, com a masculinidade como mecanismo de falsa solução a baixa-auto-estima de gênero. No sistema simbólico patriarcal, as mulheres estão relacionadas com o pacifismo. Mulheres pedem a paz, homens querem fazer mais guerras. Mulheres participam em revoluções de garotos onde eles trocam de lugar entre si. Ainda creio na necessidade de redefinir violência em contextos de auto-defesa e ataque ao Capital e ao Patriarcado, em contextos insurrecionais e de protestos e repressão estatal, mas também de uma recuperação não-reacionária de valores não-violentos para opor-se a esse sistema de valores masculinos que só dá giros por si mesmo sem mudar substancialmente (N.T.).

***

O tema da fúria é super importante no feminismo radical.
Audre fala sobre os ‘usos da raiva’.
E não descartamos a ação violenta e tampouco a Auto-defesa. Somos feministas radicais, não queremos e muitas vezes nem podemos terceirizar nossas necessidades de defender-mos e de ‘justiça’.
Mas é distinto do que se quer criticar aqui, pois dentro do anarquismo masculinista somente é válida a ação violenta e inclusive se criam ícones em cima de ações (veneração de presos políticos, pessoas que fizeram ações ilegais) e mártires da causa (Mauricio Morales por exemplo, anarquista chileno que morreu ao transportar artefato explosivo). Frente a isso outros trabalhos ativistas são depreciados, até mesmo reprimidos, chamados de ‘reformismo’ pelo simples fato de que não é tão visível e heróico, glorioso quanto explodir um banco.
Dizem que aquel*s que resgatan animais ou os castram, os ‘proteccionistas’, são assistencialistas, até mesmo de cristianos nos acusam, mas não oferecem nada mais que mais negligência aos mesmos, e ainda te criticarão por não ser radical o suficiente, dirão que apenas está perpetuando a escravização de animais ao abrigar um e retirá-lo da situação de rua e risco em que se encontra. Por meio de retórica primitivista (uma teoria inclusive, extremamente anti-feminista, advogando idéias essencialistas e uma construção evolucionista, racista, romanticista sobre a natureza ou sobre uma tal ‘primitividade’) advogam atitudes abandônicas em relação a animais, dizendo que voltarão a ser selvagens caso você não intervenha proporcionando abrigo, afeto e condições de vida. Como se isso pudesse ocorrer num contexto de cidades!
Como também se não soubessemos que é uma merda o mero fato de que hajam animais domesticados, e que essa é a mesma raíz do problema,  somos os que melhor sabem isso senão não os castraríamos.

Isso pra não comentar muitas outras coisas. O Feminismo para esses anarquistas é também, arrogantemente dizem, uma causa reformista. (O anarquismo não é né? Acaso não passa de uma mera perpetuação e regurjitação de ideologia Masculina e instituições masculinas. O separatismo é mais radical que essa merda).

Sobre a romantização da morte. Ainda digo que é muito diferente o morrer para mulheres, lésbicas, travestis, pessoas de cor, indígenas.
A morte numa ação, o ‘morrer lutando’ deles, tem haver com a economia de subjetivação masculina. Os homens são construídos para serem guerreiros, ou melhor, agentes do Estado, policiais encarnados na corporalidade masculina, é a polícia mais primitiva. Ser homem é ser policial de uma forma muito radical, é a subjetivação e preparação para serem sujeites que garantem o Estado, a Nação, por meio da violência, são criados e são um projeto de subjetividade tão caro ao sistema porque é o mesmo que o mantém, são o Estado entre nós, e com ele se identificam em seu âmago, mesmo os Anarquistas. Porque matarão as suas companheiras se puderem, porque se matam entre eles provando quem tem a maior pica, porque são um braço do sistema, treinam seu corpo e se vigorexixam por uma demanda internalizada do Estado e do Sistema de que vajam para o fronte da batalha defender a nação, consomem pornografia para aprender a estuprar porque é outra arma de guerra e de conquista, dominação.

Para eles pode ser uma ‘escolha’ morrer, e a dignidade pode estar definida somente como sendo o não morrer humilhado, mas morrer no ‘combate’, ‘honrosamente’.

Para nós mulheres, lésbicas, travestis, pessoas de cor, originárias… que somos dizimadas diariamente, nossa batalha é constante. É sobreviver, e estarmos vivas é um signo de vitória. Somos alvo de genocídio, estamos sendo assassinades, jovens negres são assassinados nas periferias por policiais e são assassinados pelas drogas e trafico feitos para dizimar população negra, travestis são mortas por policias e subjetividades masculinas por sua disconformidade de gênero, lésbicas são assassinadas e alvo de estupro corretivo, sendo desaparecidas também simbolicamente dos registros para que impere a heterossexualidade compulsória, que apareça como única verdade e possibilidade e coagindo mulheres dentro do contrato heterossexual que mantém a sociedade. Para que sejam violadas nesse contrato que naturaliza o fato de que são violadas, que naturaliza o intercurso sexual que não passa de uma invasão corpórea como guerra biológica contra mulheres. Se cria a ginecologia para conter os efeitos da heterossexualidade na morte de mulheres que podem ser reprodutoras úteis ao Patriarcado. Mulheres são mortas por feminicídio, por aborto inseguro, desaparecidas nas redes de prostituição, o sistema da camaradagem e construção da identidade masculina mais antigo (e não a profissão mais antiga, senão que a opressão mais antiga).

Mulheres e lésbicas e travestis e pessoas negras, originárias, querem viver. ISSO É RADICAL, É UM ATO FUNDAMENTALMENTE RADICAL, DECIDIR E ESCOLHER PELA VIDA.
Construir comunicação, valores, ferramentas, espaço, educação não patriarcal leva tempo e trabalho por outro lado. O que é portanto, feminista, até mesmo num senso epistemológico que é oposto a este masculinista e mais visível e legitimado, é relegado à esfera do ‘doméstico’, micropolitico. Afinal, o trabalho doméstico e feminino é invisível, portanto o trabalho ativista é invisível, e é mais minucioso, mais micro e mais difícil, é também o trabalho mais pesado e não reconhecido. Ele não é tão visível como explodir um banco. Ele é menos personificado e mais anônimo, ele envolve mais gente, ele é menos individual e mais comunitário.

Assim que não vejo tanta diferença entre socialistas, que falam que somente o que é válido é a mudança ‘estrutural’ ou uma ‘revolução social’, e os anarquistas insurreccionais que falam que o mais prioritário e verdadeiro é socar um policial…

Algumas anarcafeministas fizeram piadas com os anarquistas estes e como o fetichismo da violência chega a ser patético.

Levo o que ouvi de uma lesbofeminista, comentando sobre as brigas e disputas entre feministas sobre “quem é mais radical que quem” (coisa muito patriarcal e nada solidária entre mulheres e lésbicas):

“Construir lleva mucho tiempo y esfuerzo. Destruír vos lo hacés en un instante”.
(Construir leva muito tempo e esforço. Destruir leva um instante)

(embora pense que esse insurreccionalismo de fetiche não representa uma verdadeira ação destruidora, se é destruidora de verdade não reproduz o patriarcado. A construção eu também considero um ato de destruição. Há muitas formas de destruir-se esse mundo que estamos por descobrir, e se o ataque não é permanente e cotidiano, o mesmo se reconfigura, se regenera e se reconstrói a todo momento, assimilando até mesmo as nossas próprias linguagens).

Não existe anarquia possível se não se destrói e aniquila e se exclui ao Macho. Minha Anarquia será separatista ou não será.
Vulva la Anarquia!
Saparquia!