A história de Rote Zora e as Células Revolucionárias. Grupo de Guerrilha Urbana feminista dos 70′

12362697_1724057691147748_6718018665156552408_oTradução e edição em livreto de texto com a história do grupo de guerrilha urbana feminista alemão que atuou nos anos 70 e 80 com ações diretas, colocação de artefatos explosivos em companhias médicas, bancos, empresas, sabotagens, ataques a responsáveis, etc. O livreto editado por Herética edições lésbicas e feministas independentes vem com a história do grupo + uma entrevista com integrantes, onde elas falam sobre radicalidade, autonomia, feminismo, movimento de mulheres, táticas, uso de viiolência revolucionária por parte das mulheres, dentre outras coisas. Uma reflexão importantíssima que vai além da inspiração insurgente, nos convoca a pensar o movimento feminista em uma perspectiva radical, revolucionária, anti-Estado, aliado à luta anticapitalista, anti-racismo, anti-imperialismo, anti-ecocídio internacionalista e indaga o feminismo sobre o alcance real das estratégias institucionais e demandistas no qual este se vê enredado, com marchas pacifistas rotineiras que não obtêm muito resultado.

 

“Sabemos que este ‘estado normal’ vai acompanhado de uma falta de resistência militante. A opressão se faz visível pela resistência. Por isso sabotamos, nos vingamos pela violência sofrida e pela situação humilhante, por meio dos ataques contra os responsáveis”. “Por quê não tem um efeito intimidatório o tráfico de mulheres, mas sim colocar fogo no carro do traficante? No fundo, pensar assim é ter aceitado que a violência exercida pela sociedade é legítima, enquanto que uma resistência adequada seria intimidadora! É possível que intimide, que assuste a muito/as que questionamos o que parece natural, que estejam assustadas também muitas mulheres que desde pequenas a quem lhes foi ensinadas um comportamento passivo, de vítima, ao se verem confrontadas com o fato de que AS MULHERES NÃO SÃO VÍTIMAS NEM PACIFISTAS. Isso é um fato, convida a pensar algo. As mulheres que com raiva sofrem com sua incapacidade individual se identificam com nossas ações. Da mesma maneira que um ato violento contra uma única mulher cria um clima de ameaça contra todas, nossas ações – embora estejam dirigidas contra alguns responsáveis específicos – contribuem para criar o clima de uma consciência: A RESISTÊNCIA É POSSÍVEL!” (…) “Nosso sonho é que em todos lados se formem pequenos bandos; que em cada cidade o estuprador, o negociante de pornografia, o ginecólogo repugnante, etc, tenham medo ante seu desmascaramento, ante um ataque, ante a denúncia pública, etc”.

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Uma mensagem para Homens ‘Anarquistas’

por Molly Tov

Então, dizem que o trabalho de uma mulher nunca termina, e aqui estou eu escrevendo um artigo que um homem deveria estar escrevendo. Começo a achar que isso é verdade mesmo.

As mulheres têm sido analisadas, faladas, contidas, ridicularizadas, caladas, usadas, abusadas, e estupradas por nossos ‘irmãos’ homens auto-intitulados anarquistas e auto-proclamados revolucionários. Todos homens anti-sexistas prontos para pular em cima de um comentário sexista de alguma outra pessoa quando estão em um agrupamento anarquista, mas deixarão escapar quando não estiverem perto de seus amigos não tão ‘P.C.’ (politicamente corretos). Os homens que vocalizam sua agressão contra violadores, mas quando suas amantes dizem não, coerção é simples, e não é um estupro, porque ele é um ANTI-SEXISTA. Há homens que usam conversa anti-sexista para pegar mulher. Os homens que desafiam os outros a chamarem atenção sobre suas merdas e quando alguém o faz, ligam o modo defesa e ele está horrorizado que alguém pudesse dizer que ELE estava fazendo merda, ao invés de pensar sobre a situação e começar a trabalhar nela.

Todas nós sabemos que todos homens são sexistas, assim como todos brancos são racistas, por causa da nossa sociedade, pessoas brancas ainda possuem privilégios sobre pessoas de cor e homens ainda possuem privilégio sobre mulheres, e uma vez nascida neste processo é incrivelmente difícil de quebrá-lo, especialmente quando você esquece de olhar pra si mesm*. Uma vez que homens poêm a tapa em si mesmos de “REVOLUCIONARIO”, eles pensam que uma vez que eles sabem que um problema existe, que não serão mais parte dele, o qual eles são.

Como sempre antes e agora, sexismo é um tema secundário. Parece que tudo está sendo deixado em uma ordem de importância – feita por quem? – É algo como “Primeiro vamos lutar contra o racismo, porque já sabemos surrar os nazis, e então depois talvez vamos pensar sobre sexismo, capitalismo, ou homofobia, qualquer um destes que menos afete nossos privilégios. Depois disso depois que houver tempo, e não mais cerveja, podemos ler sobre especismo, etarismo, ou discapacidade. Se nós somos legais nós vamos aprender um pouco sobre tudo isso para aprimorar nossas habilidades para o próximo encontro.”

Que raios aconteceu com a porra da igualdade? Como foi que alguns “ismos” se tornaram mais importante que outros, você se pergunta? “Como ser maneiro na cena política, e manter tanto privilégio quanto for possível” (busque agora na sua livraria corporativa mais próxima).

É triste quando chega ao ponto em que nós não queremos mais pensar em ninguém mais além de nós mesm*s ou no status quo P.C. O que me traz de novo à conclusão de que todos esses homens ‘feministas’, que se preocupam tão amavelmente com as mulheres (ou ao menos em fodê-las), até que isso afete seu privilégio, se importam. Que eu desafio os AUTO-PROCLAMADOS homens anti-sexistas a realmente pensar sobre, quão longe as palavras que eles falam tão bem, irão talvez tentar perguntar a seus-suas melhores amig*s ou amantes quão sexistas eles são.

Esse artigo ofendeu você já? Você usa seu conhecimento da opressão de outros para fazer uma mudança ou apenas para causar boa impressão? Você se sente desafiado quando uma mulher fala? Já supôs que é ok tocar alguém? Já se incomodou quando uma mulher pediu que você confronte sua merda sexista? ok, foda-se, você escolheu o termo ‘revolucionário’, não eu.

Até que nós comecemos a ver a nós mesm*s como o problema (como parte do problema), e até que tenhamos realmente começado a falar e escutar un*s a outr*s sobre nossos problemas e trabalhar neles, mudança revolucionária permanecerá sempre como um sonho distante.

Então a última questão que fica, quantos artigos levam para que homens comecem a trabalhar na sua merda? Não está você cansada de escutar e ler sobre isso (se eles sequer tomaram algum tempo nisso)?

Talvez Smith e Wesson[1] façam um trabalho melhor??

Ao menos parem de considerarem-se revolucionários. VOCÊ NÃO É MEU CAMARADA.

publicado na revista anarquista ‘Profane Existence’

[1]Esse é um slogan e ao mesmo tempo, uma marca de armas de fogo.

Redstockings Manifesto

REDSTOCKINGS foi um dos grupos fundadores do movimento de libertação das mulheres dos 60, nos Estados Unidos. O nome é um neologismo tomado do termo “bluestockings” (“meias azuis”), que se costumava aplicar às mulheres intelectualizadas no século XIX, aqui modificado para “redstockings” (meias vermelhas), que aí se reivindicava como sendo a cor da revolução.Caracterizadas por ações como demonstrações públicas, teatro de rua, ações diretas, e por difundirem um periódico próprio, o “Feminist Revolution” (Revolução Feminista), a organização surgiu de um grupo de feministas radicais que se opunham ao feminismo liberal como o representado pela Organização Nacional de Mulheres (NOW), que viam como una forma de avançar o movimento de mulheres unicamente em termos de reformas institucionais. Hoje em dia as membras remanescentes do grupo mantém um projecto de disponibilização do arquivo histórico produzido pelo mesmo, chamado “História para Uso Ativista”. Algumas coisas podem ser obtidas no website www.redstockings.org, de onde foi extraído o manifesto que segue.

REDSTOCKINGS MANIFESTO, 1969

I. Depois de centenas de lutas individuais e lutas preliminares políticas, as mulheres estão se unindo para alcançar sua libertaçaõ final da supremacia masculina. Redstockings dedica-se a construir essa unidade e conquistar nossa liberdade.

II. Mulheres são uma classe oprimida. Nossa opressão é total, afetando cada faceta de nossas vidas. Somos exploradas como objetos sexuais, criadoras, serventes domésticas e trabalho barato. Somos consideradas seres inferiores, cujo único propósito é melhorar a vida dos homens. Nossa humanidade é negada. Nosso comportamento prescripto [e forçado pelas ameaças de violência física.

III. Identificamos os agentes da nossa opressão como homens. A Supremacia Masculina é a mais antiga e a mais básica forma de dominação. Todas as demais formas de exploração e opresão (racismo, capitalismo, imperialismo, etc) são extensões da supremacia masculina: homens dominam mulheres, uns poucos homens dominam o restante. Todas estruturas de poder ao longo da história foram homem-dominadas e masculino-orientadas. Os homens estiveram controlando todas instituições políticas, econômicas, políticas e culturais e mantiveram esse controle com força física. Eles usaram o poder para manter às mulheres em uma posição inferior. Todos os homens recebem benefícios econômicos, sexuais e psicológicos da supremacia masculina. Todos homens vieram oprimindo às mujeres.

IV. Tentativas foram feitas para mover a carga de responsabilidade dos homens para instituições ou para as mulheres ellas mesmas. Nós condenamos esses argumentos como evasões. Instituições sozinhas não oprimem; elas são meramente ferramentas do opressor. Culpabilizar instituições implica que homens e mulheres são igualmente victimizad@s, e isso obscurece o fato de que os homens se beneficiam da subordinação das mulheres, e dá aos homens a desculpa de que eles foram forçados a serem opressores. Pelo contrário, qualquer homem é livre para renunciar sua posição superior, sempre que esteja disposto a ser tratado como uma mulher por um outro hombre.

Nós também rejeitamos a idéia de que mulheres consentem ou que devem ser culpadas por sua própria opressão. A submissão das mulheres não é o resultado de lavagem cerebral, estupidez ou enfermidade mental mas pelo contrário, resulta da pressão diára vinda dos homens. Nós não necessitamos mudar a nós mesmas, os homens que sim o devem.

A mais caluniosa evasão de todas é a de que as mulheres podem oprimir aos homens. A base desta ilusão é o isolamento das relações individuais de seus contextos políticos e a tendência dos homens a ver em qualquer desafio legítimo a seus privilégios uma perseguição.

V. Consideramos nossa experiência pessoal, e nossos sentimentos sobre essa experiência, como a base para uma análise da nossa situação comum. Não podemos depender das ideologias existentes uma vez que são todas ellas produtos de uma cultura supremacista masculina. Nós questionamos cada generalização e não aceitamos nenhuma que não esteja confirmada pela nossa experiência.

Nossa tarefa principal no presente momento é a de desenvolver consciência de classe feminina por meio da experiência compartilhada e expondo publicamente a fundação sexista de todas as instituições. Os grupos de autoconsciência não são “terapia”, conceito que supôe a existência de soluções individuais e falsamente assume que as relações homem-mulher são puramente pessoais, se trata sim do único método pelo qual podemos assegurar que nosso programa para a libertação está baseado em realidades concretas de nossas vidas.

O primeiro requisito para criar consciência de classe é a honestidade, no privado e no público, com nós mesmas e com as demais mulheres.

VI. Nos identificamos con todas as mujeres. Definimos nosso melhor interesse como sendo o das mulheres mais pobres, as mais brutalmente exploradas brutalmente exploradas. Repudiamos todos privilégios econômicos, raciais, educacionais ou de status que nos dividemdas demais mulheres. Estamos determinadas a reconhecê-los e eliminar qualquer discriminação que possamos ter com nós mesmas e com as demais mulheres.

Estamos comprometidas a alcançar democracia interna. Faremos o que for necessário para assegurar que cada mulher em nosso movimento tenha oportunidades iguais de participar, assumir responsabilidade e desenvolver seu potencial político.

VII. Convocamos todas nossas irmãs a unirem-se com nós em luta.

Convocamos a todos os homens a deixarem seu privilégio masculino e apoiar a libertação das mulheres para o interesse da humanidade e delas mesmas.

Lutando por nossa libertação nós sempre tomamos o lado das mulheres contra seus opressores. Não vamos perguntar o que é “revolucionário” ou “reformista”, e sim somente o que é melhor para as mulheres.

O tempo das pequenas batalhas individuais passou. Agora vamos até o fim.

(7 de Julio de 1969).