Sobre a ação direta feminista [em situações de agressões sexistas]

capítulo extraído do dossiê “Tijera para todas: Textos sobre Violencia Machista en los Movimientos Sociales” (Tesoura para Todas: Textos sobre violência machista nos movimentos sociais)

baixe o pdf “tijera para todas – sobre ação direta feminista”.

Ao longo dos últimos meses, algumas mulheres tivemos que adequar nosso ócio noturno à realização de ações diretas feministas que consistiram, principalmente, na expulsão (ou tentativa de expulsão) de agressores (concretamente de um agressor, conhecido pelo apelido de Fer) de espaços públicos.

Consideramos legítima esta ação especialmente quando se leva a cabo em um ambiente político, como foi o caso. Ainda assim, durante os dias seguintes, nos deparamos com reações de surpresa, alarme e, em algumas ocasiões, questionamento, assim como algumas interpretações errôneas da ação e de seus objetivos. Isto nos faz pensar que talvez nos últimos tempos, nos movimentos sociais de Barcelona se está perdendo (possivelmente por falta de costume) a sensibilidade feminista que permite compreender em seu contexto e em sua justa medida ações como esta. Por isso gostaríamos de convidar os diferentes grupos a nos acompanhar em uma reflexão sobre o porquê e o como da ação direta feminista.

Por quê?

As agressões sexistas, os assédios, os estupros são formas de opressão patriarcal que ocorrem constantemente em nosso cotidiano e em nossos espaços políticos e se amparam em múltiplos apoios que têm a ver com as inércias sociais como um bom ambiente, o contexto festivo, as drogas e a ideia de que o que ocorre nesses contextos faz parte de um âmbito privado e não político, em que tudo vale. Este conjunto de elementos funciona como legitimador das condutas dos agressores e, portanto, deslegitimador dos possíveis sentimentos de mal-estar, protesto ou resposta da agredida e permite que estas formas de violência continuem silenciadas, minimizadas e continuem produzindo-se cada vez com mais impunidade.

A partir de uma perspectiva anti-patriarcal, estes tipos de ações não são casos isolados, mas sim fazem parte de uma forma de violência estrutural e, portanto, exercê-las é exercer uma forma de violência amparada em um privilégio social. Denunciá-las e combatê-las é uma forma de fazer política. Aceitá-las e justificá-las também é então um posicionamento político no sentido oposto.

Como?

Identificando-as, indicando-as, tornando-as visíveis já no momento em que acontecem e não quando suas consequências se manifestam.

Alguns exemplos?

Se em um contexto de festa uma mulher está sendo assediada, primeiro comunica seu mal-estar ao agressor incitando-o a desistir de sua atitude. Se este não responde, a mulher comunica o que está acontecendo a seu grupo de afinidade e este, em função do grau de hostilidade do sujeito, insiste para que ele abandone seu comportamento ou diretamente o expulsa do espaço.

Se neste mesmo contexto se produz uma agressão sexista, primeiro se protege a mulher agredida da violência que se está exercendo sobre ela. Uma vez criado um espaço de segurança para a mulher, ela decide como prefere gerir a situação e, a partir daí, sempre em função de seus desejos, se atua de maneiras diversas.

Se, como é o caso que motiva este texto, um grupo de mulheres está em contexto festivo dentro de um espaço político e se encontra nele com o agressor de uma companheira, presente ou não, (isto é irrelevante porque “se mexeu com uma, mexeu com todas”), uma delas se dirige ao agressor e lhe comunica que:

a) Sabe que ele é um violador.

b) Dado que é um violador, sua presença no espaço de luta política que inclui a luta feminista é non grata (é como se Núñez e Navarro estivessem em uma festa em um centro social okupado dançando “Eu sou assim, e assim continuarei, nunca mudarei…”)

c) Ante o anteriormente exposto e a consequente falta de respeito que sua presença supõe para a consciência política das presentes, ele deve abandonar o espaço.

Se o agressor expressa sua absoluta recusa em abandonar por seus próprios pés o espaço, o grupo de mulheres passa a fazê-lo abandonar o espaço rapidamente, com o menor prejuízo possível para o resto das presentes e explicando sempre às pessoas que organizam a festa e a quem pergunte o que é que está acontecendo e porque.

Esses são só alguns exemplos que esperamos sirvam para ilustrar o porquê e como da ação direta feminista para eliminar as desconfianças e receios que estas ações podem produzir em quem não dispõe de dados suficientes, assim como para que estas dinâmicas se integrem no funcionamento de nossos espaços cotidianos e centros sociais.

Mexeu com uma, mexeu com todas!

Unas/LasOtras

Anarquia ou Patriarquia?

Entre 8 a 10 de maio de 198, La Gryffe, uma livraria anarquista em Lyon (França), organizou uma jornada anarquista. Estes três dias significaram a oportunidade de um “acerto de contas com o movimento social, as formas de luta, o movimento anarquista desde o maio de ’68 e pensar sobre os recursos futuros para agir sobre o mundo”.

baixe o pdf “Anarquia ou Patriarquia?”

Esses três dias iluminaram um paradoxo no movimento anarquista. O questionamento da sociedade em seu todo continua em realidade limitado a questionar a esfera ‘pública’, a única considerada como política. Lamentavelmente é evitado fazê-lo via questionando o que acontece no ‘privado’, a esfera ‘pessoal’ (seja dentro de grupos militantes assim como no individual doméstico) continua sendo considerada não-política, e mesmo não-social… Como se, de um lado, houvesse indivíduos cuja psicologia, comportamento e relações fossem determinadas separadamente da sociedade e relações sociais e pessoais, por meio da ‘livre vontade’ e, por outro, relações sociais, aparentemente assimiladas a abstrações, esvaziem-se de qualquer significado uma vez que elas estão esvaziadas de indivíduos.
A despeito de um desejo declarado de abertura com relação à luta contra o patriarcado dos organizadores destes três dias de discussão, nós experimentamos, no entanto, uma negação da opressão das mulheres e uma estigmatização do movimento feminista não-misto que denuncia essa opressão. Esta foi a motivação para o desafio feminista expresso durante a reunião da plenária na tarde de sábado.

Como isso ocorreu?
Você disse… violência institucional?

Durante o debate sobre “violência institucional na comunidade ativista”, na Sexta, a questão do poder masculino foi abordada bem superficialmente. Em resposta, diversas intervenções por mulheres tenderam a demonstrar que a ‘liderança militante’ é quase sistematicamente exercida por homens. O problema de poder masculino foi igualmente e abertamente negado (certas pessoas disseram que as mulheres que se manifestavam estavam ‘mudando de assunto’), sustentando-se através de tentativas de justificação, com argumentos como esses a seguir:
– A necessidade de transmitir e/ou compartilhar conhecimento militante e político, implicitamente entendido como possuído, claro, por ativistas ‘treinados’ ou ‘experienciados’, portanto, pelos líderes presentes. Como esses líderes são 99,9% homens, este argumento implica que o conhecimento seria exclusivamente detido pelos homens, enquanto mulheres seriam ‘mais práticas’ (sic). Mas como é que nunca existem ativistas mulheres ‘treinadas’ e ‘experienciadas’?
O conceito de servidão voluntária, que absolve os dominantes (homens, brancos, heteros…) de sua responsabilidade, transferindo-a para @s dominad@s. Assim, a opressão se torna pessoal, psicológica, e, dessa forma, um problema não-social.
Nós podemos observar como, nesta questão da opressão das mulheres, muitos anarquistas defendem que cada indivíduo deva ESTRUTURAR A ELA OU ELE MESM@ fora das relações sociais de gênero. Por outro lado, eles não negam que outras relações sociais definem indivíduos em suas relações um@s com outr@s.
“Eu sou anarquista, logo sou anti-sexista”. Mas que forma toma esta luta anti-sexista? Que demandas são vociferadas mundo afora? Que vigilância demonstramos para com os padrões opressivos dentro dos grupos? E que questionamentos pessoais ela permite? O número mínimo de ações que podem ser organizadas são principalmente reflexivas da esfera pública e nunca são inter-relatadas; elas não integram as formas de opressão prevalente na esfera privada e isso também beneficia homens anarquistas… Isso leva à exclusão do todo-importante conceito feminista ‘o privado é político’.
As noções de sexismo e luta anti-sexista como elas são usadas no movimento anarquista, absolutamente não tomam conta da existência do patriarcado, isto é, uma relação social de dominação (e portanto, de opressão) exercida pelo gênero masculino contra o gênero feminino. Esta visão do sexismo parece limitada à discriminação baseada no gênero, nada mais: no entanto, na sociedade, não há apenas discriminação baseada no gênero, mas também posições sociais assimétricas baseadas no gênero. Nós muhleres e homens não somos assignad@s aos mesmos lugares hierárquicos na sociedade. A forma corrente de anti-sexismo anarquista não é suficiente porque apenas toma em consideração uma parte do problema, e muitas vezes serve para mascarar sua vera fundação. Esta forma de anti-sexismo de fato recusa-se a reconhecer – contrariamente ao feminismo – uma opressão específica de mulheres por homens, uma opressão que difere se as mulheres são lésbicas, bi ou heterossexuais. Este anti-sexismo reduz opressão à alienação, uma que poderia ‘igualitariamente’ ser aplicada a homens e mulheres.

Organização não-mista de mulheres à prova !

Sexta à tarde, tivemos que aguentar respostas hostis ao separatismo durante a projeção do vídeo ‘Crônicas Feministas’ em um cenário não misto. Essas discussões continuaram no dia seguinte durante o debate não-misto de mulheres em anarcofeminismo.
Durante o debate, QUEM ESTAVA ESCREVENDO A HISTÓRIA?
“1968 e depois, trinta anos de movimentos sociais” – Esta discussão ofereceu-nos três ou quatro ‘líderes históricos’, mas nenhuma pessoa para expressar a experiência de um dos movimentos sociais mais importantes daquele período: o movimento de libertação das mulheres. Nós podemos pensar que, mesmo se isso não era intencional, aí ocorreu a reprodução da marginalização das lutas de mulheres nesta programação.
Mas, durante o debate sobre a ordem patriarcal, sábado pela tarde, que as reações anti-feministas foram as mais violentas e provocaram a nossa resposta: do nosso ponto de vista feminista, era impossível ignorar tal backlash 1. O que presenciamos foi em realidade um JULGAMENTO em vez de um debate. Sua vera forma fez deste debate um ato de agressão e de condenação da nossas práticas de luta, viz.:
– o uso de exemplos anedotais para generalizar a questão feminista e as lutas lésbico-feministas;
– homens usando palavras de mulheres opostas às reuniões mistas de modo a dividir-nos mais uma vez, e de maneira a condenar seu anti-feminismo enquanto estabeleciam a eles mesmos em uma posição de árbitro.
Este debate serviu para negar nosso comprometimento e a legitimidade das nossas análises; um desejo de calar-nos estava claramente expresso.
Denunciar e atacar a não-mixticidade de mulheres, como foi feito aqui, era também uma maneira de sugerir que uma mixticidade real existe. Ainda assim, nós acreditamos que a mixticidade é uma ilusão: ou ela é quase não-existente (nos locais de trabalho, na escola desde as primeiras orientações de escolhas, nas organizações políticas, nas uniões…), ou, naquelas raras ocasiões onde ela ocorre, é inequalitária, isto é, uma minoria de homens está ocupando o centro, enquanto mulheres são mantidas na periferia, reduzidas a um papel de espectadoras, um papel de segunda-classe, atada às normas definidas por estes homens e para o poder masculino do qual eles são depositários. Esta primazia a-crítica concedida à mixticidade também nega a necessidade d@ oprimid@ de organizarem-se eles mesmos contra sua opressão e seus opressores… Que @ oprimid@ deveria se tornar s SUJEITS das suas lutas é contudo um princípio anarquista; muitas de nós achamos impossível e inútil manifestar-nos e tentar justificar algo que não deveria exigir justificação: a maneira como este debate tomou lugar ilustra as relações de poder criadas em um cenário misto, fazendo disto então algo muito melhor que qualquer argumentação.
Homens reclamam de se sentirem excluídos pela não-mixticidade das mulheres, quando dada a oportunidade de lidarem com a questão da mixticidade sob o tema ‘a ordem patriarcal’, eles desviaram o debate dirigindo-o e limitando-o à acusações niveladas à mixidade. Isso bem representa a necessidade de encontros de mulheres não-mistas para REALMENTE trabalhar CONTRA a ordem patriarcal!
Conseqüentemente, nós decidimos em um processo coletivo preparar uma intervenção durante o último debate no sábado sobre ‘o futuro do movimento anarquista’. Para nós esta era a oportunidade de desafiar os poderes aí postos: aqueles dos homens, aqueles dos líderes…

Que futuro anarquista para o movimento anarquista?

Homens convidados a falar foram seguidos um após o outro no podium, formulando versões oficiais da história, políticas e a estratégia de suas organizações… nenhuma única mulher, nenhuma lésbica sequer no horizonte da HIStoria 2…
Nossa primeira ação foram placas dizendo ‘VIOLÊNCIA SEXISTA’ e um pôster questionando ‘É ESTA UMA REUNIÃO NÃO-MISTA?’ junto a outros placares de um humor cáustico porém, realista. Nós queríamos ilustrar, de uma maneira simplificada por razões materiais, uma decodificação simultânea dos pertinentes discursos dominantes e como eles estavam funcionando ali. Um outro cartaz dizendo ‘COM VOCÊ, COM A GENTE’ foi dirigido à crítica das mulheres à não-mixticidade.
A despeito de algumas observações provocadas pela nossa presença (bem eloqüente, enquanto nós permanecíamos em silêncio), o debate foi adiante como se a gente não existisse. NÓS EXPERIENCIAMOS SER TORNADAS INVISÍVEIS ASSIM COMO É A SITUAÇÃO DAS MULHERES, LÉSBICAS E A LUTA.
Nossa segunda ação: mover-nos da periferia para o centro da sala. NÓS QUERÍAMOS TOMAR NOSSO LUGAR NO CENTRO DO ESPAÇO PÚBLICO COMO UMA MANEIRA DE OFENDER. Aderem à nossa iniciativa outras mulheres presentes no salão. Se a gente falava umas entre as outras, isso era para tornar visível o fato de que em ‘geral’, homens falam entre eles mesmos. A tensão cresceu e um homem gritou para a gente: ‘sectárias’, facistas’, ‘gurias de merda’, ‘lésbicas’… Pior, encontramos a nós mesmas sendo acusadas de manipulação por mulheres dentro do nosso grupo, pela então chamada recusa de comunicar-nos e sectarismo. Estes são instrumentos tradicionais de poder, usadas pelos dominantes para manter e reafirmar sua dominação: eles simpesmente usam contra nós a crítica que dirigimos a eles. 3 Maior parte dos homens anarquistas se recusaram a incluírem a eles mesmos no grupo dos opressores, muito embora alguns logo admitiram que esta realidade é o único ponto de partida que podia permitir um questionamento deste papel e o da sua participação na manutenção do patriarcado.
Finalmente, certas pessoas estigmatizaram o nosso então chamado ‘desejo de sabotar o debate’, clamando que sentiam que o debate do futuro do movimento anarquista não podia tomar lugar ‘normalmente’… . É auto-evidente que nós lamentamos que certos outros debates (notadamente aquele sobre o Patriarcado) não podia tampouco tomar lugar ‘normalmente’… E nossa intenção era, notavelmente, despertar a consciência, neste debate, sobre o lugar das lutas feministas no futuro do movimento anarquista. Assim, a nossa intervenção era totalmente relevante para as questões em debate.

Uma profunda ação anarquista

Esta ação era baseada em uma motivação comum, mas seu desenvolvimento foi completamente espontâneo, assim como a escolha das mulheres que se juntaram à nós, e foi inteiramente dependente das reações do público. Isso poderia havê-la feito sair totalmente diferente…
Nossa ação feminista permitiu-nos gerar uma série de questões com relação ao compromisso e práticas anarquistas:
– Não seria a análise da dominação masculina, da opressão das mulheres e da lesbofobia um trabalho individual e coletivo de todos homens e todas mulheres? E qual é a significância das explicações ou justificações serem sistematicamente demandadas das feministas?
– Como podemos refletir sobre a articulação das diferentes lutas quando nenhuma delas é percebida como uma questão ‘específica’? Não apenas recusamos a noção de uma hierarquia de lutas, mas também consideradas essenciais como uma visão transversal da realidade social e política.
– Como percebemos o relacionamento entre as relações sociais e individuais? Que ligações reconhecemos entre o pessoal e o político? Como são as relações coletivas produzidas e reproduzidas no espaço privado ou pessoal? Como pode um indivíduo, um sujeito individual, fazer escolhas em uma sociedade que é construída em categorias e classes desiguais?
E sempre, Feministas, enquanto for necessário sê-lo!
Coletivo de mulheres, feministas e lésbicas envolvidas na ação feministas organizada durante os dias anarquistas de 8 a 10 de Maio em Lyon (França).
De, “Léo Vidal”
Data: Sábado, 22 de Agosto de 1998.

NOTAS:
1 Backlash: reação, refluxo, palavra usada para designar as reações aos progressos nas lutas feministas num plano coletivo ou estrutural, por parte das mídias, cultura de massas ou dentro de movimentos e até mesmo novas tendencias no feminismo, como seria o caso do pós-modernismo.
2 HIStória no contexto do texto está sendo usada para referir-se a ‘História dos homens’ ou seja, sua versão, já que “His” em inglês traduz-se por DELE. ‘História dele’. Feministas inventaram o termo ‘Herstory’ em inglês para desconstruir o sexismo da língua ressignificando história como ‘Nossa história’, ‘história dela’ (Her-Story).
3 A tão chamada ‘opressão reversa’
tradução e revisão coletiva online

https://apoiamutua.milharal.org – apoiamutua@riseup.net

“Documento de Trabalho de Responsabilidade Comunitária (Princípios, Preocupações, Estratégias, Modelos)” INCITE! Women of Color Against Violence

NOTA: Essas ideias têm sido geradas de várias comunidades envolvidas com os Institutos Ativistas da Incite! e workshops. A Incite! não endossa estratégias particulares. Reconhecemos que o que funciona em uma comunidade pode não funcionar em outra comunidade, e de que algumas dessas estratégias podem não funcionar em qualquer comunidade. O propósito desse documento é fornecer ideias e descarregar o desenvolvimento de estratégias adicionais que possam auxiliar na promoção de responsabilidade comunitária na questão da violência contra mulheres de cor. Se você possui ideias adicionais, princípios, preocupações e/ou estratégias que gostaria de adicionar a esse documento de trabalho, por favor contate-nos em incite_national@yahoo.com ou 484-932-3166. Continuaremos a atualizar esse documento assim que obtermos pareceres.

Princípios

1) Princípio de Ação Coletiva: a confiança no sistema de justiça criminal tomou poder à distância da habilidade das mulheres de se organizarem coletivamente para parar a violência e tem investido esse poder no interior do Estado. O resultado é o de que as mulheres que buscam reparação no sistema de justiça criminal de sentem desempoderadas e alienadas. Isso também tem promovido uma abordagem individualista para parar a violência, tanto que a única maneira pela qual as pessoas pensam que podem intervir para fazer parar a violência é chamar a polícia. Essa confiança tem deslocado nosso foco em desenvolver maneiras pelas quais as comunidades podem coletivamente responder à violência. Assim, as estratégias da responsabilidade da comunidade requerem ação coletiva. Se fizermos a pergunta “O que posso fazer?”, então a única resposta será chamar a polícia. Se fizermos a pergunta “O que podemos fazer?”, então poderemos nos surpreender sobre o número de estratégias que podemos imaginar.

2) Princípio de Priorizar a Segurança de Sobreviventes: muitas estratégias de responsabilidade comunitária têm sido desenvolvidas sob o modelo da “justiça reparadora”. No entanto, estamos a entender que tais modelos muitas vezes não priorizam a segurança de sobreviventes. São constantemente coagidos a ir em frente com estratégias de mediação de forma a “manter a paz”. Além disso, a Aboriginal Women’s Action Network reporta que, no Canadá, os modelos de “justiça reparadora” têm sido usados por perpretadores brancos para escapar de responsabilidade pela violência cometida contra as mulheres nativas. Elas reportam que um homem, o bispo Hubert O’Conner, foi sentenciado com múltiplas instâncias de assédio sexual de meninas e meninos aborígenes. Quando visto como culpado, sua punição foi participar de um círculo de cura com suas vítimas. Elas também se queixam de que muitos desses modelos são denominados “indígenas” e, por isso, populações nativas devem usá-los, mesmo que não carreguem qualquer similaridade com as formas de justiça que nações indígenas particulares utilizam. Qualquer estratégia de responsabilidade comunitária será ineficaz se contar com uma noção romantizada da “comunidade” que não consigna a realidade do sexismo e homofobia no interior de nossas comunidades. Além disso, é importante enquadrar as estratégias de responsabilidade comunitária como uma questão de se ou não uma sobrevivente deve chamar a polícia se ela está sob ataque. A questão não é “ela deve chamar a polícia”. As questões são “por que essa é a única opção dela?” e “podemos fornecer outras opções de a deixarão verdadeiramente segura?”.

3) Princípio de Auto-determinação: estratégias de responsabilidade comunitária não funcionarão em todas as comunidades a todo tempo. Cada estratégia deve ser avaliada no interior do contexto da comunidade e ser constantemente reavaliada para sua eficácia e justiça.

4) Princípio de Repensar e Construir a Comunidade: o termo “comunidade” é geralmente pensado em termos de geografia. Dada a mobilidade das pessoas, particularmente em extensas áreas urbanas, não é claro como podem ser essas estratégias sob esses contextos. No entanto, podemos expandir nossa noção de comunidade para incluir comunidades baseadas em afiliações religiosas, de emprego, de hobbies, atléticas, etc., e nos esforçar para desenvolver estratégias baseadas naquelas comunidades. Por exemplo, um homem foi banido de uma comunidade por ter cometido incesto. No entanto, ele simplesmente se mudou daquela área. Mas porque ele era um acadêmico muito conhecido, a família o manteve responsabilizado na comunidade acadêmica para seguí-lo quando ele dava palestras acadêmicas, expondo sua história.
Além disso, a fim de ter responsabilidade comunitária, nosso trabalho pode também incluir construir comunidades onde foram fraturadas, para que estejam numa posição de manter seus membros responsabilizados.

5) Princípio de Expor a Ineficácia do Sistema de Justiça Criminal Para Consignar a Violência de Gênero: por causa das dificuldades em desenvolver estratégias de responsabilidade comunitária, muitos defensores da anti-violência argumentam que depender do sistema de justiça criminal é nossa única “alternativa”. Deve ser reconhecido, no entanto, que o sistema de justiça criminal não é em si mesmo uma alternativa. Ele não somente não promove segurança para mulheres como uma estratégia global (no entanto pode assim ser em casos individuais) como, na realidade, coloca as mulheres em grande perigo de violência, particularmente a violência do Estado (essas questões são discutidas no Incite – Critical Resistance Statement on Gender Violence and the Prison Industrial Complex). No final, a única coisa que irá parar a violência contra as mulheres de cor é quando nossas comunidades não mais tolerarem isso. Desenvolver essas estratégias é difícil porque elas implicam em consignar as causas de raiz da opressão – racismo, sexismo, homofobia e exploração econômica – mas, ao final, é somente através da construção de comunidades de resistência e responsabilidade que podemos esperar parar com a violência contra mulheres de cor.

Preocupações/Perguntas a Ponderar/Questões

1) Como nós incorporamos a justiça nas nossas estratégias de responsabilidade comunitária? Se não contarmos com o Estado para julgar casos de violência de gênero, então como nós garantimos justiça e equidade antes de manter responsáveis os perpretadores? Como garantimos que não nos tornemos em grupos vigilantes? Se desenvolvermos processos para julgar casos no interior do contexto da comunidade, estaremos simplesmente a replicar uma mini-versão do aparato opressivo do Estado nas nossas comunidades?
Alguns modelos desenvolvidos a partir de consignar a violência em comunidades LGBTI podem ser úteis uma vez que reportam que eles não podem admitir que quando alguém liga dizendo que sofreu abuso é porque isso necessariamente é verdadeiro porque eles relatam que agressores também sempre ligam dizendo que foram abusados. Portanto, eles desenvolveram ferramentas para aferir o que realmente está se passando na situação. Tal modelo tem sido desenvolvido pela Northwest Network em Seattle. Eles possuem toda uma lista de perguntas para determinar o que está se passando na situação. É importante que exista um processo, assim os agressores não conseguem manipular o processo da responsabilidade comunitária contra o sobrevivente.

2) Quais são os limites das formas aceitáveis de responsabilidade comunitária? Por exemplo, tudo bem responder a perpretadores com violência física? Sequer consideraríamos tais atos violentos? Como determinamos quais estratégias são aceitáveis ou não?

3) Algumas estratégias dependem de banir da comunidade ou condenar ao ostracismo o perpetrador. Por um lado, pode ajudar a pessoa que foi vitimizada a não ver mais aquela pessoa. De outro lado, essa estratégia é simplesmente a mesma da abordagem do sistema prisional que também bane as pessoas da comunidade. Além disso, se a pessoa deixa a comunidade, ela vai simplesmente abusar de pessoas em outra comunidade, e se perderá sua capacidade de manter ele/ela responsabilizado? Devem haver maneiras de manter a pessoa na comunidade, sem a pessoa diretamente afetado por ele/ela ter que ver essa pessoa. O que presumimos que não há nenhum “fora” de nossa comunidade? Outra abordagem que tem sido usada para manter a pessoa lá, mas para sancionar ele/ela, é tal como todos os membros se recusando a mostrar afeto a ele/ela. É também importante que uma comunidade de responsabilidade não se torne uma comunidade que simplesmente permite o abuso. Tal que às vezes os perpetradores regularmente “confessam” seus pecados à comunidade, mas então continuam fazendo a mesma coisa. Outra questão relacionada é ter certeza de que a pessoa é tirada de sua posição naquela comunidade. Deve também ser entendido que qualquer estratégia de responsabilização para fazer alguém mudar seu comportamento é provável de levar anos para que realmente mude a pessoa.

4) Algumas preocupações tem sido levantadas sobre a humilhação pública e a saída. Para alguns grupos, tem sido eficaz. Tem sido relatado que usar essa abordagem em comunidades gays (e isso pode ser verdadeiro em outras comunidades também) na verdade intensifica a violência.

5) Que linguagem devemos usar para descrever aqueles que utilizam violência e aqueles que sofrem dela? A maioria da nossa linguagem é derivada do quadro da justiça criminal – vítima/perpetrador. Existe outra linguagem que seria mais apropriada?

texto não completo, ainda virá versão integral

tradução anonima

Uma mensagem para Homens ‘Anarquistas’

por Molly Tov

Então, dizem que o trabalho de uma mulher nunca termina, e aqui estou eu escrevendo um artigo que um homem deveria estar escrevendo. Começo a achar que isso é verdade mesmo.

As mulheres têm sido analisadas, faladas, contidas, ridicularizadas, caladas, usadas, abusadas, e estupradas por nossos ‘irmãos’ homens auto-intitulados anarquistas e auto-proclamados revolucionários. Todos homens anti-sexistas prontos para pular em cima de um comentário sexista de alguma outra pessoa quando estão em um agrupamento anarquista, mas deixarão escapar quando não estiverem perto de seus amigos não tão ‘P.C.’ (politicamente corretos). Os homens que vocalizam sua agressão contra violadores, mas quando suas amantes dizem não, coerção é simples, e não é um estupro, porque ele é um ANTI-SEXISTA. Há homens que usam conversa anti-sexista para pegar mulher. Os homens que desafiam os outros a chamarem atenção sobre suas merdas e quando alguém o faz, ligam o modo defesa e ele está horrorizado que alguém pudesse dizer que ELE estava fazendo merda, ao invés de pensar sobre a situação e começar a trabalhar nela.

Todas nós sabemos que todos homens são sexistas, assim como todos brancos são racistas, por causa da nossa sociedade, pessoas brancas ainda possuem privilégios sobre pessoas de cor e homens ainda possuem privilégio sobre mulheres, e uma vez nascida neste processo é incrivelmente difícil de quebrá-lo, especialmente quando você esquece de olhar pra si mesm*. Uma vez que homens poêm a tapa em si mesmos de “REVOLUCIONARIO”, eles pensam que uma vez que eles sabem que um problema existe, que não serão mais parte dele, o qual eles são.

Como sempre antes e agora, sexismo é um tema secundário. Parece que tudo está sendo deixado em uma ordem de importância – feita por quem? – É algo como “Primeiro vamos lutar contra o racismo, porque já sabemos surrar os nazis, e então depois talvez vamos pensar sobre sexismo, capitalismo, ou homofobia, qualquer um destes que menos afete nossos privilégios. Depois disso depois que houver tempo, e não mais cerveja, podemos ler sobre especismo, etarismo, ou discapacidade. Se nós somos legais nós vamos aprender um pouco sobre tudo isso para aprimorar nossas habilidades para o próximo encontro.”

Que raios aconteceu com a porra da igualdade? Como foi que alguns “ismos” se tornaram mais importante que outros, você se pergunta? “Como ser maneiro na cena política, e manter tanto privilégio quanto for possível” (busque agora na sua livraria corporativa mais próxima).

É triste quando chega ao ponto em que nós não queremos mais pensar em ninguém mais além de nós mesm*s ou no status quo P.C. O que me traz de novo à conclusão de que todos esses homens ‘feministas’, que se preocupam tão amavelmente com as mulheres (ou ao menos em fodê-las), até que isso afete seu privilégio, se importam. Que eu desafio os AUTO-PROCLAMADOS homens anti-sexistas a realmente pensar sobre, quão longe as palavras que eles falam tão bem, irão talvez tentar perguntar a seus-suas melhores amig*s ou amantes quão sexistas eles são.

Esse artigo ofendeu você já? Você usa seu conhecimento da opressão de outros para fazer uma mudança ou apenas para causar boa impressão? Você se sente desafiado quando uma mulher fala? Já supôs que é ok tocar alguém? Já se incomodou quando uma mulher pediu que você confronte sua merda sexista? ok, foda-se, você escolheu o termo ‘revolucionário’, não eu.

Até que nós comecemos a ver a nós mesm*s como o problema (como parte do problema), e até que tenhamos realmente começado a falar e escutar un*s a outr*s sobre nossos problemas e trabalhar neles, mudança revolucionária permanecerá sempre como um sonho distante.

Então a última questão que fica, quantos artigos levam para que homens comecem a trabalhar na sua merda? Não está você cansada de escutar e ler sobre isso (se eles sequer tomaram algum tempo nisso)?

Talvez Smith e Wesson[1] façam um trabalho melhor??

Ao menos parem de considerarem-se revolucionários. VOCÊ NÃO É MEU CAMARADA.

publicado na revista anarquista ‘Profane Existence’

[1]Esse é um slogan e ao mesmo tempo, uma marca de armas de fogo.

Quem teme aos processos coletivos? Notas Críticas sobre a gestão da violência de gênero nos movimentos sociais

O discurso contra a violência sobre as mulheres forma parte implícita e também explícita do discurso político geral. A violência machista é rejeitada pelo conjunto da sociedade e todo mundo parece reconhecer que é um problema político de primeira ordem. Evidentemente também os movimentos sociais recolhem esses conceitos e mostram abertamente seu próprio discurso anti-sexista. Até aqui perfeito.

Vocês perguntarão por que estamos escrevendo este texto… nós nos perguntamos por que há tantas agressões dentro dos movimentos sociais e por que tanta incapacidade para gestioná-las coletivamente. Nos preocupa o nível de tolerância que há nos espaços políticos ante as agressões e a naturalização/normalização de certas formas de violência. Nos inquieta a incongruência entre discurso e prática e a falta absoluta de sensibilidade a respeito; o que demonstra que é um tema de quarta, se é que chega a considerar-se como tema. Nos enfurece que dentro dos movimentos sociais atuemos como se tivessemos acreditado que as questões que planteia o feminismo já foram assumidas por tod*s e por tanto, já estão superadas e são repetitivas e desnecessárias. E este, apesar das reivindicações básicas de fazem mais de um quarto de século, siguem ainda no tinteiro, e quando as mulheres de todo o mundo sofremos discriminação, abusos e controle de distintos tipos que impedem a liberdade de expressão, pensamento, a liberdade sexual e o movimento. Não somente isso, no contexto de Barcelona há um retrocesso nas práticas coletivas e no discurso a respeito de um passado não tão lejano, fato sintomático de que restam poucos grupos feministas, o que demonstra que, uma vez mais, eram apenas as mulheres as que se ocupavam da violência. Esse retrocesso nas práticas coletivas não é um problema de uns poucos casos de sempre, estamos falando de um problema estrutural e de uma questão de responsabilidade coletiva.

No entanto, existe uma grande resistência a identificar o óbvio, a qualificar como tal as múltiplas caras da violência contra as mulheres, assim como para detectar os casos que podem ser incluídos sob esse nome; esse é um mecanismo magnífico para nadar e guardar a roupa, do tipo “a violência é algo muito ruim, mas isso justamente não é violência”.

A violência estrutural contra as mulheres não é um conceito abstrato próprio dos livros, nem uma coisa da vida de outros, alheio a nosso micro-mundo nos movimentos sociais. A violência estrutural não são os quatro abusos concretos na boca do povo, nem a soma infinita de agressões que cada uma pode constatar ter sofrido. Tampouco são aquelas ações perpetradas por monstros que vêem e apunhalam. O iceberg não é apenas a ponta.

Estamos falando de pautas generalizadas de dominação que atravessam a experiência de ser mulher e todas as esferas da cotidianidade: as relações pessoais, a percepção e o uso do espaço público, o trabalho, a autoridade reconhecida, a percepção dos próprios direitos ou a ausência deles, a relação com o próprio corpo e a sexualidade, e assim um largo etcetera.

A violência estrutural é um mecanismo de controle sobre as mulheres, mas não apenas como forma extrema, ameaça de castigo onipresente que necessita ser provocada o desencadeada, senão que é uma forma de relação normalizada e naturalizada e que portanto pode ser exercida sem a necessidade de justificação.

Mas não estamos fazendo uma dissertação teórica, falemos de casos concretos. No último ano houveram, dentro dos movimentos sociais, numerosas agressões contra mulheres: agressões no seio da relação a dois, violência psicológica na convivência e agressões físicas e sexuais dentro de um espaço político…, e aquelas em que em nenhum caso o agressor haja recebido resposta alguma. Em outro caso recente dentro do contexto político de Barcelona, uma mulher de nosso coletivo sofreu uma violação em sua própria casa por um habitante da mesma, que é um dentre tantos. Dito sujeito passeia tranquilamente durante a semana, alheio a qualquer movimento que pudesse estar esquentando por parte dela, pois – anjinho – nem sequer está consciente de ter feito qualquer coisa má… Mas se equivocava. Ela quis fazê-lo público e propô-lo em um grande coletivo, com ele presente, propondo sua saída imediata. Não apenas porque o ocorrido é uma agressão contra ela, mas porque é uma questão política e coletiva de primeira ordem. E este coletivo toma a decisão de que dito sujeito deve ir-se de casa por uma questão coletiva e política.

Nós valoramos positivamente uma coisa, e é que faz muito, muito tempo que não víamos reagir assim uma mulher, nem a um coletivo, tendo em conta as dificultades e os obstáculos que habitual e sistematicamente encontramos para gestionar grupalmente essas situações. No começo, nos sentimos muito satisfeitas de que essa agressão não tivesse sido silenciada como tantas outras e tivera uma resposta. Neste sentido, este caso é uma exceção. Contudo, a partir daí sucederam-se muitas coisas, mudanças de discurso, de posições e decisões. Com o passar do tempo, o que a princípio foi considerado político terminou relegado ao terreno dos conflitos pessoais. Sete meses depois, se tomou a decisão de que o sujeito regressasse aos espaços públicos da casa, que funcionam como centro social. Más além desta decisão questionável, o que nos parece grave é o processo pelo qual se chega a este resultado, definitivamente semelhante a tantos outros.

Que os grupos (mesmo que seja uma minoria) tratem de buscar uma resposta ante os casos de violência que se produzem em seu seio supõe um passo adiante na reflexão, na gestão coletiva e na erradicação da violência. Mas notamos que em linhas gerais, e a causa da falta de profundidade e sensibilidade a que nos referíamos, as respostas que costumam dar-se desde coletivos mesmos, em nosso entender, nem se aproximam aos mínimos exigíveis, e muitas vezes sofrem de alguns problemas de base que desvirtuam o processo. Falaremos aqui de três deles que nos parecem particularmente graves:

O primeiro, mais recorrente e mais influenciado pelo trato mainstream da matéria, é dar aos casos de violência contra as mulheres um trato de problema privado e pessoal, a ser resolvido entre dois. Quando o que é denunciado como agressão se afronta como uma questão pessoal donde intervém emoções, o que se lê como um assunto turvo onde não há uma verdade, senão duas experiências muito distintas de uma mesma situação confusa, etc., então, perdemos a possibilidade de intervir politicamente, que é do que ao final se trata quando falamos de violência machista.

Há inclusive formas de transladar o assunto a um plano pessoal dentro de uma gestão coletiva. Por exemplo, quando se planteia qualquer trabalho do coletivo como feito por e para a “vítima”, ao invés de uma tarefa que o colectivo necessita para si; quando a intervenção do grupo se planteia como uma forma de mediação entre as “partes afetadas”; ou quando se define o problema como um assunto particular do coletivo a ser resolvido de portas adentro, ou o que é o mesmo, a versão grupal do roupa suja se lava casa. Ou seja, coletivizar não é condição suficiente para fazer política.

Quando tomamos decisões ou posicionamentos políticos, sempre está a possibilidade de receber críticas e entrar em discussões. De fato são muitos os debates que seguem abertos dentro dos movimentos sociais em Barcelona. Mas resulta que diante das situações de gestão coletiva de violência contra mulheres, se levantam muralhas contra as opiniões, críticas e planteamentos externos; se tenta manter a toda custa fora do debate coletivo. Que é o que sucede? Por que tanto medo ao debate? Não será fobia enfermiça às feministas? Ou é que nem sequer lhe estamos dando a categoria de assunto político?

O segundo problema da gestão dos colectivos não feministas dos casos de violência contra as mulheres consiste em trabalhar a partir do enganoso esquema vítima-agressor, próprio da crônica de sucessos. De acordo com este, há um agressor, que é o homem mal, o monstro, a exceção; e uma vítima, a que necessita auxílio. Quando o que tem que ocupar o primeiro papel é um colega ou companheiro, temos muitos problemas para lhe “pôr a etiqueta”, e medo a “demonizá-lo”, porque além disso esse esquema se planteia como um juízo integral sobre a pessoa. Mas, chamemos as coisas pelo seu nome: agressão é o que descreve o fato, agressor é o que a comete. Fazer isso não deveria ser um obstáculo invencível nem tampouco uma opção reducionista que negue outras facetas que possa ter uma pessoa. Os eufemismos e relativismos são um atalho lingüístico para que o entorno do agressor e ele mesmo se sintam mais cômodos com o relato dos fatos, mas por isso mesmo não ajuda a mudar nem a realidade da convivência nem a consciência a respeito dos fatos.

Pelo medo a chamar as coisas pelo seu nome pretendemos encontrar “outras explicações” ou inclusive justificações, do tipo “estava bêbado/drogado”, “ela estava insinuando, ou o estava buscando”, e também a questionar o grau de responsabilidade do agressor sobre seus atos, e assim um largo etcétera. Como consequência da inoperância do esquema, costumamos nos perder em juízos pormenorizados dos sucessos, como se aí residisse a solução. Se traslada a discussão a fatores externos ou a detalhes morbosos dos fatos ao invés de abordá-lo desde a compreensão do estrutural da violência contra as mulheres e a necessidade de conservar uma tensão e atenção constantes para não reproduzí-la. Se não, por que quando o caso concreto nos toca de perto, os princípios que em outras circunstâncias seriam inquestionáveis se desvanecem?

O segundo papel dentro deste esquema se atribui a mulher agredida, com o que se a situa em uma posição de incapacidade: tudo que diga ou faça a “vítima” será lido como reação emocional, nervosismo, impulsividade e defensividade. As atitudes paternalistas e protecionistas com a que ocupa o papel de vítima obstaculizam sua participação em plano de igualdade no processo coletivo.

Então, reconhecer a estruturalidade da violência machista é começar a criar as condições necessárias para evitá-as, e em último lugar responsabilizar-nos quando sucede em nosso entorno. Mas geralmente isso não se dá porque assumir essa responsabilidade é abrir a porta à possibilidade de nos reconhecermos nos sapatos do agressor, o que dá pé à lamentáveis estratégias de corporativismo masculino, nos quais os companheiros guardam silêncio por medo a que suas cabeças rodem junto à dos que estão sendo assinalados abertamente neste momento.

Por último, na prática da gestão coletiva de agressões contra mulheres encontramos uma hierarquização de interesses tácita, e em consequência uma subestimação de tudo que se refere à nós. Quando o que se prioriza por cima de tudo é o consenso, em um grupo onde mais da metade não têm sequer uma reflexão própria prévia e cujo discurso passa por simplificações pré-cozidas próprias de qualquer tele-diário, e além de que estas opiniões se pôem à mesma altura que discursos fundamentados e sensibilidades desenvolvidas a partir de um trabalho prévio, então, nos deixamos arrastar por la tirania do medíocre, que conseguirá desvirtuar os argumentos e rebaixar o discurso a um nível de mínimos. Encadenar palavras grandiloquentes não significa articular um pensamento elaborado.

Sucede que, para começar, só há uma decisão política possível, e é que o agressor desapareça de todos os espaços comuns, sem meias tintas. Mas a priorização do consenso por medo ao conflito também implica que, ante o desafio de tomar uma posição política como coletivo, não haverá lugar para distintas posturas que são irreconciliáveis e excludentes entre si ao redor desta decisão, por muito bem ou mal argumentadas que estejam. Tentar consensuá-las nos leva irremediavelmente a pontos mortos de estancamento sem poder chegar sequer a estes mínimos.

O consenso aqui exposto cumpre duas funções: manter certa coesão no grupo e dar uma ilusão de legitimidade às decisões. Diante do risco de conflito se agudizam os papéis de gênero pré-estabelecidos, que para as mulheres significa cumprir o papel de mediar, pacificar, compreender. Paradoxalmente nos encontramos com que outras mulheres atuam priorizando a unidade do coletivo e o consenso medíocre, como se a agressão a uma de nós não fosse em realidade problema de todas. Isso por outro lado põe a manifesto o arraigado que está as formas heteronormativas em nosso fazer: a definição do que é público e político se faz de acordo com os cânones do universal masculino, e assim as mulheres assumimos discursos construídos neste marco e postos no centro baixo essa lógica e deixamos de politizar questões que nos afetam para não incomodar ou dar a nota, perpetuando a necessidade de aprovação da mirada masculina e as formas de relação entre sexos. Outra vez nos venderam a moto e nos dedicamos a cooperar para que nada mude.

Definitivamente, que vamos fazer ao respeito de todo o exposto? O pior do sexismo se reproduz nos movimentos sociais, mas não estamos assumindo as responsabilidades coletivas para fazer uma gestão adequada da violência de gênero. Como vêem dizendo as feministas há décadas, é necessário fazer políticas as questões que nos afetam às mulheres, e não só de palavra nem como anotação. Se apostamos pelos coletivos mistos, coloquemos ditas questões no centro dando a elas a importância que têm. E é evidente, pois, a necessidade de espaços não mistos e coletivos feministas, assim como de recolher o trabalho e as contribuições que esses grupos vêm fazendo.

Para finalizar, os coletivos que assumem gestionar uma situação de violência de gênero deverão fazer públicos seus posicionamientos e permitir o debate para que sirva de precedente e que assim se produza uma acumulação de experiências (não termos que partir sempre de zero). Do contrário, estamos privatizando, restando transcendência e praticando pseudo política de auto consumo.

LasAfines

Contribuições e comentários a: lasafines@hotmail.com

Cenas Ativistas Não São Espaços Seguros Para Mulheres: Sobre o Abuso de Mulheres Ativistas por Homens Ativistas

por Tamara K. Nopper

Como uma mulher que tem experimentado abuso físico e emocional de homens, alguns dos quais eu tive longos relacionamentos, foi sempre difícil aprender de outras mulheres ativistas que elas estavam sendo abusadas por homens ativistas.

As questões interrelacionadas do sexismo, misoginia e homofobia em círculos ativistas são excessivas, e não é surpreendente que mulheres são abusadas física e emocionalmente por homens ativistas com os quais elas trabalham em vários projetos.

Eu não estou falando abstratamente aqui. Na verdade, eu sei de vários relacionamentos entre homens ativistas e mulheres nos quais as últimas são abusadas se não fisicamente, emocionalmente. Por exemplo, há muito tempo uma amiga minha me mostrou ferimentos em seu braço que ela me disse que foram causados por outro homem ativista. Essa mulher certamente luta emocionalmente, o que é um tanto esperado dado que ela experimentou abuso físico. O que era adicionalmente desolador de ver era como a mulher era evitada por círculos ativistas quando ela tentava falar sobre seu abuso ou o ter abordado. Alguns disseram a ela para ultrapassá-lo, ou para se focar em “verdadeiros” homens bacacas tais como proeminentes figuras políticas. Outros disseram a ela para não deixar “problemas pessoais” entrarem no caminho da “realização do trabalho”.

Eu lutei com a recuperação de minha amiga também. Como sobrevivente de abuso, era difícil encontrar uma mulher que de certa forma era um espectro de mim. Eu buscaria essa mulher, e ela iria ao acaso dizer-me sobre outra briga que ela e seu namorado haviam tido. Eu encontraria a mim mesma evitando essa mulher porque, francamente, era difícil olhar para uma mulher que me recordava muito de quem eu não era há muito tempo: uma pessoa assustada, envergonhada e desesperada que balbuciaria para qualquer pessoa disposta a ouvi-la sobre o que estava acontecendo com ela. Em outras palavras, eu, como essa mulher, tinha atravessado o desespero de tentar sair de uma relação abusiva e necessitando finalmente contar às pessoas o que estava acontecendo comigo. E similarmente a como essa mulher era tratada, a maioria das pessoas, até mesmo aqueles que eu chamava de amigos, se esquivavam de me escutar porque eles não queriam ser incomodados ou estavam lutando com suas próprias lutas emocionais.

A vergonha associada em contar às pessoas que você tem sido abusada, e como eu, centrada em uma relação abusiva, é feita ainda pior pelas respostas que você obtem das pessoas. Ao invés de serem simpáticas, muitas pessoas ficaram desapontadas comigo. Muitas vezes fui dita por pessoas que elas estavam “surpresas” em descobrir que eu havia “me envolvido com esta merda” porque diferentemente de “mulheres fracas”, eu era uma mulher “forte” e “política”. Essa resposta é completamente misógina porque ela nega quão dominante é o patriarcado e o ódio por mulheres e o “feminino”, e ao invés disso, tenta colocar a culpa nas mulheres. Isso é, estamos a ignorar que mulheres estão sendo abusadas por homens e, ao invés disso, enfatiza o caráter de mulheres como a razão definitiva pela qual algumas são abusadas e outras não “se envolvem com esta merda”.

Não posso ajudar a não ser pensar que outras mulheres ativistas que têm sido abusadas, querem seja por homens ativistas ou não, também enfrentam dificuldades semelhantes recuperando-se do abuso. Independentemente da política de alguém, as mulheres podem ser e são abusadas. Qualquer um que se recuse a acreditar nisso ou simplesmente não escuta às mulheres ou não pensa sobre o que as mulheres passam regularmente. E isso é porque eles são simplesmente hostis em reconhecer quão pervasivos e normalizados o patriarcado e a misoginia são – ambos fora e dentro de círculos ativistas.

Mais, várias de nós queremos acreditar que homens ativistas são diferentes de nossos pais, irmãos, antigos namorados e machos estranhos com os quais nós confrontamos em nossas rotinas diárias. Nós queremos ter alguma fé que o cara que escreve um ensaio sobre sexismo e o posta em seu website não o está escrevendo somente para fazer uma boa aparência dele, obter sexo, ou encobrir algumas de suas perigosas práticas com relação às mulheres. Nós queremos acreditar que as mulheres estão sendo respeitadas por suas habilidades, energia e compromisso político e não estão sendo solicitadas a fazer trabalho porque elas são vistas como “exploráveis” e “abusáveis” por homens ativistas.

Nós queremos acreditar que, se um homem ativista fez um avanço indevido ou fisicamente/sexualmente agrediu uma mulher ativista, isso seria prontamente e atenciosamente lidado por organizações e comunidades políticas – e com a contribuição da vítima. Nós queremos acreditar que grupos ativistas não são tão facilmente seduzidos pelas habilidades ou pelo “poder nomeado” que um ativista masculino trás a um projeto que eles estão dispostos a deixar uma mulher ser abusada ou não ter sua recuperação abordada em troca. E nós gostaríamos de pensar que a “cultura de segurança” em círculos ativistas não somente foca nas questões do protocolo do listserv ou usa nomes falsos em comícios, mas na verdade inclui pensar proativamente sobre como lidar com misoginia, patriarcado e heterossexismo ambos fora e dentro de cenários ativistas.

Mas todos esses desejos, todos esses sonhos obviamente não tendem a ser abordados. Em vez disso, eu sei de homens ativistas que trollam espaços políticos como predadores procurando por mulheres que eles possam manipular politicamente ou foder sem responsabilização. Como padres abusivos, alguns desses homens literalmente movem-se de cidade a cidade procurando recriar a si mesmos e encontrar carne fresca no meio daqueles que são infamiliares com sua reputação. E eu tenho visto mulheres ativistas darem seu trabalho e destrezas a homens ativistas (que frequentemente ficam com o crédito) na esperança de que o homem ativista abusivo irá finalmente adquirir seu agir correto ou a apreciará enquanto ser humano.

Enquanto o romance entre ativistas é aprazível, eu acho que é nojento como os homens ativistas usam o romance para controlar as mulheres politicamente e manter as mulheres emocionalmente comprometidas em ajudar esses homens politicamente, mesmo quando essas políticas são piegas ou problemáticas. Ou, em alguns casos, homens ativistas se envolvem em políticas para encontrar mulheres que eles possam envolver em relações abusivas e controle.

E dado que esse abuso trás para fora o pior da vítima, eu tenho visto onde mulheres interagem com outras ativistas (particularmente mulheres) de maneiras que elas não normalmente estariam se elas não estivessem sendo politicamente e emocionalmente manipuladas por homens. Por exemplo, eu sei de mulheres ativistas abusadas que têm espalhado rumores sobre outras mulheres ativistas ou têm-se envolvido em brigas políticas entre seu namorado e outros ativistas.

O que é assustador é que eu sei de ativistas homens que estavam abusando e manipulando mulheres ativistas e, ao mesmo tempo, escrevendo ensaios sobre sexismo ou competição entre mulheres. Às vezes o homem ativista irá redigir o ensaio com sua namorada ativista de forma a obter mais legitimidade. Eu sei de homens ativistas que uma hora citam bell hooks, Gloria Andalzua ou outras escritoras feministas e estão incomodando ou espalhando mentiras e fofocas sobre suas namoradas ativistas em outra. E homens ativistas irão ensinar mulheres a serem menos competitivas com outras mulheres para dissimular seu comportamento abusivo e manipulador.

O que é mais desolador é o nível de suporte que homens ativistas encontram de outros/as ativistas, homens ou mulheres, mas mais habitualmente, outros homens. Não somente as mulheres ativistas têm de confrontar e negociar com seu agressor em círculos ativistas, elas devem normalmente fazê-lo em uma comunidade política que se designa comprometida mas no final não dá importância alguma sobre a segurança emocional e física da vítima. Em muitas ocasiões eu tenho ouvido as histórias das mulheres sobre abuso serem recontadas e reformuladas por homens ativistas de uma maneira hostil e sexista. E quando eles remodelam essa história, eles geralmente o fazem naquela voz, a voz que é falsa, acusatória e zombeteira.

Por exemplo, quando eu estava dividindo com um homem ativista minhas preocupações sobre como uma mulher ativista estava sendo tratada por um homem ativista que mantinha uma posição proeminente em um grupo político, o homem “ouvindo” a minha história disse naquela voz “Oh, ela só está provavelmente brava porque ele começou a namorar outra pessoa” e passou a tirar sarro dela. Ele continuou a me dizer que, enquanto ele “reconhecia” que o homem estava errado, a mulher necessita impor-se ao homem se ela quer que o tratamento pare.

Infelizmente essa marca de misoginia do homem disfarçou-se enquanto o feminismo masculino é muito comum em círculos ativistas dado que muitos homens em geral acreditam que mulheres são abusadas porque elas são fracas ou secretamente querem estar em relacionamentos com homens abusivos. Mais, seus comentários revelaram uma atitude que assume que, se mulheres ativistas têm problemas com homens ativistas, elas estão “chorando pelo abuso” para encobrir desejos sexuais ocultos e raiva por terem sido rejeitadas por homens que “não irão fodê-las”.

Eu acho repulsivo que a segurança física e emocional de mulheres é de pouca preocupação a homens ativistas em geral. Enquanto homens ativistas irão falar da boca para fora sobre como eles precisam ficar com suas bocas caladas quando as mulheres estão falando ou como espaços somente de mulheres são necessários, muito frequentemente pessoas “críticas” e “políticas” não querem confrontar o fato de que as mulheres estão sendo abusadas por homens ativistas em nossos círculos.

Quando essa questão é “abordada”, mais frequentemente do que não, a atenção será dada a “batalhar com” o homem (ou seja, o deixando permanecer e talvez só fofocando sobre ele). Eu tenho visto algumas situações onde homens abusivos tornam-se adotados, assim dizendo, por outros ativistas, que vêem reabilitar o homem como parte de seus projetos e pensam pouco sobre o que isso significa para as mulheres que estão tentando se recuperar. Em alguns casos, o homem ativista abusador foi adotado enquanto a mulher foi rejeitada como “instável”, “louca” ou “muito emocional”. Basicamente, esses grupos iriam antes ajudar um cara frio e calculista que pode “mantê-lo unido” enquanto ele abusa de mulheres ao invés de lidar com a realidade que o abuso pode contribuir para as dificuldades emocionais e sociais entre vítimas enquanto elas trabalham para se tornarem sobreviventes.

E em alguns casos, ativistas mulheres irão evitar ir à polícia porque ela é crítica ao complexo industrial penitenciário, mas também porque outros homens ativistas irão dizer-lhe que ela está “contribuindo para o problema” ao “conduzir o Estado para dentro”. Mas na maioria dos casos, o homem ativista não é castigado pelos problemas que ele criou. Deste modo, as mulheres estão presas tendo que descobrir como garantir sua segurança sem ser rotulada uma “traidora” por seus colegas ativistas.

Enquanto eu sou uma forte crente que nós devemos tentar trabalhar pela cura ao invés da punição em si, eu estou dolorosamente consciente que nós frequentemente damos mais ênfase em ajudar homens a permanecerem em círculos ativistas do que apoiar mulheres através de suas recuperações, o que pode envolver a necessidade de ter o homem removido de nossos grupos políticos. Basicamente, o grupo irá normalmente determinar que o ativista abusador deve ser deixado a se curar sem perguntar à mulher o que ela necessita do grupo para curar-se e ser apoiada em seu processo. Eu sei de vários exemplos de onde mulheres eram forçadas a tolerar a indisposição do grupo para abordar o abuso. Algumas irão permanecer envolvidas em organizações porque elas acreditam no trabalho e, francamente, há poucos espaços para se ir, se houverem, onde ela não sofra o risco de ser abusada por outro ativista ou ter seu abuso não abordado. Outras irão simplesmente deixar a organização.

Eu tenho visto como essas mulheres são tratadas por outros/as ativistas – homens e mulheres – que tratam mulheres friamente ou fofocam que elas são egoístas ou traidoras por deixarem o pessoal entrar no caminho do “trabalho”. Ou, se mulheres ativistas que têm sido abusadas são “apoiadas”, é usualmente porque ela faz “bom trabalho” ou que não abordar o abuso será “ruim para o grupo”. Nesse sentido, a saúde física, emocional e espiritual de mulheres é ainda sacrificada. Em vez disso, o abuso das mulheres deve ser abordado porque, se ele não for, ela pode não continuar a fazer “bom trabalho” para a organização ou pode haver muita tensão no grupo para que ele funcione de forma eficiente. De qualquer forma, a segurança das mulheres não é vista como digna de preocupação em e de si mesma.

Em geral, cenários ativistas não são um espaço seguro para mulheres porque misóginos e homens abusivos existem no interior deles. Mais, muitos desses abusadores usam a linguagem, ferramentas de ativismo e apoio de outros ativistas como meio de abusar mulheres e esconder seus comportamentos. E infelizmente, em muitos círculos políticos, independentemente de quanto nós falemos sobre o patriarcado ou misoginia, mulheres são sacrificadas de forma a manter o “trabalho” ou salvar a organização. Talvez seja tempo de realmente nós só se importarmos que as mulheres ativistas estão vulneráveis a serem manipuladas e abusadas por homens ativistas e considerar que abordar isso proativamente é uma parte integral do “trabalho” que ativistas devem fazer.

Tradução blog delivreacesso.wordpress.com